quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

de doidice, matutice e Zé Limeira


Essa semana, com muita responsabilidade, dedicação e seriedade, até amanhã atualizarei este modesto blog diariamente. Aí vou dar uma pequena viajada ali pro meu sertão, e quando voltar já vão se acabar as férias, e volta o pinga-pinga nas postagens. Vai-me dizer que não sabe o que é pinga-pinga? É o seguinte: quando você pega um ônibus em Patos pra vir pra João Pessoa, pode ser expresso ou pinga-pinga; se for um expresso, ele vem direto, só para nas estações rodoviárias das cidades do caminho; se for pinga-pinga, ih, aí demora muito, o ônibus vai parando na estrada pra pegar passageiros o tempo todo.

Hoje vai um improviso novinho, alimeirado. Zé Limeira, poeta do absurdo, foi revelado ao mundo por Orlando Tejo, poeta, nascido em Campina Grande, mora no Recife; o único compromisso de Zé Limeira era com a rima, mas parece que quase propositalmente ele procurava umas rimas meio provocativas, ainda que parecessem sem sentido. Entre meu improviso alimeirado e a septilha de Zé Limeira incluí um dos Doidos de Mim, espécie de poema aproseado onde alguém se apresenta e fala de suas qualidades, ou defeitos, ou taras, coisas de doidos, características de lunáticos. Nesse caso, é um doido amatutado conversando com outro falando de algo meio pessoal, um estranho amor que acontece nas brenhas interioranas do vasto mundo brasileiro.

absaam



VERSOS IN PRÉ-VISIVES


Zé gato pagou o pato,
comprou um prato
e um preá;
três quilo de carangueijo,
tascou um beijo
na beira-mar;
adispois saiu correno,
Jaci benzeno,
medo de amar.

Marina indéra menina
foi na esquina
doida pra dar;
vil tromba de elefante
muito elegante
já quis pegar;
levou coice de cavalo
inté o talo
quis vomitar.

Um cão tocano viola
muito gabola
espia pra tu;
correu com medo da rima?
passo por cima,
chupa caju;
eu carestia da rosa
pra venenosa
surucucu.

Antônio Adriano de Medeiros


UM MATUTO BESTIAL

- Mas Zé, vou lhe contar,
tem uma jumentinha nova
no sítio de Doutor Carneiro
que é uma maravilha:
já nos entendemos: namoramos, posso dizer.

Nem bem chego lá
ela já vai me dando as costas;
moreninha, meio preta, sabe?,
sempre me dei melhor
com as pessoas humildes que nem eu;
se for lá, não me diga, posso ter ciúmes.

Diante das moças, mesmo as lá do sítio,
sinto vergonha,
e quanto às da cidade, benza Deus!,
eu tremo todo quando eles vêm falar comigo...

A voz de Patricinha, a neta da viúva Bezerra,
é suficiente pra me deixar o bicho de pé, rasga braguilha.
No dia que a filha de Doutor Cavallo foi tomar banho
com seu namorado lá no açude, vige Maria,
eu passei uns dias homenageando ela em pensamento,
sabe? Uma semana inteirinha sem sair de casa!

Mas me dou bem mesmo é com bicho bruto,
éguas, jumentas, cabritas, bezerrinhas...

Já com gatas e galinhas, não: acho maldade!

Antônio Adriano de Medeiros
Doidos de Mim



UMA SEPTILHA DE ZÉ LIMEIRA

Casemo no ano de 15,
na seca de 23.
A moça era donzela,
viúva de 7 mês.
Mas num me alembro que tenha
um dia ficado prenha,
estado de gravidez.

Zé Limeira
Poeta do Absurdo