A foto acima eu mesmo a fiz, vendo-se ao fundo a Casa Santa Maria; Agustim, o herói da história abaixo, está na primeira porta, sendo a segunda pessoa, da qual se vê o vulto algo indefinido; não lembro quem é que está lá com ele. Em primeiro plano, Nathalie, Dinalva e Anchieta, sendo os dois mais jovens netos de Agustim; Dinalva, terceira filha de Seu Agustim e de Donanatilde, dorme com os justos, ao lado dos pais. Infelizemnete tentei muito, mas não teve como conseguir uma foto atual que mostrasse a Santa Maria bem definida, que era meu desejo.
Do lado de cá, em verde, o que era então o Hotel de seu Cazuza; do lado de lá, O Armarinho, a loja original de Amaro Emídio de Morais.
A caminhonete na frente da loja era de Agustim, e servia para entregar móveis e ataúdes, mercadorias da Casa Santa Maria.
A Dra. Maria da Conceição de Medeiros Morais me mandou outra foto, está depois do texto. Pode-se ver a Santa Maria melhor.
Bom, em se tratando de sertão a gente deve estar sempre alerta, que tudo ali começa bem, mas geralmente acaba em bala, facada, ou Processo. Assim sendo, todas as mensagens do presente blogue são enviadas para listas de Poesia lusobrasileiras, a da Escritas e da Letras no Teclado em Portugal, e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, SOBRAMES NACIONAL; não nos venham causar vergonha, queremos apenas fazer poesia e literatura.
Do lado de cá, em verde, o que era então o Hotel de seu Cazuza; do lado de lá, O Armarinho, a loja original de Amaro Emídio de Morais.
A caminhonete na frente da loja era de Agustim, e servia para entregar móveis e ataúdes, mercadorias da Casa Santa Maria.
A Dra. Maria da Conceição de Medeiros Morais me mandou outra foto, está depois do texto. Pode-se ver a Santa Maria melhor.
Bom, em se tratando de sertão a gente deve estar sempre alerta, que tudo ali começa bem, mas geralmente acaba em bala, facada, ou Processo. Assim sendo, todas as mensagens do presente blogue são enviadas para listas de Poesia lusobrasileiras, a da Escritas e da Letras no Teclado em Portugal, e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, SOBRAMES NACIONAL; não nos venham causar vergonha, queremos apenas fazer poesia e literatura.
MEMÓRIAS DO SERTÃO DO SERIDÓ
edição especialíssima:
A LOJA DOS SONHOS DE AGOSTINHO HERMES DE MEDEIROS
Dizem
que começou com uma maletinha de couro, vendendo retrós, perfume,
sabonete, creme dental, escova, nas ruas de Santa Luzia, Paraíba,
obtendo a melhor féria nos dias de Sábado, o Dia da Feira, que é o dia
em que mais se trabalha naquele sertão. O molecote, que um dia viria a
ser meu pai, neto de Inácio Batista Velho, era sobrinho e afilhado de
Pai Dedé da Cacimba da Velha, e assim pôde ter rudimentos educacionais,
aprendendo a ler na Cacimba da Velha, sendo um bom cantador de tabuada.
Menino, ainda o ouvi algumas vezes cantar a tabuada, quando me via
estudando: "um mais um, dois, dois mais dois, quatro, quatro e quatro,
oito, oito vez dois dezesseis...." Para facilitar a memorização, a
sabedoria sertaneja criara, nos distantes sertões secos e sem escolas,
com raros professores, sendo que os poucos que existiam eram aqueles
aterrorizantes armados de palmatória, pois bem, a sabedoria sertaneja
criou melodias cordelistas para ler as tábuas de operações, como se, por
exemplo, de nove vezes um até nove vezes nove, os numerozinhos ali
todos concentrados, fossem os versos de um poema de cordel.
E Agustim perdeu o pai aos 10 anos, que morreu dizem "do coração",
sendo que foi então morar um tempo na Cacimba Velha, ajudando nas lides
da fazenda, vindo da Passagem do Meio, que era o sítio de seus pais; mas
um dia resolveu ir embora definitivamente, aterrorizado com a trilha de
sangue que um guaxinim deixara arrastando um cordeiro.
