sábado, 7 de agosto de 2010

O grande debate na corte dos bichos


Nunca mais haverá um debate como aquele!

Na Fuloresta Encantada,terra do Zoológico Fantástico, em 2002, para a sucessão do Professor Tucano, reuniram-se Sapo Barbudo, o bizarro Morcego Tucano. e ainda o Jegue Biônico e o jovem bezerro de ouro de tolo chamado de Garrótinho para o Grande Debate na Corte dos Bichos.

Sim, no Brasil daquele ano, para a sucessão de FHC reuniram-se Lula, Serra, Ciro Gomes e Anthony Garotinho para um debate também, mas quem liga para isso? Eu só sei que nada sei!

Quanto ao Debate dos bichos, reza o Zoológico Fantástico o seguinte:

"É então que acontece - felizmente, pois havia já longo tempo que o poder não mudava, daí que aqueles bichos estranhos começavam a aparecer, acredito - um fato fenomenal na história da nação zoológica: O Grande Debate na Corte dos Bichos. É que ia haver outra eleição, e dessa vez em dois turnos: nesse primeiro debate, quatro animais de cacife disputavam os votos do eleitorado animal, a saber: o veterano Sapo Barbudo, o estranho Morcego Tucano, o Jegue Biônico, e um certo Garrótinho. Informo ao leitor que após tal debate, ficaram para disputar a eleição final o Sapo Barbudo e o Morcego Tucano. Sendo esse um grande debate, ele só poderia ser dedicado a um grande amigo. Por isso, dedico-o a Oswaldo Ribeiro Filho, inseparável companheiro das hostes natalenses."


O GRANDE DEBATE NA CORTE DOS BICHOS



Para Oswaldo Ribeiro Filho



Não pense o leitor que deixo
de tomar chá na floresta,
a amizade dos bichos
é a única que me resta,
pois na raça dos humanos
muito pouca gente presta.

De novo pra grande festa,
é claro, fui convidado:
um debate federal
seria realizado;
o sabiá me chamou;
- Vige, fui muito animado!...

Vi velho Sapo Barbado
aliado a nobre Lula;
um Jegue modernizado
montando a mais bela mula;
e com Morcego Tucano
Sereia fazer firula.

E vi outra criatura:
um falante Garrótinho
ostentando sua bíblia
e crucifixo novinho:
- "É o Bezerro de Ouro?" -,
perguntei a um fradinho.

Disse o frade, bem baixinho:
- "É bíblia de mentirinha...
Promete que faz milagres
e cultiva uma rosinha,
mas sempre depois do culto
manda passar sacolinha...”

Pois saiba, leitora minha,
que tais eram os candidatos;
cada qual de suas obras
queria fazer relatos:
um deles seria eleito
para o Palácio dos Patos.

Ocultarei alguns fatos
para o poema encurtar,
quem dirigia o debate
era o nobre Carcará:
ele a cada um dos bichos
dava a ordem de falar.

Sempre atento a escutar,
meu amigo, Rei Leão:
sério e bravo como é,
mostrava satisfação
por ver a bichocracia
reinando em toda a nação.

Segundo a convenção,
cada bicho era obrigado
a fazer logo um discurso,
resumido e bem narrado,
mostrando sua proposta
ao grande eleitorado.

E disse Sapo Barbado:
- "Quero felizes as rãs!
Serenata cada noite,
trabalhos pelas manhãs!
Saúde, estudo, alegria,
todas as raças irmãs!

Quero novos amanhãs
pra todo o reino animal;
cada filhote na escola,
dieta mais vegetal:
não podem sonhar os bichos
com justiça social?"

Seguindo o convencional,
diz Morcego, dos Tucanos:
- "Não mais podemos viver
isolados dos humanos,
devemos mais abraçar
europeus, americanos!

Os outros fazem seus planos,
porém eu mais estudei
e, por toda a minha vida,
muito mais me preparei;
e se isso não bastasse,
tenho o apoio do Rei."

Depois então escutei
Jegue Biônico falar:
- "Todos sabem que eu, quando
governei o Ceará,
fui, de todos da nação,
eleito o mais popular.

Coices e zurros sei dar,
vi sertão e maresia;
mais escolas implantar
do Acre até a Bahia;
promover de Norte a Sul
segurança e economia."

Nessa hora a gata mia,
todo mundo vem olhar:
é de raça muito nobre,
muito bela a angorá;
ela ao Jegue Biônico
costuma acompanhar.

Vamos agora escutar
a fala do Garrótinho:
- "A todo mundo que diz
qu'inda sou pequenininho,
lembro ser filho de Touro:
com chifre, não tem carinho!

Pois saibam que não me alinho
com seres sujos de pus,
sozinho sei o caminho
pois no livro vi a luz:
para cada pobre quero
casa, polícia e Jesus!"

Elegantes urubus
garçons falando francês,
iam sempre a cada mesa;
muito mais que uma vez,
carne crua ou fruta fresca,
tudo a gosto do freguês.

E quando chegou a vez
de interrogar concorrente,
os bichos mais questionados
foram os que estavam na frente;
tinha um Sapo e um Morcego
cotados pra presidente.

Jegue diz assim: - "Ôxente!
Morcego, mentirosão,
oito anos no poder
com o professor ladrão,
e só agora promete
empregar oito milhão?"

