sábado, 10 de novembro de 2012

Tankas, thanks, Estrelas, e samba



Em verdade em verdade eu vos digo: que o desfile de poemas hoje prenuncia um bom Carnaval, visto ter desde menção ao samba ancestral, mesmo ao rock beatle "with a little help from my friends". com uma ajudazinha de meus amigos, poemas de origem japonesa, e ainda noções aleatórias de astronomia e Caos.

- Ô mulata assanhada!, essa alma que samba!

O primeiro poema é uma meio dissertação sobre o samba Amélia, de Mário Lago, sendo que a tese é que Amélia representa a mãe do sujeito que ali canta e sonha com uma mulher perfeita que já teve, e, diante da atual que, diz ele, o sujeito que passa, que canta, faz versos, que ama, protesta, José, diz ele que a atual é perigosa, tem desejos, vaidade, luxúria, e ele quer voltar pra Dona Amélia, quer voltar pra mamãe... Era Amélia uma mulher de verdade?  explora essa idéia na fonte perpétua que aquele nobre Lago do Oceano da Poesia nos legou.

Depois entram os Tankas, quando conto com a ajuda de bons amigos. É que os escrevi ontem, e os mandei pras listas de poesia, e o JB Alencastro, da SOBRAMES, lista da Sociedade brasileira de médicos escritores, me poupou do custoso trabalho de ir aprender sobre os Tankas, nos presenteando assim:

"Tanka
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

 Estilo de poesia japonesa. Literalmente tanka significa "poema curto" (tan - curto, breve; e ka - poema ou música) e é formada por 31 sílabas (versos de 5 - 7 - 5 - 7 - 7 sílabas respectivamente). Sua origem está no waka, termo genérico para designar a poesia aristocrática (também de 31 sílabas).
        Esta forma poética foi muito utilizada entre os séculos VI e VIII, no Japão. Há mais de 4 mil poemas no estilo. Como já citado acima, é composto de 5-7-5-7-7 sílabas ou poema de 31 sílabas. Chama a atenção porque ele se divide em duas estrofes: a primeira formada por 5-7-5 sílabas, chamada de kami no ku ("primeiro verso") e a segunda, com 7-7 sílabas, chamada de shimo no ku ("último verso"). Depois de um tempo o tanka passou a ser composto por 2 pessoas. Uma ficaria encarregada pela primeira estrofe(denominada: hokku) e outra pela segunda estrofe (denominada wakiku). Segundo textos essa forma de poema tornou-se uma coqueluche nos anos de 1 186-1339, no Japão.A forma poética ficou tão disseminada que passou a ligar-se a outras estrofes da mesma medida, somando centena de versos. E a nova forma passou a chamar-se "renga" e, em seguida, "renga haikai, ou "renku". Depois de mais algum tempo e passando pelo seguimento dos monges, representantes da burguesia e artistas populares, a temática de simplificação do cotidiano foi enfatizada e o minimalismo passou a ser uma tendência seguida em várias formas da cultura japonesa (daí a expressão "poema curto"). Este movimento fez com que o hokku (primeira estrofe do renga haikai, ou simplesmente haikai) se tornasse autônoma. Surgindo então os Haikais (Haikai).

Fonte: Livro Haicais | Organizado por Rodolfo Witzig Guttilla"

Obrigado pelo complemento, João Batista!

Eu vim a conhecer Tankas através dos Rengas do saudoso Anibal Beça e José Félix, na lista Escritas, Encontro de Escritas; eram pororocas poéticas gigantescas que uniam três continentes e transbordavam beleza, riqueza e arte, e por osmose - Tanto Mar! - parece que acabei aprendendo a escrever Tankas. 

Os Rengas de Félix e Beça foram premiados em Portugal, a onda da pororoca voltou trazendo mais que a Cruz de Malta, e se realçou bem o traço daquelas ondas.

Foram quatro Tankas, começando tímido no título, mas sempre verdadeiro, e á medida que ia escrevendo, ganhava mais segurança, parecia um cordel, já, eu me japonesando, aí disse vou cortar com a ponta de uma estrela, tchhhhh, cortei com As Três Marias.

Mas ainda estamos nos Tankas, o primeiro duvidava de si mesmo, Tanka?

São quatro tankas sendo que três, mais universais, tiveram um correspondente da autoria de José Félix, que usei a palavra "rengado", de renga, um punhado de tankas afins, por falta de uma palavra melhor, mas Renga tem muitos tankas seguidos.  Nâo sei se os oito podem ser Renga.

