sexta-feira, 8 de outubro de 2010


O MOSQUITO DO TERROR
 
 
Bem sei que não estou à altura de participar de altas discussões políticas como as que se vê em nobres ambiente de nossa vida social, mas suponho que, talvez, nesse segundo turno de eleições, possam surgir exageros em fatos, artigos, opiniões ou sei lá mais o quê, exageros estes que poderiam ser considerados "terrorismo psicológico".

Alguns talvez já tenham até surgido...

De forma que ressuscitei o Mosquito.

Ele está no ar.



O MOSQUITO DO TERROR

Ele anda pelo mundo
há bem mais tempo que nós;
parece pequeno e frágil
mas dos homens é algoz;
estirpe com ancestrais
na terra dos faraós.

Eu fui com dois brocoiós
a um forró arretado
em noite muito chuvosa,
e findei embriagado.
Digam quem apareceu:
o Bem-te-vi encantado!

Disse-me o cantor alado
que nossos amigos bichos
já andavam com saudades
de nossos velhos cochichos,
e perguntou: - "Onde andaste?
Não mais foste a nossos nichos!"

Lá no sítio Carrapichos
um bom forró transcorria,
mas Bem-te-vi convidou-me
a uma festança que havia
de bichos, ali pertinho,
que durava mais de um dia.

Chamou, eu disse que ia,
e saímos escondidos;
no caminho percebi
bichos guardas destemidos,
e Bem-te-vi sempre olhava
a ver se éramos seguidos.

Perguntei: - "São proibidos
os festejos animais?",
e Bem-te-vi respondeu:
- "É casa de orientais:
é lá que está escondido
o tal terrorista audaz."

- "Por Deus ou por Satanás,
Bem-te-vi, diga pra mim:
quem é o tal terrorista
de quem você fala assim?
A Bíblia diz pra evitar-se
a casa de gente ruim."

- "Todos o chamam de Bin,
é um mosquito mutante
que faz o reino animal
mais uma vez triunfante;
ele mandou te chamar
pr'uma conversa importante."

Desde então senti constante
no peito uma apreensão:
seria o tal terrorista
aquele do avião,
e cismara de chamar-me
a dar-me alguma missão?

Mas logo soube que não:
era o Mosquito da Dengue
dançando assim meio torto
um animado merengue:
como estava embriagado,
parecia-me zambembe.

Embora andando capengue
nota-se que é respeitado:
todos lhe abrem passagem,
seu olhar é um ditado;
vem em minha direção,
me chama de "homem honrado".

Deixou-me tranqüilizado
pois disse chamar-se Edinho,
que aquele outro apelido
foi-lhe dado com carinho
em virtude de outro inseto
que usara o mesmo caminho.

Mas que era pequenininho,
só assustava à pobreza,
que os ricos civilizados
têm em sua fortaleza
outros bichos perigosos
guardados na natureza.

- "Eu pergunto, sua alteza:
diga, Mosquito, a razão
dessa festança animada,
da confraternização,
é simplesmente por causa
da recente mutação?"

- "Depois da reeleição,
vou pro 3º mandato
de rei dos bichos guerreiros
na luta com Insensato:
a suja corte de homens
de teu paísim barato.

Mas quando um humano mato
na verdade o sacrifico,
comungo o líquido vermelho
no momento em que o pico,
na celebração da vida
ao homem santifico.

E devo dizer que fico
no momento emocionado,
porque digo, caro amigo,
que o senhor é convidado
a fazer parte da elite
que na doença é cevado!"

Vi vindo pro nosso lado
um macaco muito feio,
a serpente venenosa
e jovem pombo-correio,
e senti-me meio mal
imerso naquele meio.

Percebendo o meu receio
o macaco disse assim:
- "Nobre humano, eu bem sei
que tu não gostas de mim.
Mas não te assustes, meu rei:
sou guarda-costas de Bin."

E disse a serpente enfim:
- "Sabemos que és doutor,
homem culto, inteligente,
prenhe de real valor,
e hoje à tua bondade
nós fazemos um louvor.

Que saibas, caro senhor,
que o convite, em verdade,
fora a ti feito somente,
pela tua honestidade,
para que tu possas ser
um cidadão de verdade.

Devido à nossa amizade
tão intensa e ancestral,
hoje vem te oferecer
- todo o reino animal -
alto cargo na elite
da saúde federal."

Nessa hora passei mal,
suava muito o meu rosto;
e nobre pombo-correio
percebera meu desgosto
e assim interferiu,
como que a contragosto:

- "O nobre recusa o posto
e devemos aceitar:
sabe a responsabilidade
que teria de enfrentar,
conhece as limitações
que em seu pobre ser há".

Logo vi se desformar
a mesa da autoridade,
e Bem-te-vi me chamou
pra voltarmos à cidade,
ele estava meio triste;
hoje nem sei mais se existe
a nossa antiga amizade.

Antônio Adriano de Medeiros

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