domingo, 22 de abril de 2012

às sombras de Hiroshima



 Na foto, sombras que ficaram, subitamente abandonadas pelas suas imagens causadoras, quando da explosão da Bomba de Hiroshima. 



HÁ UMA SOMBRA EM HIROSHIMA

A Sombra
- aquela sombra! -
sombria, assombrosa sombra
- Sombra de Todas as Sombras! -
sombra solitária que sobrou,
sóbria e sonâmbula,
sobre os destroços da saudade
na cidade que soçobrou
sob o sabre cínico e surreal
de sinistro samurai.

- Insana sombra de nada
- Ó Sombra de um Nada-Dor! -
onde andará o teu outrora inseparável
companheiro de jornada?
Me diz, sombra solitária:
onde está teu causador?

- "Já está no Caos. A Dor...

Quando o pássaro de fogo
botou no azul do Céu
o Ovo da Destruição,
e estrondou o terrível espetáculo
do clarão esplendoroso das labaredas infernais,
e o calor pulverizou o aço e os ossos,
havia alguém junto a mim...

Agora, já está no Caos. A Dor...

Quando o avião botou o ovo iônico,
demente semente sem mente
Daquilo
que penetra nos poros da Substância,
um coice descomunal
dos mais tempestuosos ventos
das Procelas de Satanás,
a razão do meu existir foi arrancada de mim!..."

- Ó Sombra fútil e tão útil,
Sombra do Ódio e do Amor,
Sombra de Deus e Capeta,
Sombra Clara e Sombra Preta
- Sombra de-toda-e-sem-cor! -
quem me dera ser Poeta
para cantar de teu valor!

Mas está no Caos a dor,
o teu caso e tua dor:
teu causador e a causa
de tua indizível dor...


Antônio Adriano de Medeiros
Natal, 21 de abril de 2012