Mas também "renga" lembra "regar" e os meus tankas não existiriam se eu não tivesse conhecido bons poetas que ocnheci, e como Félix foi um dos regadores renguistas de meus tankas... sem nunca esquecer do coração bom à Beça!

O Tanka para Elomar é inspirado em Arrumação, da Quadrada das àguas Perdidas.cuja letra e link se encotram após as Três Marias. Seda Branca era o galo da casa, e a onça chegou em noite de lua nova, e Seda Branca avisou do perigo, mas assim se revelou um bom prato para a sussuarana. O tanka seguinte, Tanka da Salvação, é um armadilha ou suprema ironia; um náufragdo do mar finalmente vê um braço de rio e um barco vindo em sua direção; só que é o Barco de Caronte, barqueiro que carrega as almas dos mortos aos Infernos, e que é recomendável sempre dar uma moeda a Caronte, por isso que já se teve o costume de colocar uma moeda na boca dois mortos. Já o desafio num tanka retrata a chegada, a recepção, e a repercussão da chegada de dois cantadores para um desafio nem um sítio sertanejo, nos tabuleiros, nos penedos, nos serrotes; o fogo no serrote viria dos desaforos trocados pelos violeiros dedilahando as cordas de aço das violas.


Notar que Os Tankas de José Félix  sempre têm, sim, cada um tem, alguma correspondência com o tanka que enviei; e que não há pontuação alguma; os versos também são ditos com a métrica precisa; certamente o quadro, a pintura, dispensa os sinais gráficos entre as palavras, esse negócio d eponto e v´rgula. Só no último surgiu um ponto final. O primeiro tanka de Félix desenvolve de maneira magistral, pirâmides e formigas com a realeza egípcia, do Vale dos Reis ao Museu do Cairo. Em seu segundo tanka, sobre a Salvação vir por Caronte, ele atira moedas para a Fortuna, tradição e esperança, mas recomenda cautela com a avareza de Caronte. E em seu terceiro tanka, trouxe junho, fogueira e castanha assada, e vinho para a festança naquela casa in riba do serrote, e brindamos ainda com alguma cachaça, cerveja, Vinho Padre Cícero, e mais umas sardinhas, milho, queijo de coalho e pamonha.

Sei, que, resumindo tudo, pelo que li, e aprendi hoje, Renga mesmo é quando uma pessoa escreve os três primeiros, e outra os dois últimos. Mas que os tankas correpondentes me deixaram  feliz, me deixaram. Um belo exercício, não é praqualquer um. Confesso que não consigo assim com a naturalidade, presteza, beleza, imaginação e precisão, maestrias de José Félix.

E chegamos às estrelas.  Precisei cortar com a ponta de uma estrela minha febre nipônica, aí pensei em safadeza com três marias, e devo confessar talvez um desconhecimento meu, pois toda vez que me mostram As Três Marias, eu vejo ali a cabeça e as duas garras do Escorpião, inclusive o belo rabo se prolongando lá pra trás. Mas parece que são da Constelação de Órion, e mais afastadas umas das outras que aquelas de Scorpio. De qualquer forma, o que vale é a Poesia que se tira, e fica como sempre vi, desejoso, O Rabo das Três Marias.



Gratíssimo.



absaam






ERA AMÉLIA MULHER DE VERDADE?


               Sobre o samba imortal de Mário Lago


Talvez Amélia não fosse uma mulher,
em verdade porque a mãe
malgrado arquetípica entre as mulheres
ao Édipo que a deseja e teme,
não é apenas uma mulher. Ele treme
diante da que gesta, a que ama, protesta.
Ele freme diante do incesto,
mas Amélia jejua a seu lado
e acha tão bonito não ter que comer...

E o chama "meu filho" quando fica
contrariado,
mas que nada pode fazer
não só pela idade,
ou pela ausência de vaidade,
mas por imposições da maternidade.

Quando se torna um pobre rapaz
ele conhece a mulher de verdade
em sua nobre rapacidade
felina
da predadora que finge ser
um animal de estimação.

E é quando gata dá seu pulo
e vira pantera,
ás vezes hiena, chita, chacal
que lhe vêm da inconsciência
a recorrente impaciência
de deixar Cornélia - a madame -
e de voltar para Amélia, a mamãe...

- Mulher casada, mulher de pau!



