domingo, 19 de agosto de 2012

Um poema sequelar, coitado, bem pequenininho...


O caos, numa imagem da Net



Esses humanos que circulam pela cidade aí afora, não sei o que eles têm, são muito faladores, muito fofoqueiros, muito fuxiqueiros, quase inconvenientes... Eles não se conformam quando sabem que alguém é poeta, parece! Ficam sempre fazendo comentários meio desairosos em nossa presença, a trair um leve tempero de inveja e maldizer. Tinha um poeta ali da boa Natal que frequentava as listas de poesia que ainda hoje frequento, ainda no fim dos anos 90 e início dos anos 2000, e que toda semana escrevia um soneto sobre "A Morte de Adriano"; aquilo me constrangia um pouco, até que entendi que ele estava qurendo dizer pra todo mundo que eu vivia perigosamente, e ia acabar morrendo precocemente devido a tal forma de vida perigosa. Não vou dizer o nome do pequeno poeta, embora o achasse dos bons, mas o fato é que ele acabou desistindo das listas e do enterro precoce, e hoje se dedica mais a suas atividades de engenheiro. 

Era como se o poeta fosse alguém imaculado, e ele insistisse em encontrar uma mácula, para provar não sei o quê...

Agora são pessoas do dia a dia no trabalho, mulheres principalmente, enfermeiras, auxiliares de enfermagem, médicas, uma ou outra pessoa ligada à direção de algum serviço, que vêm, preocupadas, perguntar se "tá tudo bem com você mesmo?", "você tá mais magro!..." Ou ainda, quando falo de algum poema que postei no blog, de quando é, quando foi escrito, se é coisa recente, algumas, com menos educação e/ou massa cinzenta, são mais diretas: "Eu quero ver uma coisa nova sua!", traindo o sentimento de que o coitado não escreve mais, de que ele - este pobre vate sequelado que se arrasta por tão maltraçadas linhas -  nada mais consegue criar de novo, que sua potência poética e decerto quaisquer outras não existem mais.. Tem uma enfermeira baixinha e lourinha (!) que é demais, fica o tempo todo querendo me dar alguma ajuda, um conselho, fazendo um lamento sobre quem foi e não é mais... Teve uma ex-namorada, já bem cansada de guerra, que, vingativa, ao reencontrar-me vários anos depois, sabedora de uns problemas que tive e ao ver o que julga ser minha pobre carcaça sequelar, esqueceu da sua, e me agradeceu muito pelo fato de eu não ter querido casar consigo nos anos 90...
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Pois bem, concordando (ou não!) com tais pessoas, amigas certamente bem intencionadas mas que traem ás vezes um pouco de inconveniência ou mesmo de falta de educação, segue hoje um poema sequelar, mas que é uma faca de dois gumes. Sim, porque os pequenos poemas são os mais difíceis de escrever quando têm conteúdo, quando cheios de idéias e imagens, incluindo trocadilhos, tudo isso em pouquíssimas palavras. Mas também, tapa de luva, não deixa de ser um agrado às amigas, mormente àquelas que não conseguirão compreender o poema como um todo, forma e conteúdo relacionada á vida humana, visto ser ele bem pequenininho, e elas ainda poderão dizer - "olhem só o que o coitado escreve hoje em dia, em vez daqueles longos cordéis tão inspirados, daqueles sonetos seriais tão cheios de imagens eróticas, diabólicas, ou surpreendentes em outras formas..." Pois bem, esse poema eu o julgo muito bom, e, melhor ainda, ele surgiu automaticamente, já quase pronto, durante a leitura de outro poema, o belíssimo A Juventude dos Deuses, do poeta Alexei Bueno, em um livro seu que adquiri recnetmente. É um poema forte. O trocadilho citado é de "casa" com "caos", que as mentes menos atentas poderiam não perceber, há ainda uma palavra que está presente de duas formas numa só... e nada mais direi sobre o bichinho tão pobre, tão pequeninho...

Não esqueçam, doutores e doutoras, de que eu não sou poeta, apenas escrevo versos...

absaam



DA VOLTA PARA CASA


A Morte é a Hora da Chamada.
Você responde "ausente"
e volta para o Caos. 


           Antônio Adriano de Medeiros.