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Meu cordel puxa o cordão
Eu vou fazer um repente
Na forma mais consagrada
Que no Nordeste é cantada,
Cultura sempre presente,
Um cordel bem consciente
Como o feito no sertão.
A bênção, Frei Damião,
Que eu sou um homem de Fé.
Arreda o pé, Lucifé,
Que tu num cabe aqui, não!
Vou buscar inspiração
Nas coisas da natureza,
Dali extrair beleza
Pra despertar emoção,
Tocando o coração
Do meu leitor dedicado.
Esse verso improvisado
Que tô começando agora,
Quando romper a aurora
Queira deus tenha acabado.
Por isso, logo, ligeiro,
Digo que sou sertanejo,
Mas que saiu lá do Tejo
O meu sangue aventureiro.
Antes de ser brasileiro
O destino já sabia
Que pro Reino da Poesia
Eu era predestinado,
E meu choro já foi rimado,
No parto em Santa Luzia.
Casimiro de Abreu
Quando eu só tinha oito anos,
Adentrou pelos meus planos,
Com todo o meu ser mexeu;
Algo em mim ele acendeu
Já naquela tenra idade,
Sua sensibilidade
Tocou-me quando menino,
A ele devo o destino
De poetar de verdade.
Depois disso, Mestre Augusto
Falou dos anjos caídos,
Baudelaire cantou bandidos
E me pregou grande susto.
Também devo erguer um busto
Pra todos meus professores
Pois eles são os senhores
Do meu saber literário,
O meu gênio carbonário
Hoje lhes oferta flores.
Mas quando era um menino,
Disseram: "Vai ser doutor!..."
Não que eu não dê valor
A esse nobre destino,
Porém digo de inopino
Que ser poeta primeiro
Foi meu sonho verdadeiro.
Mas ser poeta é arriscado,
E fui desestimulado
Porque não dava dinheiro.
Reconheço, com agonia,
O dilema em que me acho:
Ai meu Deus e ora diacho,
Eu quero é fazer poesia!
Porém devo, todo dia,
Sair vestido de branco,
Atender o doido e o manco
E com responsabilidade.
Poesia quer liberdade,
Mas vou suportando o tranco.
Peço desculpas, doutores,
É bem nobre o nosso ofício,
Mas meu cérebro em estrupício
Quer que eu diga aos senhores
Que me sobram dissabores
Com tão nobre convivência.
Eu admiro a Ciência,
Mas meu destino é a Arte!
Compreendam meu aparte,
Tenham santa paciência!
Deixando as vísceras de lado
E pegando a minha pena,
Vou logo esboçando a cena
Pra desenhar com o teclado.
O verso é que é meu arado,
Nasci pra plantar cultura,
Poetar foi minha jura
E vou seguindo esse mote,
Sou cobra que dá o bote,
Veneno meu não tem cura!
Pra meu verso venenoso
Antídoto é desconhecido,
Mas quem por ele é atingido
O que sente mesmo é gozo,
Desfruta do valioso
Mundo do belo e da arte.
Não procure em outra parte
Pro meu verso salvação,
Pode haver imitação,
Mas igual, nem lá em Marte!
Já ouvi o Malazarte
E coco dancei na praia,
Gosto de um rabo-de-saia
E também li Jean-Paul Sartre.
Muito desfrutei da arte
Dos meus bons cabras da peste,
De tudo que há no Nordeste
Confesso que sei um pouco,
Inclusive o mestre louco,
O Zé Limeira inconteste.
A fogueira de São João
Pra mim é a festa mais bela,
Não existe igual a ela
No litoral ou sertão.
O leitor, meu caro irmão,
Conhecerá tal folia?
Vão lá em Santa Luzia,
Em junho, no vinte e três,
Que eu mostro a todos vocês
Por que sei fazer poesia!
Enquanto queima a fogueira,
A molecada endoidece,
Só se vê o sobe e desce
De fogos e bebedeira.
Se a mais bela beradeira
Me chama para dançar,
Eu conjugo o verbo amar
Num modo desconhecido,
E um repente esquecido
Pode se manifestar.
Também brinquei Carnaval
Na cidade de Olinda.
Dali eu me lembro ainda
De uma fulana de tal
Que tinha um olhar fatal
E um corpo cheio de encantos...
Não esqueço os Quatro Cantos,
Elefante e Pitombeira,
O Boi e a saideira...
Meus prazeres foram tantos!
A mulher é feiticeira
Por obra da natureza,
Porque possui a beleza
Na carne que é traiçoeira;
Do amor é guerrilheira
E sofre mesmo um bocado.
Um amigo meu, coitado,
Hoje vive constrangido,
Mas é melhor ser traído
Do que nunca ter amado.
A desgraça em qualquer diário,
Amigo, é a solidão;
Ser entregue à podridão
De envelhecer solitário
É ser pregado no calvário
Da amargura e do remorso.
Contra isso eu me esforço
Fazendo minha poesia,
Batalhando todo dia
Por um bom futuro eu torço.
E vou findar meu labor
Citando a Filosofia:
De que vale a poesia
Que rima amor com dor?
O verso pra ter valor,
Tem que falar de esperança,
De música, flor e criança,
Orquestrando a rima rara.
Leitora dileta e cara,
Me honras com a contradança?
Antônio Adriano de Medeiros.
****
Eu vou fazer um repente
Na forma mais consagrada
Que no Nordeste é cantada,
Cultura sempre presente,
Um cordel bem consciente
Como o feito no sertão.
