quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

MOLOCH



MOLOQUE

"Ele está em meio de nós"

Seria pelas mãos das próprias genitoras
que se atiravam inocentes recém-nascidos
no ventre incandescente de Moloque, deus
terrível, para que assim o déspota mantivesse
controlado o seu poder destruidor; gentis
sacerdotes do deus faziam soar bem alto
as suas cornetas para que os gritos de dor
dos infantes não chegassem aos ouvidos
daquelas boas mães, e elas assim pudessem
melhor se entregar às orgias que sempre
se seguiam aos terríveis rituais purificadores.
Teria sido Moisés, o príncipe egípcio, o homem
que aboliu tal prática tão estranha ao tão cantado
amor materno. Mas Moloque voltou, decerto
porque os deuses, apesar de terríveis, são imortais,
e alguns milênios depois eram sacerdotes os que
sacrificavam inocentes ao fogo em nome da Santa
Madre Igreja, e dessa vez não era mais necessário
que as cornetas fossem tocadas a abafar os gritos
das vítimas, porque o terror era norma e exemplo,
e Moloque decerto gozava às escâncaras, duplamente,
naqules tempos terríveis da Santa Inquisição. Assim,
não nos esqueçamos que o deus terrível está vivo,
adormecido no coração dos homens e mulheres de fé,
e que decerto nunca será tarde para que desperte.

Antônio Adriano de Medeiros
dec 2010

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