domingo, 11 de novembro de 2012

um soneto para Barack Obama






Convém louvar coisas boas, e a meu ver a reeleição do Presidente Barack Obama é algo a ser louvado. O mundo anda muito doente, tanto que havia uma mal mascarada torcida contra, dos que desejam outra coisa que não a paz cotidiana, a paz atual, imperfeita decerto, mas tão humana, e a mão, a presença de Obama ali onde ele merece estar, é algo a nosso ver de fundamental importância no caldeirão fervente do planeta dos homens que andam a exigir direitos com fúria ímpetos incendiários. Ganha um tanka também, o Presidente Obama, No tanks - Many Thanks!, além do Soneto a Barack Obama, que por sinal tem um estrambote, um verso a mais, que foi necessário.

Escrevi mais três tankas, além do de Obama, o último dos quatro. O primeiro, Aurora, sobre o momento mágico quando, segundo Homero, "Aurora de dedos de rosa surge matutina". Interessante que Elomar F Melo nos fala, nas visões de Dassanta do Auto da Catingueira, da "Meia-Noite da Hora Inselente" (sic, sendo que inselente aí, por excelente, menciona as Excelências, cantigas para defuntos no sertão, além de signficar "importante", "egrégio"). A Meia-Noite da Hora Inselente seria um momento da Noite Escura em que tudo pararia... Então Aurora, seria a hora em que renasce o movimento que traz a Esperança, pelo desabrochar da flor, repercutindo inclusive nas Profundas Inernais. Do tanka Esplendor, um tanka com elementos cabalísticos,  digo que tem coisas que é melhor nós mesmos, caso o queiramos, -  buscarmos uma melhor compreensão -  essa foi uma das coisas que aprendi em breves leituras de Cabala verdadeira, que o que apreendo ali serve apenas para mim, e que não devo nem posso impor aos outros, nem fazê-los entender a meu modo. E finalmente vem o Tankancer, que achei um achado (Caranguejo, Câncer), e em seguida o tanka para Barack Obama com brevíssimas menções às  repercussões de sua reeleição no Reino do meu Zoológico Fantástico.

Mas aí me veio o desejo de relembrar a tão justamente festejada Eleição de Lula, o Prinspe Sapo, e tive que preparar mais um brinde. O poema é o penúltimo cordel do Zoológico Fantástico, no livro apresentado da seguinte forma:

"E assim sendo, para enfim dar por encerrado o Zoológico Fantástico, não poderia faltar um brinde ao Prinspe Sapo: afinal, há quem diga que a eleição daquele a quem Brizola um dia alcunhou de Sapo Barbudo foi certamente um divisor de águas: não custa crer que o zoológico acabou ali, e que a Terra Papagalli deu um grande passo para ser, enfim, uma nação de homens livres. Quando escrevemos tal poema, que em verdade se chama O Brinde do Prinspe Sapo, confesso que estava impregnado do macaco-deus! Seu nome é Thot, deus egípcio que ensinou os homens a falar, um babuíno, macaco branco. Esse cordel ficou tão "amostrado", afetado quero dizer, que nem parece um simples cordel... Bicho mais besta! Também pudera, além de ser o poema que encerra (va) definitivamente o Zoológico Fantástico, ele fala de um sapo que virou príncipe, tomou uma cachaça e lhe quiseram cassar o status real por causa da bebedeira... Devo dizer que o muiraquitã é um amuleto indígena relacionado ao matrimônio, à fidelidade, e ao ato sexual, sendo citado no Macunaíma de Mário de Andrade. O macaco-deus é dissecado por Thomas Mann na tetralogia José e Seus Irmãos, belíssima versão da história de José, o egípcio, filho de Jacó. Mann não consegue esconder sua preferência por aquele deus dentre todos os deuses egípcios, e eu acabei sendo contagiado por isso."
Pra quem conseguir chegar ao fim - dá trabalho! - decerto apreenderá eventuais mensagens e trocadilhos até intressantes. Peço à boa, quase santa, amiga leitora, que tenha piedade dos pobres sapos, o autor e o protagonista principesco, e tente ler. É divertida a Epopéia do Batráquio Barbudo! A história do macaco-deus, é a do babuíno Thot, que na mitologia egípcia teria ensinado os homens a falar, e naturalmente a usar de boas maneiras, o calendário, e demais noções de paz e civilidade, deve-se ter sempre em mente, pois é de fundamental importância no poema do Prinspe Sapo. A repercussão de eleição do Prispe Sapo teve porém um componente digamos deselegante, a famigerada embriaguez do Sapo, que quase culmina até na expulsão de um jornalista americano do país, que escreveu que Dom Prinspe Sapo era chegado a uma cachacinha...

