sábado, 21 de janeiro de 2012

um pouco de beleza trágica


O soneto abaixo talvez preferisse não ter sido escrito, ou eu, melhor dizendo, com certeza preferiria não tê-lo escrito, visto ter sido inspirado numa tragédia não só pessoal, mas familiar. Não citarei aqui nomes, poupando inclusive a bela e infeliz jovem que esteve no centro da trágica trama, ocorrida na cidade de São Paulo, anos atrás.

Modifiquei pois um pouco o nome da protagonista, para permitir também um trocadilho com A Bela Aparecida, A Bela Apodrecida (outro soneto de minha modesta verve) e A Bela Adormecida (parricida é a pessoa que mata o pai, ou os pais, ou que contribui fatal e definitivamente para a morte do pai ou dos pais), pois foi através do trágico ocorrido que a Bela apareceu na mídia. Notar a ironia no segundo verso, pois uma jovem bela e rica e loura tem muitos ingredientes para se julgar imortal, e portanto indestrutível (daí para inimputável é só um passo), mormente se descendente de uma estirpe alemã tradicional.

Vai não só como poema maldito, mas também como lamentação pelo infeliz destino de uma flor bela e trágica, ou uma aranhazinha ultravenenenosa, uma espécie de viúva negra terrível, ainda que - nunca é demais dizê-lo - muito bela.

E que poeta há de resistir à Beleza?

absaam


A BELA PARRICIDA

Meu nome é Suzane Aparecida.
Sou bela e rica e loura - imortal!
Aos olhos da plebe, uma perdida
que merece a pena capital.
O homem que mais amei na vida
plantou em meu jardim a flor do mal.
Duas barras de ferro, uma batida,
o sangue espirrando no jornal.
Ai, nunca mais ir de preto para a aula!
Jamais os cabelos esvoaçantes:
até este poema é uma jaula,
soneto de versos aprisionantes.
Sonho e pesadelo andavam juntos:
no presente de amor, os pais defuntos.

Antônio Adriano de Medeiros
Doidos de Mim