sábado, 17 de abril de 2010

                               Tríptico Carioca



"Posso resistir a tudo, menos às Tentações", como dizia Oscar Wilde.

1. CIDADE MARAVILHOSA

Sobrevoava uma tarde o litoral do Brasil
quando algo, lá embaixo, a visão me atraiu.
Era uma bela cidade, eu vi ao chegar mais perto,
protegida pelo Cristo, entre montanhas e o mar aberto.

Toda alma tem um fraco pelas coisas belas,
e ao ver suas montanhas tão perto da praia,
belas jovens sorridentes... - Ó, tomara que caia! -
Eram tantas maravilhas que quis morar entre elas.

Mas não durou muito tempo a imagem de paraíso:
as montanhas têm espinhos, o mar é frio e voraz,
as mulheres são bonitas mas é de outro o seu sorriso.

E examinando o Cristo, eu vi, mesmo a olho nu,
que ele está petrificado, é um fantoche e nada mais,
pois quem domina a cidade, na verdade, é Belzebu.


2. VERÃO NO RIO

É em dezembro, janeiro e fevereiro,
quando mais ardem as suas artérias,
que a cidade do Rio de Janeiro
abre as pernas a todos os turistas, em férias.

A velha capital, cansada da árida e amarga luta
de nove meses em que finge ser uma jovem executiva,
pode então descansar. E, já sem máscara, exibe, altiva,
sua verdadeira face, seu corpo de eterna prostituta.

Nenhuma outra consegue igualar-se, em beleza,
àquela cortesã que de tão meiga e sedutora
foi capital de um império e enlouqueceu a realeza,

nesses dias em que mais brilha o sol dourado.
- Ah, como foi gostoso aquele dia, em que uma loura
me fez ver, Rio, que teu ócio é o cio acentuado.


3. RIO, EU NÃO TE AMO TANTO ASSIM
E os pobres? E esses marginais, e esses bandidos?
Que destino reservas aos homens vulgares?
O de desaparecer sempre atrás de estampidos?
Ou de morrer de fome? Ou cair de teus patamares?

Se respondes, linda mulher, eu me calo.
A tua voz impõe tua presença,
e eu não resisto a ti, e entalo.
- Se me consomes aos poucos, acho gostosa a doença.

É a Beleza - Tinha que ser a maldita! -
que me faz perdoar-te a cada hora
e te amar ainda demais...

Mas teu orgulho é tanto, feiticeira bonita,
que de repente eu posso ir-me embora
e não voltar nunca mais!

Antônio Adriano de Medeiros

[Foi entre janeiro de 1986 e março de 1989 que escrevi esses sonetos, procurando também cantar, ao meu modo de nordestino estudante e jovem, a mais cantada das cidades do Brasil. Porque além de bonita e gostosa e cosmopolita, ela é apaixonante.]

Nenhum comentário:

Postar um comentário