Por pouco a Trilha de Sangue do Guaxinim não se torna uma realidade
terrível no sertão fascista dos anos 30. Durante a Ditadura de Getúlio
Vargas, o poderoso Major Aristarco simplesemente mandou prender todos os
moradores, donos e herdeiros da Passagem do Meio, e anexou tais terras á
sua Fazenda Santo Antônio; meu pai, meus avós, tias de meu pai,
inclusive uma professora educadíssima, a saudosa Mariú, que morava em
Patos e sempre me contava essa história quando eu ia lá em sua
confortável e hospitaleira casa; ela também foi uma das detidas. Dizem
que o juiz, ou uma autoridade complexa da época, decerto o Coronel,
disse - "Aristarco, você tá ficando louco?", e mandou soltar todo mundo,
mas as terras... Nunca mais! E há o detalhe simiesco: rumores de que,
durante a prisão para anexação gatuna das terras, dois soldados ou
jagunços foram à casa de Zé Ferreira, autoridade político-administrativa
na cidade onde ocorriam as negociações, e disseram ao Major Aristarco
que - "Isso se resolve com dois tões", que seriam dois tostões, quantia
monetária ínfima na época, mormente para alguém que comprara a patente de
Major; já tinha gente se oferecendo aos poderosos fascistas para matar a
todos os tão injustamente detidos. Por aí se vê o que uma ditadura, o que é o fascismo, o que era aquele sertão... Prefiro dizer que tal não nos permite ver como é o Homem... Foi uma aberração.
Como os cordeiros eram de paz, tinham outros valores e decerto talentos mais nobres, não foi preciso ao Major Aristarco gastar seus dois tostões. Os dois manda-chuvas da cidade à época, diga-se em respeito à sua memória, nunca tiveram seus nomes ligados a assassinatos ou crimes políticos, pelo contrário: o Coroné Zé Ferreira Júnior foi um desenvolvimentista e benfeitor da cidade, e na época ficou do lado e defendeu os cordeiros usurpados.
Como os cordeiros eram de paz, tinham outros valores e decerto talentos mais nobres, não foi preciso ao Major Aristarco gastar seus dois tostões. Os dois manda-chuvas da cidade à época, diga-se em respeito à sua memória, nunca tiveram seus nomes ligados a assassinatos ou crimes políticos, pelo contrário: o Coroné Zé Ferreira Júnior foi um desenvolvimentista e benfeitor da cidade, e na época ficou do lado e defendeu os cordeiros usurpados.
Como os cordeiros tivessem imóveis na cidade de Santa Luzia - Paraiba!,
não precisaram ficar vagando como retirantes sem terra nos serotes entre
xique xique, faveleira, macambira e mandacaru, quais homens que
tivessem transformado em calangos nos labirintos infaustos do fascismo
sertanejo.
Por essa época, o negócio de Agustim crescera, ele agora tinha um
banco de feira, onde vendia já objetos maiores, louças, palanganas,
caldeirões, bules, xícaras, alguma porcelana simples, peças de vestuário
e as eternas e queridas miudezas e perfumaria, expressão que venerava.
Indo adquirir mercadorias em Patos e Campina Grande, cuja viagem de
100km durava um dia inteiro no caso de Campina, geralmente em caminhões
de frete, vendia-as nas feiras do Munícipio de Santa Luzia do Sabugy,
que incluía as hoje cidades de Várzea, São Mamede, São José do Sabugy,
São Gonçalo e Junco do Seridó, essas duas últimas já nas brenhas
elevadas da serra, final do Planalto da Borborema, cidades de clima
bastante agradável, mormente à noite, um friozinho propício ao amor.
Abro aqui um parêntese pra dizer que de todas elas, durante minha
adolescência em Santa Luzia, a que eu mais gostava de ir festas era no
Junco, pelo frio, pela subida da serra à noite em opalas de taxistas
ouvindo o rei Roberto Carlos, e por ter a certeza de que lá veria pelo
menos dois rostinhos dos mais belos que já pude contemplar, donos de
sorrisos gentis e olhos promissores.
Mas foi exantamente no extremo oposto que o coração de Agustim
balançou, lá em baixo, claro que nos limites da Paraíba com o Rio Grande
do Norte, certo dia na feira de Várzea.
Mâinha gostava de dizer
que "ele chega rodava nas pontas dos pés..." naquele que foi, pelo menos
para mim, o mais importante dos dias de feira na boa, bela, e
hospitaleira cidade de Várzea.
