segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Soldado Perfeito de Stálin e o fim do Zoológico Fantástico



Haverá algo de inconsciente na demora da aceitação de uma obra como completa pela mente complexa de um poeta, de um pintor, um músico, compositor, de um artista - um esteta?

Pois não é que decidi - melhor dizendo, precisei! - de última hora, quando se está a fazer a revisão ortográfica do Zoológico Fantástico, modificar o seu final, incluindo ali um último poema?

Foi lendo a revista Playboy de julho de 2012 que fiquei sabendo do Soldado Perfeito de Stálin. Que na Década de 20 do Século XX, na União Soviética, logo depois da Revolução Bolchevique, Stálin encomendou ao biólogo Ilya Ivanov a criação de um soldado perfeito, "insensível á dor, indiferente à qualidade daquilo que vai comer", e que fosse consciente de seu dever e completamengte obediente a seus superiores por uma determinação biológica, genética, constitucional. E que tal Homem Novo seria possível do cruzamento do ser humano... com o macaco!

Ilya Ivanov primeiro emprenhou três macacas por inseminação artificial. Mas deu trabalho! As macacas queriam carinho... Tá pensando o quê? Mas as pobres macacas prenhes de humanidade acabaram morrendo, doentes, parece,  ou uma morreu de acidente... Mas não vem ao caso, sei que morreram as grávidas do Homem Novo. Ilya Ivanov então desistiu de emprenhar mães descuidadas e, armado com um Oragotango atlético e decerto bem dotado e inteligente, quis engravidar mulheres patriotas para criar o Novo Homem... Não é que algumas felizes candidatas se ofereceram para criar um ser que acabasse com a "burguesia cristã"? Não se sabe ao certo como seria a fecundação, se por meio artificial (mais provável, reconheço), ou natural... No poema a seguir, um cordel satírico, a coisa seria pelo meio natural...

Também, em um certo momento do poema, é como se o própio cientista soviético Ilya Ivanov tomasse a palavra, ora empolgado, ora aflito, ora raivoso contra a birguesia cristã...

Quis incluir o poema como final do Zoológico Fantástico pelo seguinte: o livro assim não toma partido, ou, se o faz, é pelo mundo civilizado, onde há. decerto, Esquerda e Direita.  É que, do pouco que li até hoje, sei que a palavra francesa "bourgeois", burguês, quando surgiu para designar o burguês, habitantes dos burgos, das primeiras cidades, designava assim o homem urbano, aquele de maneiras e gestos educados, o civilizado. E não é que "peuples policés", em oposição a "peuples nom policés" (não lembro se tem hífem), para designar a povos policiados e não-policiados, na verdade designavam os povos civilizados e os selvagens? Pois só é civilizado quem dispõe de Estado capaz de proteger seus cidadãos e suas instiruições. Tal Revelação me foi feita no livro Reflexões Sobre a Tortura, um marco da Filosofia e do Direito, que derrubou a ideia de que provas cosneguidas sob tortura seriam aceitas pela Justiça, livro escrito pelo filho de um Juiz Inquisidor e que só foi piblicado após a morte de seu autor, por razões bem óbvias.

Pois que o Zoológico Fantástico surja portanto com tal lembrança e advertência final, que não vale a pena mais retornar a ele. Nem pro leitor, nemm para mim, certamente, porque, enfim, "demorou!" (com sotaque carioca).

Abraços,
Antõnio Adriano de Medeiros


ZOOLÓGICO FANTÁSTICO



O SOLDADO PERFEITO DE STÁLIN


No Século Vinte o homem
teve um sonho muito estranho,
uma ovelha diferente
criar no próprio rebanho.
E se convenceu o povo
que viria um Homem Novo,
maior que o próprio tamanho.

De sangue um terrível banho
a humanidade viu,
pois Hitler na Alemanha
ao seu povo iludiu,
e agiu de forma indecente
destruindo o diferente
conforme um louco perfil.

Na Rússia outro sonho vil
enganou a sua gente:
se jurou criar um Homem
frugal e eficiente.
Ser digamos mais barato,
que aceitasse qualquer prato;
feliz e obediente.

Stálin, seu Presidente,
com o Homem insatisfeito,
julgava que a Liberdade
era um terrível defeito,
e chamou um cientista,
lhe dando a completa lista
de um tal "soldado perfeito".

E seria tal sujeito
ser meio anestesiado.
Sentiria menos dor,
comia qualquer bocado.
Só do dever consciente,
satisfeito e obediente
- um escravo retardado!

Para o Perfeito Soldado
o Homem, só, era fraco,
e assim ao cientista
Stálin deu um pitaco:
"- Ele só será possível
do cruzamento incrível
do Homem com o Macaco!"

Cabra do balacobaco!
Grande líder genial!
Corrigir o grande erro!
Reparar o Grande Mal!
Voltar na evolução
seria a Revolução:
o novo era o ancestral!

