terça-feira, 24 de janeiro de 2012

da redenção do cão



Coisa que sempre me chamou a atenção foi o fato de, em nossa Língua, designarmos com o mesmo termo, cão, tanto o maior amigo como o maior inimigo do homem. Resolvi pois investigar, e com algumas consultas à Bíblia (www.bibliaonline.com.br), a um saite de etimologia (www.origemdapalavra.com.br) e à wikipedia (www.pt.wikipedia.org), pude esclarecer o assunto. São dois termos de origens diferentes que em português ganharam a mesma grafia e som. Cão, como sinônimo de Diabo, vem do hebraico, Cam, e segundo leitura sobre etimologia, "os hebreus consideravam os cananeus seres desprezíveis". Li porém, acho que na wikipedia, que foi Cam que deu origem aos cananeus, primeiros habitantes de Canaã. Mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de, tendo Cam avistado seu pai Noé bêbado e nu, ao invés de cobri-lo com um lençol e protegê-lo, correu a, com zombarias, contar a seus irmãos, tendo por isso Cam e sua descendência recebido a maldição do pai - coisa bem parecida com o que aconteceu com Lúcifer. Já cão para referir-se a cachorro tem sua origem, segundo a fonte etimológica citada, no termo indo-europeu Kwon, que se referia ao cachorro mesmo.

O generoso João Batista de Alencastro, médico, poeta, escritor, crítico de cinema, homem culto e viajado, um dos membros da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames nacional), tem ainda o mérito de amar e conhecer bem o nosso fiel amigo, inclusive escrevendo amiúde sobre sua cadela Úrsula, a qual chega mesmo a expressar ideias verbalmente, às vezes, e generoso que tem sido com este modesto vate, decerto não se incomodará de ter seu nome na dedicatória do cordel, o qual tem pelo menos o mérito de não ser dos longos e cansativos. Já não era sem tempo, amigo! Com certeza quando Úrsula souber da Redenção vai transmitir tal fato a outros cães, e, através do boca a boca, isto é, do late late, os cães daqui aos poucos vão deixando de ser desconfiados e tristes.

absaam




A REDENÇÃO DO CÃO

"E viu Cão, o pai de Canaã, a nudez do seu pai, e fê-lo saber a ambos seus irmãos no lado de fora." (Gênesis, 9:22)


Para João Batista de Alencastro


Toda vez que chego em casa
sou muito bem recebido
pela mulher e os filhos
e pelo cão tão querido;
mas de uns dias pra cá
percebi, dei de notar,
o bom cão entristecido.

Que teria acontecido?
O que houve de anormal?
Come bem, se exercita,
tem passeio matinal...
Tem sua casa, espaço...
Recebe carinho, abraço,
tem convívio social...

Algo de especial
notei nas próximas manhãs
quando o cão se reunia
com almas suas irmãs:
pareceu-me, sem enganos,
desconfiar dos humanos
quando estava com outros cães.

De influências malsãs
não há perigo... Até ri:
Todos os seus companheiros
são cães de bom pedigri.
Então dei de me esconder...
- Leitor, vocé não vai crer
naquilo que descobri!

Pelo que vi e ouvi
com experiência e atenção,
sem qualquer sombra de dúvida,
eu cheguei á conclusão
que eles ficam zangados
toda vez que são chamados
também pelo nome "Cão".

E não lhes tiro a razão:
quem sempre nos foi fiel
não deve ser comparado
a um mentiroso cruel...
Pois sabe qualquer marmanjo:
em sendo um cão nosso anjo
não era expulso do Céu!

E frente ao nobre papel
do bom cão, não é direito
que se julgue comparado
a um vilíssimo sujeito
- Arquétipo da Traição,
o Mestre da Ilusão,
espelho mais que imperfeito!

E eu, que sou um sujeito
que sempre busca a verdade,
procurei me informar
de tal erro, da maldade
de tratar com um só nome
fiel amigo do homem
e o Rei da Falsidade

Digo com sinceridade
que há uma confusão:
Cam - um filho de Noé -
deu origem ao nome Cão:
pai bêb'do e nu avistando,
saiu zombando e contando
- recebeu a Maldição!

Já o mesmo nome "cão"
que veio do termo "Kwon"
de origem indo-européia,
designa o cão que é bom.
Um termo vem do hebreu,
o outro é indo-europeu
com a mesma grafia e som.

Mas o bom cão, tendo o dom
de espelhar os mestres seus,
queira receber agora
raros cumprimentos meus:
se de Deus o homem é filho,
tu podes, sem empecilho,
te dizer Neto de Deus!

A Jesus, Jeová e Zeus,
peço a nobre proteção,
extensivas a um amigo,
o generoso João,
a Úrsula tão dedicado
- que receba com agrado
este cordel do bom cão!

Antônio Adriano de Medieros
João Pessoa, 25 de janeiro de 2012.