Josué Manuel da Costa, sobrinho do Velho Amaro do Poção, descendente
ele e sua mulher e prima Matilde Magna, dos Freire de Araújo e dos
Tavares das Costa, era dono, com seus dois irmãos, das terras entre as
sedes das cidades de Várzea, na Paraíba, e Ouro Branco, no Rio Grande do
Norte. Além disso, tinha outros tesouros, sendo que o mais notável e
precioso daquele final dos anos 30 do Século XX eram os olhos verdes de
Joana, uma de suas filhas mais novas, entre os 13 e os 15 anos. Diz que
juntava gente para ver, havia rapazes que vinham de outras cidades e de
sítios distantes nos dias de feira em Várzea só para poder sonhar
por alguns instantes, talvez com um distante e verde, desejado mar,
contemplando aqueles olhos glaucos - os de Matilde Magna, orgulhosíssima
mãe de Joana, tinham a cor celestial.
Pois o que fazia Agustim rodar na ponta dos pés, quase girando no ar
que nem um bailarino, era, a princípio, aquele par de olhos verdes. E
foi à dona deles que Agustim dirigiu primeiro a palavra dizendo alguma
jocosidade, certamente, quando as jovens se aproximaram do seu bazar.
Entretanto, a bela era ainda uma menina imatura, e quem soube acolher a
empolgação do animadíssimo dono do bazar, como se chamava naquele tempo
esses barracos de feira que incluíam inclusive jogos - um bingo! - foi a
irmã mais velha, em solteira Anatilde Magna de Araújo.
Casaram na Noite de São João do ano de 1940. Talvez, quem sabe, tal
casamento matuto tão arretado entre um paraibano e uma
paraibana-potiguar, em noite de amor e fogo e forró, e ainda com a
presença dos olhos verdes de Joana, tenha contribuído de forma decisiva
para os primórdios daquele São João de Santa Luzia que se tornou até os
primeiros anos do Século XXI a festa mais tradicional da região, famosa
não só pela qualidade do forró com zabumba, triângulo e sanfona, mas
principalmente pelas singulares, encantadoras beldades que de repente
tomavam as ruas da cidade, chegando ao clímax da beleza, requinte e
encantamento nos célebres forrós noturnos do Yayu Club.
Mãinha não tolerava ouvir o que vou dizer agora, dizia que era
mentira do povo, invenção, fuxico, fofoca, maldade, mas o fato é que há
rumores que Agustim vendeu o gado na beira do açude novo. É que Anatilde
tinha gado, teve um dote, vacas, bois, garrotes, bezerros, inclusive um
rebanho de cabras azuis dos quais ela sempre se recordava com certa
nostalgia e um timbre diferente, emocionado, na voz, mas nunca me
revelou o montante do gado, dizendo apenas que "Eu casei pra isso
mesmo... Vocês não acham bom ter as coisas?... Agustim sempre soube
negociar..."
Que o Danado tinha tino pro comércio, isso é inegável, mas o fato é
que a loja na rua principal da cidade, cujo prédio é um dos pontos
comerciais mais estratégicos do centro comercial de Santa Luzia ainda
hoje, sendo de sete herdeiros, foi adqurido depois do casamento...
Agustim rondava aquele ponto com sonhos coloridos, róseos, prateados,
vermelhos, azuis e a imagem de uma santa, e para chegar até ele, me
disse a sua filha Deusa, sempre rondando, sempre se aproximando,
precisou mesmo a morar uns dois anos no Beco do Inferno, lá em baixo, no
início do Beco do Inferno com a Padre Ibiapina. Disse-me Dêda que -
"Quando eu era menina, me lembro que sentava ás vezes ali perto de onde
mora Edenilda..." Já é a parte mais nobre do célebre Beco do Inferno,
que une a rua onde nasci com principal, a praça do comércio da cidade.
Que imagem rara: a Pequena Deusa sentada na calçada de um Beco do Inferno no sertão...
Que imagem rara: a Pequena Deusa sentada na calçada de um Beco do Inferno no sertão...
