terça-feira, 14 de agosto de 2012

De mensalões e Reino dos Bichos




 "Ainda que não assegurem, necessariamente, a inocência de tal ou qual acusado, numerosas contestações pareceram muito mais convincentes, em pontos importantes, do que as respectivas acusações"

                                  Janio de Freitas, Folha de São Paulo, 12 de agosto de 2012


" (Mensalão) É nordestino querer fazer  qualquer coisa em São Paulo. Eles têm de ficar lá, em Garanhuns, lá no fundo de Pernambuco."

                                  Uma socialaite, mesmo jornal e dia.


"Gente, nós estamos numa sala de aula. A classe toda tá colando. E agora estamos tentando pegar um aluno, aquele barbudo, com a voz rouca, que não tem um dedo, e expulsá-lo da sala. Isso é bullying puro, bullying da elite branca, que aliás também "cola" na prova.

                            Marido de cliente de loja famosa da "elite branca" na cidade de São Paulo, no mesmo local e data.



                                                          *         *          *



Causa espanto, e a meu ver reflete abominável preconceito da elite humana, a repercussão que o famigerado Mensalão tem tido na sociedade e sobretudo na Imprensa de nosso país, em detrimento de fato semelhante que ocorreu na Floresta Encantada, no grande Reino dos Bichos que existe lá - nas profundas misteriosas de nosso Brasil continental! Ou alguém duvida de que existe um Zoológico Fantástico? Aqueles que duvidarem em breve terão um grande surpresa!

Teria sido coincidência quando Leonel de Moura Brizola, no ano de 1986, após o lançamento do malogrado mas enfeitiçador Plano Cruzado, profetizou que a elite brasielira ia ter que engolir o sapo barbudo? Que nada! Ele sabia, ele conhecia a fundo nosso país, e tinha conhecimento de que existe um mundo zoológico paralelo onde tudo de importante que acontece em nosso país espelha e recria fatos símeis (não confudnir com simiescos; quis dizer similares). 

Não sei se apareceu algum Urubu de Gravata querendo provar que os fatos que deram origem ao cordel A Grande Crise no Reino do Prinspe Sapo (sim, porque lá o Sapo Barbudo acabou virando príncipe, depois que uma onça princesa o beijou!), pois bem, não sei se lá se acusou uma conspiração terrível da esquerda satanista para tentar implantar uma ditadura ou perpetuar-se no poder indefinidamente, comprando os ilustres parlamentares daquele Reino com uma espécie de ração monetária mensal, parlamentares que ali se compõem em sua maioria de porcos e ratos - muito diferente, nesse ponto, do que ocorre na humana sociedade, onde a Excelências são sempre pessoas não só respeitáveis como admiráveis - pois bem, não sei se ali na Floresta há seres tão criativos como os há no Planalto, mas, pelo sim, pelo não, venho hoje contar aos meus poucos porém fiéis leitores os lamentáveis fatos que ocorreram no Reino dos Bichos do Zoológico Fantástico após a vitória eleitoral do Sapo Barbado sobre o Mocego Tucano, nos primeiros anos de governo do bonachão príncipe batráquio, quando "forças terríveis", acusaram alguns bichos, tentaram jogá-lo para fora do poder, devido a um fato para alguns outros bichos já recorrente na História do Reino Animal.

Veja com seus belos olhos, querida leitora, e depois julgue, com coração e mente que os sei puros, se as coincidências não são interessantes!

Depois, como bônus, ouça o coco de embolada O Casamento do Bode, de Caximbinho e Geraldo Mousinho, uma prova gratuita e imparcial da existência do Zoológico Fantástico, com frases suspeitíssimas como "quando o cachorro chegou chamou tudo de safado...", e "Compadre Louro tá lá e gosta de soltar piada...", frases que, a meu ver, podem muito bem significar algo a respeito de um dos portagonistas e ao narrador da presente gesta. Onde? 

Ora, em http://www.youtube.com/watch?v=83_mGaoBXdY


absaam



A GRANDE CRISE NO REINO DO PRINSPE SAPO

Quando Sapo virou príncipe
no Reino dos Animais
houve grande cantoria,
cem dias de festivais;
a vida era grande festa,
voltaram à Grande Floresta
os eternos carnavais.

Mesmo bichos canibais
se declararam decentes;
sobre a carne dos iguais
não poriam mais os dentes.
E as moscas varejeiras
da fama de carniceiras
se diziam inocentes.

Vi bicho querer ser gente
depois que Sapo ganhou!
Lavoura de macarrão
um burrico preparou,
e, numa grande festança,
depois de encher a pança,
o Sapo se embriagou.