 Creio que pouco a pouco, macacos sapos e patas aprenderão cada vez a serem menos radicais, como aquele grande homem lá cuja reeleição merece ser louvada, frisamos de novo.

absaam


 


UM SONETO PARA BARACK OBAMA


Que bom que existam caras qual Obama!
O poder das grandes presas em dentes de paz,
um Presidente com alma e que ama
todas as cores que orientam os ocidentais;
e que combate os monstros humanos
sempre se impondo pela eloquência
civilizada, precisa, clara, e a sapiência
de lembrar do trigo de Egitos e  muçulmanos.
- Foi bonita a festa, brother - fiquei contente
vendo os sorrisos que  eram presentes
para tanta gente - para você, pra mim.
- Que o Bem o mantenha sempre assim
Senhor, Mister President, Barack Obama:
Guerra só em último caso a quem obra e ama.

- E longa vida à grande Águia americana!


                   Antônio Adriano de Medeiros
                   João Pessoa 11.11.2012




                           QUATRO TANKAS ALEATÓRIOS


aurora


A rosa da manhã
desabrocha sobre o mar
e dá cria à luz

O pandemônio do Inferno
por um instante se faz terno


                Antônio Adriano de Medeiros
                 11.11.2012        


Esplendor


A Rosa de Sarom
abre as pétalas - o esplendor
são chamas de fogo

Letras reverberam a luz
da epiderme de Deus.



                    Antônio Adriano de Medeiros
                    João Pessoa, 11 de novembro de 2012
                   





Tankancer


Calango violeiro
em luta diaba com o Nonsense
peita um Caranguejo.

De longe as constelações
contemplam minúsculos insetos.


                Antônio Adriano de Medeiros
                idem


               
No tanks  - Many thanks!
.
Grande homem do norte
triunfou. Gorilas raivosos
voltam á Quarentena.

Ululam sapos e patas
no meu Zoológico Fantástico,


                 Antônio Adriano de Medeiros
                 João Pessoa, 11.11. 2012

                       





O BRINDE DO PRINSPE SAPO


                    "eu vou beber, beber até cair, oi!..."
   

 Um velho Sapo vivia
sem ninguém lhe dar valor,
até que um certo dia
uma princes'o beijou...
A Onça pariu na furna:
saiu de dentro da urna
um Prinspo - governador!

Tal história se passou
tem muitos anos atrás,
quando grandes dinossauros
já não existiam mais;
os homens eram grotescos:
com grunhidos simiescos
se mesclavam a animais.

Não se conhecia a paz,
eram selvagens as lutas.
Egito, nem Babilônia,
eram tribais as disputas:
Nus que nem Adão e Eva,
alguns moravam na selva,
outros viviam nas grutas.

- Ó bom leitor que me escutas,
irás comigo descer
ao inferno selvagem
que alguns preferem esquecer,
mas que eu, um índio tonto,
com minha pena aponto
Estrela, Cor e PT?

Eu já disse a vosmecê
da Estrela - o tempo astral.
A Cor vem da narrativa,
do domínio espacial.
E, decifrando o Engrama,
um perfeito telegrama
tem sempre Ponto Final.

Entr'o Planalto Central
e o grande Mar d'Água Doce
- o rio das Amazonas -
a tal história passou-se.
A Musa, certa manhã,
beijou o muiraquitã,
e sapo desencantou-se.

- O que passou acabou-se?
O que foi não volta mais?
Os macacos repetindo
movimentos rituais
se perderam na floresta,
ou será que inda restam
alguns traços ancestrais?