Feioso que só o Cão,
diz o Morcego, zangado:
- "Como criar tais empregos,
Jumento, tenho provado:
com lápis e no papel
eu muito tenho explicado.

Já você, cabra safado,
tira onda de elegante;
vive cercado de belas
por também ser bem falante,
mas o segredo de tudo
tá em teu membro gigante."

- "Não seja deselegante:
isso é golpe desleal;
você é que é farsante,
Morcego falso, afinal
é bicho muito ligado
à tal quadrilha real..."

Quase os dois saem no pau,
porém o Sapo interveio:
- "Companheiros, por favor!
Isso tudo é muito feio:
um debate de valor
nosso povo escutar veio."

Garrote não estava alheio
e a palavra tomou:
- "Barbudo, todos sabemos,
muita surra já levou:
subiu, subiu nas alturas,
mas depois se espatifou..."

- "Garrote, você chegou
mais longe do que podia,
desconfio que para tanto
usou de patifaria,
bíblia misturada a bicho
me cheira a feitiçaria...

Dessa vez sabedoria
me mandou se misturar;
ando em terra e água doce,
mas dessa vez soube ousar:
na aliança com Lula,
uni-me aos bichos do mar!"

Jegue volta a atacar:
- "Derroto a tropa todinha:
os índios do Ceará
gostam de comer farinha;
no banquete como sapo,
morcego e bispo sardinha!"

Diz o sapo: "À patricinha
você sabe convencer,
mas os bichos da favela
agora já sabem ler:
será com o voto deles
que eu vou-me eleger."

Ouvi Morcego dizer:
- "Reconheces que Tucano
algo de bom aqui fez?
Letrou fulano e sicrano,
saneou economia
e civilizou beltrano..."

- "E viajou mais de ano..."
- o Sapo ouvi responder -
"Muito título de doutor
a gente o viu receber,
mas o Brasil de verdade
Professor não soube ler..."

O debate a transcorrer,
cada um a se gabar,
Morcego foi aplaudido
pois conseguiu derrubar
patente do coquetel
e bicho aidético salvar.

Também devo elogiar
o Jegue de Fortaleza,
fez chegar no Ceará
água limpa pra pobreza;
e, como poeta é,
soube se unir à Beleza.

Só vejo com estranheza
o tal touro juvenil,
com sua bíblia na mão
e sua postura hostil:
uma estranha Inquisição
ameaçando o Brasil.

O nobre Sapo, se viu,
soube fazer aliança,
unido a bons companheiros
de estrita confiança:
dessa vez a estrelinha
brilha com mais esperança.

Rei Leão encheu a pança
e o debate encerrou,
a nem um dos candidatos
falar mais ele deixou,
um batalhão de cachorros
por segurança chamou.

E foi assim que chegou
o debate a seu final,
e na minha opinião
Sapo foi o maioral;
mas sei que o mais preparado
nem sempre é o mais votado,
e viva o reino animal!


Antônio Adriano de Medeiros

4 comentários:

  1. Reli remetido por Soraya. Boa lembrança.
    Está em tempo de uma nova versão, ótimos personagens esse ano.

    Oswaldo

    ResponderExcluir
  2. Foi talvez o mais interessante debate já realizado na Corte dos Bichos, daí a Imagem Sagrada. A versão humana vi-a num hospício, e logo os auxiliares de enfermagem aderiram todos a Garotinho, o radialista.

    Esse ano o Morcego Vampiro e a Viúva Negra decerto vão debater, com a presença de Dona Borboleta, mas como não ando muito ligado na versão humana, temo que o Debate na Corte Animal só se realize depois do pleito humano, até porque a Justiça Eleitoral pode cismar que ando parodiando (olha só: ando par ódio e ando... Por que as Palavras insistem em brincar e pular na minha Cabeça, dançantes, cantantes, saltitantes? Daqui a pouco vão dizer que ouço As Vozes!) nossos respeitáveis presidenciáveis... Se bem que todos de uma vez, acho que pode.

    O problema é que tal debate envolverá bichos perigosos, radicais são os protagonistas, um hematófago e uma peçonhenta, e ando com muito medo de bichos assim. Mas decerto me mandarão um guia à altura.

    Clamo aos Céus e aos Infernos, e já que um Anjo à Sua Altura se manifestou, julgo que serei atendido.

    "Admiras porventura o ser humano?"

    Glória!

    Antônio Adriano de Medeiros

    ResponderExcluir
  3. "Admiras porventura o ser humano?" era nosso eterno bordão, do livro do aldous huxley, o macaco e a essencia.
    o poemeto era:
    o abraço do polvo
    o beijo do gusano
    do macaco lascivo
    o toque imundo
    admiras porventura o ser humano?

    não , não muito.
    era o que estava escrito na tabuleta na estradinha que ia a casa do tallis.
    estranho comentar isso agora, já que blog está aqui mas vc já virou poeira mas me faz bem, nada a ver com coisas espirituais, claro, minha aversão a espiritismo e quetais continua na mesma intensidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. faltou o
      'isso se refere a você, afaste-se'.
      e no portico da casa do itãs estava escrito:
      lasciate ogni speranza voi ch'entrate
      e no jardim, no muro ao lado da canoa ancorada:
      après moi le déluge

      Excluir