A Coruja protestou
pros lados do estrangeiro;
por lá um jornal chamou
o Sapo de “cachaceiro”.
Papagaio protestou:
de urubu se trajou
e subiu no picadeiro.

- “ Mestre Sapo é churrasqueiro
e pode comemorar!
Se gostasse de cachaça
a poderia tomar;
mas ele prefere vinho...
E quando escuta um bom pinho,
Sapo gosta de cantar”.

Pra tudo se acalmar
chamaram Dom Gavião
pra ser primeiro-ministro
daquela grande nação;
porém o Jogo do Bicho
quase manda para o lixo
o poderoso chefão.

Eis que um bicho ladrão
na corte do poderoso
queria cobrar propina
na Cachoeira do Gozo,
pra que a sua caneta
liberasse uma roleta
do jogo pernicioso.

Mas o Sapo é engenhoso
e defende o seu menino
demitindo auxiliar
que cometeu desatino;
e assim Dom Gavião
virou de novo o chefão
para cumprir seu destino.

Veio o Jegue Genuíno
ao governo ajudar
carregando noite e dia
cargas d´água sem parar,
a pé ou de caminhão
do litoral ao sertão
jurando a seca findar.

Porém para se tornar
um projeto verdadeiro
não basta só ter vontade:
é necessário dinheiro!
Por isso foi escolhido
pelos bichos do Partido
o Rato pra tesoureiro.

Um dilúvio financeiro
ao governo inundou,
pois o Rato tesoureiro
muito dinheiro encontrou;
e nos dias de folia
Sapo usava a fantasia
da Lula Paz e Amor.

Eu lembro a meu bom leitor
que durante a eleição
velho batráquio passou
por uma transformação:
raivoso Sapo Barbudo
deixou de ser carrancudo,
virou bicho bonachão.

Alguns creram, outros não,
em ser possível mudá-lo.
Porém, de ter duas caras
ousaram a Sapo acusá-lo;
isso deu em bate-boca:
a cachorra correu louca,
e houve briga de galo.

E ouviu-se um grande estalo
como se fosse trovão.
A nação amedrontada
pensou em revolução;
mas logo se acalmava:
era o Sapo que brincava
com o seu novo avião.

Foi no Afeganistão,
depois na Baixa da Égua.
Em um minuto, leitor,
Sapo voava uma légua.
E levou a sua tropa
pra conhecer a Europa,
medindo vinho na régua.

Porém não lhe dava trégua
a selvagem oposição,
acusando desperdício
do dinheiro da nação..
Falou-se em escusos meios,
e achou-se nos correios
a mala do mensalão.

Um raivoso Cachorrão
foi na tribuna e latiu.
A nação preocupou-se
com o que ali ouviu.
Quando perguntaram a Sapo,
ele batucou no papo,
mostrou a língua e sorriu.

Bom leitor o que se viu
foi reação em cadeia.
Um mar de corrupção,
mosca caída na teia.
Mas logo Dom Gavião
Lembrava da “traição
a Jesus na Santa Ceia”...

Porém um cabra de peia
mostrou ser o Cachorrão,
mantendo a sua palavra,
peitando Dom Gavião.
A nação toda se abala
quando ele insiste na mala
que pagava o mensalão.

Bom leitor, preste atenção:
em sendo o cabra empregado
e, nessa sua função,
muito bem remunerado,
é justo, pra trabalhar,
que ele venha a ganhar
o seu salário dobrado?

Pois tal foi denunciado
pelo grande Cachorrão:
dentre a corte congressista
que ganhara a eleição,
alguns não queriam papo:
só votavam com o Sapo
recebendo o mensalão.

Estarreceu-se a nação
ao ouvir tal relato,
e como se confirmou
ser a verdade de fato,
uma semana depois
que Cachorrão o expôs
caiu o Triunvirato.

Gavião, Jegue e o Rato
não queriam ir-se embora,
mas, não suportando o tranco,
todos os três, sem demora,
apesar de seus protestos
e de arroubos funestos,
foram postos para fora.

O Sapo barbudo agora
com outros busca seu norte,
e o modesto poeta
lhe deseja boa sorte,
pois ouviu de uma raposa
que se o Sapo repousa
vai ser ferido de morte.

A tal crise cresce forte
como fogo no monturo,
e confesso: sinto pena
ao ver o Sapo em apuro.
Mas tudo termina bem:
com o Sapo, ou mesmo sem
o tal anfíbio anuro. 

- Distinto leitor, eu juro
que tal fato se passou
no Reino dos Animais
onde vez em quando vou.
Quem acaso duvidar
que pergunte a Sabiá:
foi ele quem me contou!


                 Antônio Adriano de Medeiros