Mas, malgrado canibais,
eles sabiam se unir,
qual na hora de caçar
porco grande - o javali.
A briga só começava
depois que a porca tombava:
na hora de dividir.

Eu conversei com Saci
e consultei Caipora.
Anhanguera confirmou
na prova dos noves-fora,
e a velha Mãe da Lua
me deu Cunhã - filha sua -
dizendo: - "Conte a históra!"

Sagrada, bendita hora:
eu virei prinspo também,
porque Cunhã me cantou
a Cantiga de Vem-Vem;
cachimbeira e vela branca,
a correnteza destranca
e a narrativa vem.

- Meu caro leitor: pois bem,
voltemos aos canibais
imersos no rio vermelho,
legado dos ancestrais:
sangue há por toda parte,
porque adoravam a Marte
- o que abomina a paz!

Grunhidos de animais
dominavam toda a terra,
a besta da violência
quando se solta não erra:
ali faltava a Palavra
- o instrumento da lavra
do afeto que se encerra.

Mas surgiu, sobre uma serra,
um estranho Babuíno
- 'missário de Bela Lua,
candeeiro do destino -
que, com sons articulados
e com gestos delicados
pôs fim ao desatino.

Foi um macaco menino
quem primeiro o avistou;
fez sinal pra sua mãe,
esta ao pai o mostrou.
Grasnou uma Cacatua,
e logo bem sob a lua
a multidão se formou.

O Babuíno contou
das harmonias astrais;
aos outros ensinou
o riso e gestos de paz;
os chamou de irmãos seus,
inda lhes falou de deus,
de justiça, e muito mais.

Desde então os animais
começaram a falar,
substituindo a força
pelo bem argumentar.
O Professor Papagaio
pulava de galho em galho
a gramática a ensinar.

Vivia o Sapo a cantar
lá na beira da lagoa.
Quem o via improvisar
sabia-o gente boa:
apaixonado por Jia,
sempre fazia poesia
quando caía garoa.

A poesia é coisa boa
que acalma o coração,
e logo todos notaram
terem dela precisão.
Mas eis que Mestre Besouro
inventou o desaforo
- a palavra com ferrão.

Em pequena discussão
travada com Tanajura,
eis que Cavalo do Cão
- um bicho cabeça-dura -
deixou-lhe a marca no lombo
- um gigantesco catombo,
a marca da picadura.

Isto fez triste figura
pois Tanajura er'amiga
de um povo poderoso
- a nobre grei da Formiga. -
E vingou-se o tal catombo,
irritado o Marimbondo
e começando outra briga.

Logo voltou a intriga
ao grande reino animal;
deram uma surra no Bode,
agrediram o Pica-pau;
era tanto desaforo
que até o Mestre Louro
andava armado de pau.

Veado passava mal
vendo tanta violência.
Onça arreganhava os dentes
com muita impaciência.
Até a pacífica Paca
atracou-se com Ticaca,
liberando a pestilência.

Quem agiu com sapiência
foi um Grilo bem franzino
que perguntou à Maroca
pelo Grande Babuíno;
já este, infelizmente,
tava noutro continente
cuidando de seu destino.

Apelou-se ao povo equino
qu'é resistente e ligeiro
pra ir buscar Babuíno
nas terras do estrangeiro.
E assim partiu um cavalo
em busca de alcançá-lo
para lhes ser Conselheiro.

Era tão grande o vespeiro
de bichos em pé-de-guerra
que os mais frágeis, sabendo
que a vida se encerra,
temeram - e com razão -
por sua própria extinção,
o fim da vida na terra.

Foi Sabiá - que não erra -
que lhes trouxe a salvação;
do tão sábio Babuíno
chegou a respostação:
que aquela grande grei
precisava de um rei
para gerir a Nação.

- "Na África tem o Leão,
Tigre em terras indianas;
na Europa Urso Polar
e os macacos sacanas..."
E ousou recomendar
que elegessem Jaguar
nas selvas americanas.

As onças Suçuaranas
com Gato Maracajá
- que eram os primos pobres
da família do Jaguar -
porém fizeram protesto,
e logo seu Manifesto
começou a circular.