                     Antônio Adriano de Medeiros
                     um  paraíba em 09 11 2012
  


                                      SETE TANKAS A QUATRO MÃOS


Quatro Tankas de Antônio Adriano de Medeiros, sendo Três "rengados" e regados por José Felix.


(tanka?)


O galo velho cisca,
raivoso, cego, esclerosado.
Tem galo novo na freguesia.

As formigas juntam folhas e pedras.
Vão construir uma pirãmide.


         Antônio Adriano de Medeiros
          09 11 2012         



A rainha Shesheti
na pirâmide em  Mênfis
dorme ao lado das formigas

O filho o grande rei Teti
amarela no museu

               José Félix




Tanka para Elomar


Seda Branca, o mimo
da casa, rei do galinheiro,
cantou, vigilante.

Na noite escura Susarana
aprisunha. Sangue de dar dó


             Antônio Adriano de Medeiros


tanka da salvação


Enfim o náufrago há dias
no mar, adentra um braço de rio.
Um pescador logo vem.

Caronte veio buscá-lo. Jamais
uma simples moeda valeu tanto.


                       Antônio Adriano de Medeiros
             



Na fonte de Trevi
deito várias moedas
que abrilhantam com Apolo

Nem todo o ouro do mundo
enche a barca de Caronte


                     José Félix



desafio tankado


Chegam os cantadores.
Abre-se a roda feliz.
Começa um desafio.

Do serrote voam faíscas;
das violas, desaforos de fogo


             Antonio adriano de Medeiros
       

    

Raios e coriscos
saem das bocas de vinho -
castanhas assadas

o povo salta a fogueira
da árvore decepada.

  
                  José Félix



                                                                            *                    *                      *
Aqui deixo um comentário enriquecedor de José Félix na Encontro de Escritas, postado hoje, sobre os tankas. De minha parte quero só dizer de um certo orgulho, mas na dose normal, e de muita gratidão pelo acolhimento tantos anos, paciência, erudição, enfim, pela Poesia que se encontra em suas Escritas.

" Adriano, valeu!

Ler é aprender!

Não esquecer que a autora norte americana Jane Reichold foi a grande impulsionadora do Renga que se baseia  numa série de haikus e dísticos de sete sílabas, os famosos tanka, Que vale a pena ler e estudar. É um método muito interessante que obriga os autores a seguirem o método e a uma certa disciplina emocional.

Abraço

José Félix "



                                                                    

                                                      *                                  *                                      *          




O Rabo das Três  Marias



As Três Marias seriam
aquela de Betânia, Madalena,
e a assim chamada Virgem...

Mas talvez as Três Marias
indiquem apenas a Posição
de uma só no Céu.

Sentada na cabeça do Leviatã.

Porque as Três Marias estão
assentadas na Cabeça
do Escorpião,
e quando as miro não posso nunca
deixar de contemplar o venenoso rabo
que elas sabem e tanto desejam
exibir - abundância acintosa de imortal peçonha.

Elixir é toda bunda sinuosa ao mortal que em pé sonha.


                      Antônio Adriano de Medeiros
                      09 11 2012, paraíba!






Letra da Música Arrumação, de Elomar Figueira de Melo, no álbum Na Quadrada das Águas Perdidas. Quem canta aqui é Francisco Aafa, entusiamado:
http://www.youtube.com/watch?v=f8l2s1nnH_o


ARRUMAÇÃO

             elomar

Josefina sai cá fora e vem vê
Olha os forro ramiado vai chuvê
Vai trimina riduzi toda criação
Das bandas de lá do ri gavião
Chiquera pra cá já ronca o truvão

Futuca a tuia, pega o catadô
Vamo planta feijão no pó
Futuca a tuia, pega o catadô
Vamo planta feijão no pó

Mãe purdença inda num cuieu o ai
O ai roxo dessa lavora tardã
Diligença pega panicum balai
Vai cum tua irmã, vai num pulo só
Vai cuiê o ai, o ai da tua avó

Lua nova sussarana vai passá
Sêda branca, na passada ela levô
Ponta d´unha, lua fina risca o céu
A onça prisunha, a cara de réu
O pai do chiquêro a gata comeu
Foi um trovejo c´ua zagaia só
Foi tanto sangue que dá dó

Os cigano já subiro bêra ri
É só danos, todo ano nunca vi
Paciênca, já num guento as pirsiguição
Já só caco véi nesse meu sertão
Tudo que juntei foi só pra ladrão


              Elomar F  Melo.