terça-feira, 5 de junho de 2012

do lirismo sertanejo: os versos tolos



Pois bem, como vem chegando A Festa de São João, e realmente existe o sério risco de que o blogue não seja atualizado antes do  assim chamado Dia dos Namorados, em verdade Véspera de Santo Antônio, dito o casamenteiro, vamos maquiando aqui a casa com versos bonitinhos, bem comportados, até líricos, pra não dizerem que só falei das dores. 

O primeiro poema, com quatro haikais, retratam a feliz época da "pegada de inverno", com diversos sentimentos da alma sertaneja, inclusive o medo dos trovões; o último haico é exagerado, vez que a Fogueira  sertaneja não tem essa finalidade mitológica de aplacar a ira dos deuses, isso era coisa de gregos antigos, sendo que, numa visão humanística, a nossa fogueira seria - a fogueira dita de são joão - para aquecer a noite da chegada do frio ao hemisfério Sul (informação de Thomas Mann em A Montanha Mágica). O segundo poema é uma fantasia sobre a pegada de inverno, o amor, e a Lua. E o terceiro é um soneto onde há o retorno da velha esperança amorosa, uma recaíds, digamos assim.

absaam






NOSTALGIA SERTÂNICA

Frio no sertão,
cheiro de terra molhada
em tarde de lua.

Já longe os marrecos
que passaram de manhã,
um grupo cantante.

Os trovões à noite
vão grunhir ameaçadores,
gritos dos deuses?

Se não chover mais,
aplacaremos a ira
com uma fogueira.


Antônio Adriano de Medeiros




FANTASIA SERTÂNICA

Quando o Inverno pegou
a Lua Cheia secou
de tanta chuva que era.

- E aqui virou primavera!

E enquanto minguava a Lua
eu vi Luciana nua
espiando da janela.

- Bem mais que a Lua era bela!


E nem bem a Lua sumiu
uma Lua Nova surgiu
no meu céu fantasiado.

- E eu me vi apaixonado!

E um desejo fremente
foi em meu quarto crescente
a partir daquele mês:

- Enchê-la de gravidez!


Anônio Adriano de Medeiros




VERSOS TOLOS

Nuns versos sem valor me desespero
na angústia maculada de ser louco,
e rindo sem motivo, achando pouco,
da poesia a mastigar farelos.

Os versos que te dou não são mais belos
que aqueles que decerto outro cantou
aconchegado em meio a teus cabelos,
os versos tolos, versos de amor.

Por versos de amor ainda espero
na curva calma e franca do carinho;
o albatroz agora quer um ninho.

Quem sabe ainda um luar amarelo
nos ombros de mulher quase biônica?
Depois a explosão da bomba atômica.

(A alma, velha e louca, queda atônita.)


         Antônio Adriano de Medeiros