UM SONETO AO PÉ DO OUVIDO
A mão vira a ampulheta. O verso finge
o movimento preciso do fio de areia,
e já de novo a ancestralíssima Esfinge
vem encarar-me com a sua cara feia.
Mas não mais a temo: já não há enigmas.
Até mesmo se o tido como ardiloso Satã
viesse hoje tentar-nos com coisas malignas,
a humaníssima Eva - nossa igual, nossa irmã -
o poria no bolso não só com seus encantos,
mas com outros atributos que também são tantos
na humana alma, e que o poeta se escusa
de nomear - ele que também decerto os usa.
- A cumplicidade é geral, meu bom leitor!
Ou ainda finges que não és um fingidor?
Antônio Adriano de Medeiros