sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Safados's set


Eis aqui a versão original dos Sete Sonetos de Um Amor Muito Safado. Foi muita coragem minha, reconheço, publicar tais sonetos assim, em 1999, naquela 1ª Antologia Erótica Brasileira, quando morava em Caicó. Depois ainda tentei mudar os terceiro e quarto versos do primeiro soneto para "me escanchei numa jumenta na casa de minha avó", mas acho que os Sete assim perdem muito da impulsividade juvenil de cabra macho sertanejo desafiador. De forma que vou colocá-los como saíram na referida antologia.

Os Sete Sonetos de Um Amor Muito Safado são poemas eróticos, pra maiores - leitores, digo. E são a maior prova de que os poemas precisam de amadurecer. Sim, porque apesar de bons no conteúdo, são os "sonetos" mais desorganizados que eu já vi. Dir-se-iam "sonetos frankstein", pelo quase total desarranjo métrico em alguns versos, e mesmo em todos os versos de alguns poemas, e ainda em certos versos num mesmo poema. Mas aquele jovem cheio de alegria que os escreveu entre as 6h e 8h de uma manhã tão especial que ele quis eternizar celebrando "O amor da Paraíba com Rio Grande do Norte, que só pode ser um amor muito safado", cismando que era poeta e que precisava celebrar tal amor em sonetos, amor aquele mais apropriado a um cordel (os versos queriam me dizer isso! Observe, leitora, o ritmo e a métrica dos primeiros veros: era um cordel que a minha impaciência por escrever rápido, e inexperiência com a práxis, e talvez uma intoxicação amorosa, interpretaram como sonetos). Pois bem, peço que os tome com o nome de sonetos como aquela namorada rica que recebe um presente de um apaixonado plebeu que ela sabe que é uma coisa sem valor econômico, mas pelo empenho que o pobrezinho demonstra ao entregar o presente, pelo esforço que fez para consegui-lo, ela, moça educada que é, finge não notar que a jóia é bijuteria. E até usa, à noite, pra que o suor não tire a cor de ouro falso sobre o latão.

Eles retratam o amor, antiquíssímo, fortíssimo, safadíssimo amor, entre os Estados da Paraíba e do Rio Gnarde do Norte.

E tem epigrafe de Oscar Wilde!

E Um dos poemas tem o título em francês, quando deveria ser apenas "Selvagem"!

Note-se que a cidade de Caicó (onde morei de 1991 a 1999) é vanguarda no sertão do Serido. Vanguarda geral! O açude Itans (itã é a ostra de água doce) é um dos orgulhos da cidade. Como toda cidade sertaneja, mesmo as vanguardista, há sempre forças conservadoras terríveis, expressas pricipalmente em delegados, juízes, e certos autoridades eclesiásticas e de confrarias interioranas, "sábios-barbeiros" sempre de plantão, e o herói da história é autuado e dá depoimento na frente de uma dessas autoridades (nopte-se que não colocquei aspas em "autoridade", porque uma autoridade é sempre uma autoridade em seu terreiro. O tempo me ensionou a ser prudente) pelo crime de ter "desonrado" à moça: Sim, Maricota era cabaço.. Certament5e algum invejoso viu o chamego debaixo do pé-de-cajarana e fuxicou em alguma reunião importante, ou deu entrega às autoridades através de cartas anônimas, formas tradicionais de atuação do conservadorismo em Caicó. Porque Maricota Madalena de Araújo Costa não era pessoa de fazer uma baixaria dessas, nem a família dela. Já as coisas narradas nos sete safados, aí sim. Idem, Idem.

Os primeiros versos, volto a insistir, teriam dado um cordel ótimo pra se cantar num rock pauleira tipo Raimundos dos bons tempos. Daqueles bons tempos.

Ah, a imagem acima é do Arco do Triunfo que fica em frente à Matriz de Sant'Ana, em Caicó. A santa sobre o arco é Sasnta Clara.



SETE SONETOS DE UM AMOR MUITO SAFADO

"Posso resistir a tudo, menos às tentações" - Oscar Wilde.



1. PREÂMBULO

Eu cheguei em Caicó
lá pelas seis e quarenta,
logo empurrei den'da venta
três carreirinhas de pó

e me mandei pro forró
que já tava era animado:
na pista corria gado,
cá dançava brocoió.