Se puseram a reclamar
contra discriminação:
que toda a raça felina
reinasse sobre a nação.
O Jaguar ficou zangado,
deu um Golpe de Estado,
pôs os primos na prisão.

Nisso chegou o Falcão
da América do Norte
dizendo que lá o Puma,
malgrado fosse o mais forte,
não era nada sinistro:
o fez Primeiro-Ministro,
e parece que deu sorte.

O Jaguar seguiu tal norte,
pôs os bichos pra votar.
Ele seria o Rei,
porém, para governar,
a bicharada optasse
por um bicho que cantasse
para bem parlamentar.

Se puseram a procurar
cantador de gabarito
que bem conhecesse a terra
e que não ficasse aflito
nem na água nem no ar;
que soubesse improvisar
e o fizesse bonito.

Instituiu-se um rito
na hora da eleição:
candidatos passariam
por pública provação.
E foi a prova da água
que aos pássaros deu a mágoa,
irritando o Gavião.

Pois sendo a grande nação
da floresta tropical
quase toda inundada
- verdadeiro pantanal -
que o eleito cantasse,
andasse, quase voasse,
e nadasse sem igual.

O Mergulhão se deu mal
sobre o terreno plano;
também Martim-pescador
ali entrou pelo cano.
O Gavião se zangou,
também muito s'irritou,
por não cantar, o Tucano.

Já o Sapo, soberano,
foi atleta na acrópole:
andou bem articulado,
deu pinote de artrópode.
Na hora de mergulhar,
nadou, soube amedrontar
qual molusco cefalópode.

Depois, toda megalópole
viu a Filha do Jaguar
subir aos candidatos
e ao Sapo beijar;
o batráquio emudeceu,
em seguida estremeceu,
depois botou pra chorar.

Vieram de além-mar
pra posse do Presidente
representantes reais,
e, de cada continente,
algum mimo especial
ao Sapo maioral
foi trazido de presente.

O Sapo tava contente
mas cheio de timidez
e só soltou sua voz
para cantar uma vez.
Mas quando tocaram pinho,
o Sapo provou do vinho
dado por Galo francês.

Uma mudança se fez
nos olhos e no semblante,
e já no terceiro brinde
Sapo estava bem falante
e, quebrando o protocolo,
sentou Princesa no colo
- a beijava a todo instante.

O Jaguar, muito elegante,
à filha deu sua mão
e a chamou pra dançar
uma valsa no salão.
O Sapo vira outra taça,
toma um gole de cachaça
e diz ao Rei Leão:

- "Seu Rei, nunca vi, não,
lá pela minha lagoa,
uma gata tão gostosa
tal qual a tua patroa...
Sou um grande cururu,
mas tenho inveja de tu
por causa desta Leoa!"

Vendo a cauda da Pavoa
tão bela, passou a mão.
Foi aí que, irritado,
assim lhe disse Falcão:
- "Ó distinto Presidente:
não seja tão indecente;
olhe a sua posição!"

- "Tá expulso do salão!"-
gritou o Sapo, irritado.
Lá chega a Pomba da Paz:
- "O Sapo é muito engraçado...
Mas deixe de brincadeira
com gente assim, estrangeira...
ninguém tá acostumado".

Um diplomata Veado
ao nobre Sapo abraçou;
tentou tirá-lo dali,
Sapo se desvencilhou
e partiu, embriagado,
tombando, muito excitado,
pra princesinha do Grou.

A segurança chegou,
grande Pastor Alemão,
tentando elegantemente
levá-lo a outro salão;
mas o Sapo, estando cego,
gritou pra Macaco Prego:
- "Manda prender este cão!"

Esborrachou-se no chão
e saiu passando mal;
vomitou na limusine
quando ia ao hospital.
Sofreu a diplomacia
pra nada, no outro dia,
sair em nenhum jornal.

Assim cheguei ao final,
aqui eu encerro o papo.
E a vida segue em paz,
sem gritaria ou sopapo.
Só saio com um lamento:
não viver naquele tempo,
pra brindar com Prinspe Sapo!


                Antônio Adriano de Medeiros
                ZOOLÓGICO FANTÁSTICO