quinta-feira, 19 de julho de 2012

a fotossíntese do Mal



Talvez por tanto gostar das Flores do Mal, de Charles Baudelaire, imaginei-me a mim mesmo palco de uma Fotossíntese do Mal, algures, nos bons tempos em que tudo era poesia. O soneto é muito bem escrito, e a ideia, a explicação que o poeta dá para sua idiossincrática atração para as coisas criminais, bastante interessante: se quando se quer dizer que alguém é primitivo, selvagem, costumamos chamá-lo de "animal", um ultra-primitivo seria pois um "vegetal", vez que tal Reino é sem dúvida forma de vida mais antiga que a corja animalesca da qual fazemos parte, sobre a Terra.

absaam



A FOTOSSÍNTESE DO MAL

O veneno, a traição, o furto, o assassinato;
o sequestro, a extorsão, o linchamento, a curra;
o sadismo inveterado e até simples surra
atraem minha atenção e arrepiam-me o tato.

Para mim nada é melhor que ouvir a voz que urra,
contemplando um par de olhos que só suplicam clemência,
da indefesa vítima que, em sua pura inocência,
confiou nas promessas do patife que a esmurra.

Fazer o mal é tão bom que ás vezes até machuca!
E a maldade que há em mim, tão antiga, já caduca,
não se cansa de renascer toda manhã, bem cedinho...

É que vem a luz do sol e desvia-me do caminho
provocando no meu íntimo a Fotossíntese do Mal...
E eu já acordo tramando algum Pecado Mortal!


            Antônio Adriano de Medeiros