Maricota olhou pra mim
com seu olhar feiticeiro,
aquele olhar bem matreiro

que só tem bichota ruim...
- Dancemo só a primeira,
mas trepemo a noite inteira!


2. ARREDORES

Ali por perto do rio
tem um pé-de-cajarana
que é lugar muito bacana
pra levar o putario.

Maricota era donzela,
de moça belo pedaço:
derreteu-se que nem vela
quando perdeu o cabaço.

Gostou tanto a safadinha
que demos outra em seguida:
botei na boca e bundinha

da molecota atrevida...
Gemia toda faceira,
a bichota trepadeira...


3. TEMOR E PROVOCAÇÃO

- Doutor, não sou cabra mau
e vou-lhe contar tudinho:
ao chegar lá no cantinho,
botei pra fora meu pau.

Ela olhou encabulada
e nem bem dizia: - "Não!",
a molecota assanhada
aperta o bicho na mão.

Eu falei assim: - "Só quero
que me bata uma punheta:
Pra evitar lero-lero,

não como sua boceta!"
Mas a danada era louca
e meteu a rola na boca...


4. TENTAÇÃO

- Doutor, eu resisto a tudo,
mas menos às tentações,
e já disse, não iludo
em minhas declarações.

Pois algo em mim ocorreu
ao sentir a boca ardente
babando e se engasgando
com meu mastro duro e quente.

Ao meu Santo Padim Ciço
na hora eu pedi perdão,
pois vendo o belo serviço

feito com dedicação,
no chão deitei Maricota
e lhe empurrei na xoxota.


5. MOMENTO DE LIRISMO

Qual uma flor se abrindo
na mais bela das manhãs
para o beija-flor bem-vindo
numa ilha do Itans,

delirando em meus braços,
rubra, gemendo, em suaves contorções,
e cercando-me de abraços,
- Um polvo agarrado à presa a vibrar de emoções -

acolheu-me a minha amada
por sobre a areia fina de uma noite enluarada...
Logo depois, a natureza de fêmea, feliz de ser abatida,

quis dizer ao seu amo que se achava vencida,
e debruçada sobre a espada que a rasgara sem perdão,
de novo a engoliu, demonstrando sua eterna gratidão!


6. SAUVAGE

E vendo a amada a brincar com o meu membro
em um suave e gostose vai-e-vem,
veio-me um ímpeto selvagem que bem me lembro,
de querer tudo, de ir muito mais além.

Pu-la de quatro - a posição traiçoeira! -
e, num impulso, com força, para doer,
empurrei fundo em sua parte traseira,
fazendo todo o seu corpo estremecer.

Ela babou e encheu a boca de areia,
virou o rosto para trás e gritou: "Não!",
mas em seguida, berrou: "Eu gosto é de peia:

Mete com força em tua égua, garanhão!"
E quanto mais eu ia com sede ao pote,
mais ela uivava, gemia, e dava pinote.


7. CONSEQÜÊNCIAS

Desde menino que eu vinha da Paraíba
com o meu pai, que era um simples mangaeiro,
vender banana, manga, coco e macaíba
cá nessa terra, a esse povo hospitaleiro.

E o meu velho - que já teve a boa Morte -
sempre dizia, ao ver o filho todo afoito e animado
com a beleza das moças: "Tenha cuidado
com o tal bicho-de-saia do Rio Grande do Norte."

Não é que agora, depois que houve o incidente,
uma certa parte de meu corpo está doente?!
- Não levem a mal, pois eu ponho com carinho:

É doente a minha glande
por moça do Rio Grande
do buraco apertadinho!

Antônio Adriano de Medeiros
Caicó, 06 a 09 de julho de 1997.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

soneto imaginário


SONETO IMAGINÁRIO

Guarda um soneto para os dias tristes!
Nos dias cinzentos, longos, solitários,
quando de lutar já quase desistes,
lembra-te de teu soneto imaginário.
Deixa que ele tenha a sua existência
não no mundo das formas, mas dos sonhos.
Guarda-o na memória junto à aparência
dos teus que partiram pro mundo medonho.
Faze com que seja tua prece particular:
mais que um "Pai Nosso", um "Daimone Meu".
E rogue para que possa sempre despertar
o que há de melhor e mais alto em teu
ser. E quando um dia triste te deixar descrente,
repete o teu mantra indefinidamente.

Antônio Adriano de Medeiros
Natal, jan 2011