segunda-feira, 12 de abril de 2010

LE BEAU DE L'AIR



[Para Charles Baudelaire]


Como um albatroz que reina pelos ares

mas que por sobre a terra anda desajeitado,

o Poeta que em vida foi um degenerado

depois de morto é deus em secretos altares.



Cantou lésbicas, carniça e mártires degoladas;

dançou com esqueletos em orgíaca embriaguez;

e provou dos paraísos que as almas limitadas

ainda hoje abominam em sua pequenez.



No jardim da estética colheu flores do mal

e, adubando seu cérebro com Sífilis e veneno,

criou uma poesia tão bela e original



que ofuscou os olhos de algum cego obsceno.

- E o pássaro condenado um dia à execração

hoje voa imortal, e se ri da ingratidão.



Antônio Adriano de Medeiros.




O Título do poema poderia ser traduzido como “O belo do ar”, e Baudelaire tem um poema em que compara o poeta a um pássaro que voa muito bem, mas que não consegue andar direito, tem que dar saltos, extaamente pelo tamanho de suas asas: “as asas de gigante impedem-no de andar”. Como traduziu Ivan Junqueira. Charles Baudelaire escreveu, entre outras coisas, Flores do Mal e Os Paraísos Artificiais (O Ópio, o Vinho e o Haxixe); há no soneto menção a alguns poemas de Fleurs du Mal, como O Albatroz, Lesbos, Mulheres Malditas, Uma Mártir, Dança Macabra, e Ao Leitor. Seis (número sugestivo, a Imperfeição) poemas de Fleurs du Mal foram considerados "atentatórios à moral e aos bons costumes) por um Tribunal Correcional francês, e condenados, obrigados a serem retirados da 1ª edição(1857, salvo engano) e somente no presente século é que foram "reabilitados". Acredito (dou tal tese de graça a você, leitor acadêmico: desenvolva-a!) que o verdadeiro motivo da condenação dos poemas das Flores do Mal foi o fato de o Poeta, em seu primeiro livro (imediatamente anterior às Flores), Os Paraísos Artificiais, ter ironizado sarcasticamente logo na Introdução, com o juiz que escrevera recentemente sobre o vinho. Na época do processo, ele pagou alta multa por ter escrito os seis poemas. Também há menção ao fato de Baudelaire, entre outros safados, ter sido um dos participantes do Clube dos Haxixins, na Paris de meados do século XIX. Morreu após sofrer uma hemorragia cerebral, conseqüência da Sífilis que adquirira na juventude; seu amor pela morena Jeanne Duval, dama da noite, pansexual, amiga de Baco, desesperou a família a ponto de lhe obrigar a uma volta ao mundo; não adiantou: desceu no primeiro porto da África, escreveu "A une dame créole" dizem pra mulher de quem o hospedou, e voltou a Paris amar Jeanne até a troca de treponemas e parir as Flores do Mal; ficou uns meses prostrado no leito antes de morrer, afásico.

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