A bênção, Frei Damião,
Que eu sou um homem de Fé.
Arreda o pé, Lucifé,
Que tu num cabe aqui, não!
Vou buscar inspiração
Nas coisas da natureza,
Dali extrair beleza
Pra despertar emoção,
Tocando o coração
Do meu leitor dedicado.
Esse verso improvisado
Que tô começando agora,
Quando romper a aurora
Queira deus tenha acabado.
Por isso, logo, ligeiro,
Digo que sou sertanejo,
Mas que saiu lá do Tejo
O meu sangue aventureiro.
Antes de ser brasileiro
O destino já sabia
Que pro Reino da Poesia
Eu era predestinado,
E meu choro já foi rimado,
No parto em Santa Luzia.
Casimiro de Abreu
Quando eu só tinha oito anos,
Adentrou pelos meus planos,
Com todo o meu ser mexeu;
Algo em mim ele acendeu
Já naquela tenra idade,
Sua sensibilidade
Tocou-me quando menino,
A ele devo o destino
De poetar de verdade.
Depois disso, Mestre Augusto
Falou dos anjos caídos,
Baudelaire cantou bandidos
E me pregou grande susto.
Também devo erguer um busto
Pra todos meus professores
Pois eles são os senhores
Do meu saber literário,
O meu gênio carbonário
Hoje lhes oferta flores.
Mas quando era um menino,
Disseram: "Vai ser doutor!..."
Não que eu não dê valor
A esse nobre destino,
Porém digo de inopino
Que ser poeta primeiro
Foi meu sonho verdadeiro.
Mas ser poeta é arriscado,
E fui desestimulado
Porque não dava dinheiro.
Reconheço, com agonia,
O dilema em que me acho:
Ai meu Deus e ora diacho,
Eu quero é fazer poesia!
Porém devo, todo dia,
Sair vestido de branco,
Atender o doido e o manco
E com responsabilidade.
Poesia quer liberdade,
Mas vou suportando o tranco.
Peço desculpas, doutores,
É bem nobre o nosso ofício,
Mas meu cérebro em estrupício
Quer que eu diga aos senhores
Que me sobram dissabores
Com tão nobre convivência.
Eu admiro a Ciência,
Mas meu destino é a Arte!
Compreendam meu aparte,
Tenham santa paciência!
Deixando as vísceras de lado
E pegando a minha pena,
Vou logo esboçando a cena
Pra desenhar com o teclado.
O verso é que é meu arado,
Nasci pra plantar cultura,
Poetar foi minha jura
E vou seguindo esse mote,
Sou cobra que dá o bote,
Veneno meu não tem cura!
Pra meu verso venenoso
Antídoto é desconhecido,
Mas quem por ele é atingido
O que sente mesmo é gozo,
Desfruta do valioso
Mundo do belo e da arte.
Não procure em outra parte
Pro meu verso salvação,
Pode haver imitação,
Mas igual, nem lá em Marte!
Já ouvi o Malazarte
E coco dancei na praia,
Gosto de um rabo-de-saia
E também li Jean-Paul Sartre.
Muito desfrutei da arte
Dos meus bons cabras da peste,
De tudo que há no Nordeste
Confesso que sei um pouco,
Inclusive o mestre louco,
O Zé Limeira inconteste.
A fogueira de São João
Pra mim é a festa mais bela,
Não existe igual a ela
No litoral ou sertão.
O leitor, meu caro irmão,
Conhecerá tal folia?
Vão lá em Santa Luzia,
Em junho, no vinte e três,
Que eu mostro a todos vocês
Por que sei fazer poesia!
Enquanto queima a fogueira,
A molecada endoidece,
Só se vê o sobe e desce
De fogos e bebedeira.
Se a mais bela beradeira
Me chama para dançar,
Eu conjugo o verbo amar
Num modo desconhecido,
E um repente esquecido
Pode se manifestar.
Também brinquei Carnaval
Na cidade de Olinda.
Dali eu me lembro ainda
De uma fulana de tal
Que tinha um olhar fatal
E um corpo cheio de encantos...
Não esqueço os Quatro Cantos,
Elefante e Pitombeira,
O Boi e a saideira...
Meus prazeres foram tantos!
A mulher é feiticeira
Por obra da natureza,
Porque possui a beleza
Na carne que é traiçoeira;
Do amor é guerrilheira
E sofre mesmo um bocado.
Um amigo meu, coitado,
Hoje vive constrangido,
Mas é melhor ser traído
Do que nunca ter amado.
A desgraça em qualquer diário,
Amigo, é a solidão;
Ser entregue à podridão
De envelhecer solitário
É ser pregado no calvário
Da amargura e do remorso.
Contra isso eu me esforço
Fazendo minha poesia,
Batalhando todo dia
Por um bom futuro eu torço.
E vou findar meu labor
Citando a Filosofia:
De que vale a poesia
Que rima amor com dor?
O verso pra ter valor,
Tem que falar de esperança,
De música, flor e criança,
Orquestrando a rima rara.
Leitora dileta e cara,
Me honras com a contradança?
Antônio Adriano de Medeiros.
****
eu honro com uma vénia, caro Adriano, Mestre Poeta.
ResponderExcluirGrande abraço
Jorge Vicente
Não consegui colocar comentário no poema dedicado ao já saudoso Aníbal Beça...faço-o agora e aproveito para te dizer que me agrada o teu blogue.Foi uma boa ideia criá-lo. Um abraço pelo que já aqui deixaste.
ResponderExcluirAmélia