Pois se a família real
já foi toda assassinada,
destruamos de uma vez
a raça civilizada:
Burguesia é um acinte!
Nobreza não tem requinte!
Voltemos à Macacada!

- "Macaca foi emprenhada
por meio artificial.
Outra macaca também.
Uma terceira... Legal!
Vem macaco como o diabo!
Em pouco tempo eu acabo
com o Homem - Grande Mal!

Oh, como esse mundo é mau!
Tão bem que a coisa ia!
As três grávidas estão mortas...
Traição... Feitiçaria...
Não restou nem uma só!
Só pode ser catimbó
da tal da Virgem Maria!

Mas sempre há outro dia...
Da Providência eu mango!
Pensam que sou cientista
que tem cérebro de calango?
- Para acabar com o burguês,
mulheres, só se vocês
derem a um oragotango!"

Uma quis dançar um tango.
Outra diz - "Ele é bonito!"
Uma terceira o beijou.
Outra diz: "Pau de granito!"
E mais uma: - "Que orgia!
Pra acabar com a burguesia
eu sacrifico o priquito!"

Mas que azar infinito!
Veja, camarada meu:
A Trepada Elo Perdido
brochou, não aconteceu.
Qual vítima de Maldição,
Gutango, o garanhão,
adoeceu e morreu...

Uma chora. Enlouqueceu
outra que o queria tanto...
Umas dez juram fazer
um oceano de pranto...
Outra trai seu coração
e berra: - "Tem nada, não:
Gutango vai ser um santo!"

Mas sob o escuro manto
pesado da Ditadura
não se admite falha,
o governo é linha-dura.
O ditador comunista
condena o seu cientista
ao exílio, à amargura.

Ele fez triste figura,
falhou na sua missão.
O governo soviético
não lhe concedeu perdão.
E o macaco soldado,
se não estou enganado,
só quem viu foi Lampião!

Mas já não lhe dou razão.
Tal verso não é direito.
O soldado nos protege,
merece o nosso respeito.
E eu digo, sem engano,
que sendo honesto e humano
já soldado perfeito.

Sei que o Homem tem defeito,
mas eu o prefiro assim.
Respeito as falhas dos outros,
sei que falhas há em mim.
Que o homem coma a mulher:
é melhor comer filé
que vir a comer capim!



                 Antônio Adriano de Medeiros
                 Natal, 23 de agosto de 2012








2 comentários:

  1. Esta foi a última postagem de Adriano aberta a comentários neste blog, e aqui faço minha pequena homenagem ao amigo querido, doutor e poeta verdadeiro.
    Adriano se foi, levado pelas asas de seu amigo Sabiá para o reino das criaturas fantásticas, sob a graça divina reservada aos puros de coração.
    Sua passagem para a eternidade aconteceu no dia 19 de novembro de 2012, com quase 50 anos.
    Resta-nos mantê-lo vivo em nossos corações e preservar sua memória através da grande arte e da coragem com que escrevia sua poesia.
    Recebi hoje o santinho de sua missa de 30 dias, enviado pela irmã dele, Deusa, em que está escrito a Oração de São Francisco, que aqui transcrevo com carinho, junto com a eterna saudade de todos que o conheceram e amaram.
    Repouse em paz, meu amigo Nanin!

    ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

    Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
    Onde houver ódio, que eu leve o amor;
    Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
    Onde houver discórdia, que eu leve a união;
    Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
    Onde houver erro, que eu leve a verdade;
    Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
    Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
    Onde houver trevas, que eu leve a luz.
    Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
    Consolar, que ser consolado;
    compreender, que ser compreendido;
    amar, que ser amado.
    Pois, é dando que se recebe,
    é perdoando que se é perdoado,
    e é morrendo que se vive para a vida eterna.

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  2. Estou a espera do santinho que a irmã de Adriano deixou mas vim logo aqui prantear a memória do meu grande amigo, talvez o maior, da minha vida adulta, alguém que eu considerava um irmão mais novo(muito embora os poucos anos a mais que tenho não me dessem a sapiencia que ele sempre demonstrou em quase tudo que conversavámos. Mesmo decorridos 3 meses ainda sinto como se não tivesse acontecido e ao abrir o correio eletronico fico meio segundos imaginando receber as mensagens diarias dele. A ultima que recebi foi na sexta anterior ao triste domingo. Depois só o duro golpe. Não sou religioso, mas transcrevo aqui e cantarolo com lágrimas nos olhos a oração de São Francisco. Requiescat in pace meu querido amigo Adriano.

    ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

    Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
    Onde houver ódio, que eu leve o amor;
    Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
    Onde houver discórdia, que eu leve a união;
    Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
    Onde houver erro, que eu leve a verdade;
    Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
    Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
    Onde houver trevas, que eu leve a luz.
    Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
    Consolar, que ser consolado;
    compreender, que ser compreendido;
    amar, que ser amado.
    Pois, é dando que se recebe,
    é perdoando que se é perdoado,
    e é morrendo que se vive para a vida eterna.

    Oswaldo

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