terça-feira, 16 de agosto de 2011

a Bela


Bom, vai aí um soneto dos que mais gosto, de 1996, escrito lá em Santa Luzia. Eu estava apaixonado, e a jovem não é que parecia retribuir à minha paixão? Sempre fui meio pessimista pressas coisas de amor, e a bela jovem foi, de meus amores idealizados, o segundo que pude ter nos braços, e aquele que mais durou. Mas com quase dois anos começou a dar sinais de esgotamento, e ela, que era tão bela (tanto adormecida como desperta, e também na transição, rá, rá!), ás vezes eu a fazia apodrecer, para ter motivo de não amá-la tanto.

Foi essa a inspiração para o soneto abaixo.

Por ouitro lado em 1996 eu já tinha 34 anos, e me conheço muito bem, e ao inconsciente humano e ao processo criativo, para saber que também já falava de mim próprio. Vale dizer, aquele jovem supostamente cosmopolita que um dia eu talvez tenha logrado ser alguns anos, já voltara a ser um simples rapaz do interior... Ou seja: a bela apodrecida também sou eu!

absaam

A BELA APODRECIDA

Toda a casa transpirava a podridão
cadavérica da moça morta há três dias...
Era mais bela assim, entregue à mais cega solidão
- as duas órbitas vazias!
Um batalhão de moscas entoava hinos
fúnebres, e ao fundo via-se uma cabeça de cabra.
Um casal de ratos se encontrara nos intestinos
e agora se entregava a uma orgia macabra.
- Ó doce e bela podridão, fonte perpétua de vidas,
sublime sopa com pão de tantas almas perdidas,
por que causas tanto espanto aos homens da polícia,
surpreendendo até mesmo os doutores da perícia?
- É que sobre uma poça encarnada de sangue menstrual
sete anões morcegos realizavam sua Ceia de Natal.

Antônio Adriano de Medeiros

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