quarta-feira, 4 de abril de 2012

a terceira paz




Dá o que pensar que as pessoas se preocupem tanto com a chegada da Terceira Guerra, mas ninguém se lembre de celebrar a longa duração da Terceira Paz...

Usando o pouco conhecimento que pude adquirir na leitura da vasta obra de Thomas Mann - aí pus muito do Doutor Fausto - eu celebro a paz e o rico e sábio país dos Grandes Músicos.

absaam


A TERCEIRA PAZ

Olhando aqui bem de longe, me preocupo
porque sei que o grande mar
e a fortificação natural das dunas
não significam nada
para os pássaros de ferro e fogo,
para os mísseis cirúrgicos da morte
para as ogivas da perfeita destruição.

E penso que o problema não é,
e nunca foi a Alemanha:
o problema é a Música alemã.

Foi a Alemanha a terra que pariu aqueles três,
Bach, Beethoven e Wagner.
Foi ali que primeiro se ouviram aqueles sons,
e até hoje a Música exaspera de mente a músculos dos outros.

A Primeira Paz terminou naquela valsa idealista de 1914,
naquela guerra nacionalista e meio romântica
contra o fim de um mundo que ruía,
o mundo aristocrático, e não foi à toa que só acabou
com o advento dos bolcheviques, proletários com poder.

A Segunda Paz teria sido uma paz forçada e falsa,
e engendrou aquela marcha militar mal-ajambrada
por um maestro louco e ridículo,
cujos acordes dissonantes em 1939
invadiram as casas dos vizinhos
e os fizeram correr, fugir desesperados,
até serem encarcerados em fornos,
porque os homens não suportavam ouvir a anti-música...

A Terceira Paz, tão duradoura, urdiu uma sinfonia
tão longamente trabalhada,
mas logo alguns músicos da orquestra,
por incompetência ou inveja, ou outra razão que desconheço
vez que moro longe e sou muito pequeno,
começaram a se atrasar para os ensaios
e quando se viu o concerto estava quase sem conserto...

- Já será pois muito tarde neste 2012?



Antônio Adriano de Medeiros
mar - 2012