Pois Agustim adquriu, em meados dos anos 40 dos mil e novencentos,
de familiares do Dr. José Benício de Medeiros, um bom imóvel que tinha
uma loja e uma residência ao lado, e apesar de não ter à época uma
fachada, o nome de fantasia já era Casa Santa Maria. O Danado abriu
ainda outra loja nas proximidades, a qual era mui bem gerenciada por
Ideltrudes, mais conhecida por Detu, e, imaginando que o comércio fosse
fácil como mágica, e querendo ajudar no progreso de outros familiares,
abriu ainda lojas para dois irmãos seus, e facilitou estimulou ainda
para dois de seus cunhados, sendo que desses quatro três não tiveram
futuro, apenas um foi comerciante até seus últimos dias, o bom Biim,
casado com Memencha, a inteletual da filhas de Josué, que mora hoje com
os filhos em Natal.
Além da loja, aliás, das duas lojas, Agustim ainda tinha o bazar com
o bingo, ele não vendeu nada, não, só acresceu, de 1940 aaté meados dos
anos 80 dos mil e novecentos. Pemanencia nas feiras da região, agora
dera de ir fazer compras até no Mercado de São José no Recife, dois dias
de viagem, permencendo porém fiel até o fim da vida a Patos e Campina
Grande, Nas Festas da Padroeira, Santa Luzia, e de Nossa Senhora do
Rosário, Agustim montava seu bazar com o bingo, e era ainda quem fazia
os leilões de uísque, galinhas assadas, e cestos de Natal na cidade.
Foi então que contou com uma ajuda inesperada, a ajuda dos bichos.
Já
que tinha seu bazar, e era um homem bem relacionado, pacífico, e
gostava da vida, sendo inclusive a única pessoa autorizada na cidade a
vender o célebre lança-perfume Rodoro até sua proibição por Jãnio
Quadros, que de uma tacada só proibiu também a briga de galo e o biquini
nas praias, Agustim um dia transformou o seu bazar que tinha apenas um
bingo que funcionava alternadamente, numa permanente Banca de Jogo de
Bicho.
- Milhar, dois; centena, zero; dezena um; unidade, dois: 2012 - No
caso, o Bicho do dia seria Burro, pois as dezenas finais é que indicam o
Bicho que deu, e os finais 09, 10, 11 e 12 indicam o terceiro bicho dos
vinte e cinco possíveis, e o 3 é o número do Burro. o Veado é do Grupo
24, mas para que o Veado dê é preciso que as dezenas finais sejam 93,
94, 95 ou 96; já 97, 98, 99 e 00 correspondem ao grupo 25, o grupo da
Vaca, perigosíssimo Bicho para um dia de feira, pois a Vaca é ainda o
animal com que mais sonham os sertanejos, sagrado animal que deu sorte a
tantos, e azar terrível ao Banqueiro do Bicho, nobre título do dono da
banca na Paraíba nos tempos que meu pai era vivo, quando o Jogo do Bicho
era estadualizado, decisão do Governador João Agripino Filho, pois
sendo a Paraíba um dos Estados brasileiros com menor oferta de empregos,
decidiu aquela Autoridade que não deixaria pais de família sem emprego e
famílias passando fome, referindo-se aos cambistas, os homens que
passam o Bicho, que aviam as apostas por escrito; João Agripino Filho
teve topete para peitar pois uma Lei Federal nos tempos de Regime
Militar, em defesa dos cambistas do Riacho da Serra, e de outros
distantes ermos sertanejos.
Agustim porém era homem por demais crédulo, e certo dia uma cigana
lhe jogou uma rasteira, dizendo que não deixasse a Banca de Bicho como
herança para nenhum ods filhos, pois um filho seu se perderia no Jogo...
E vendeu a Banca de Bicho em 1981, havendo porém aí a razão nobre de
ajudar uma filha a adquirir um apartamento no Edifício Passárgada, em
João Pessoa, quando um dos filhos foi aprovado para o ingresso na
Faculade de Medicina. Quem era tal tal filho? Um certo Nanim, eu mesmo.
Falemos finalmente do sonho e da santa, da loja dos sonhos de
Agostinho Hermes de Medeiros. Agustim era mariano, um católico devoto de
Maria, e lembro que, em seu funeral, quando o padre, cumprindo sua
missão, adentrou à nossa casa para a Missa de Corpo Presente,
Donanatilde, emocionada e empolgadissima com a certeza de que aquilo era
ingresso garantido para uma das mais nobres regiões celestiais, correu a
mostrar ao pároco de Santa Luzia a Medalha de Mariano cruzando o peito
de Agustim. Lembro que aquela demonstração de fé e esperança me encheu
os olhos de lágrimas, sendo talvez um dos momentos mais belos que já
pude presenciar em um velório..
E certa noite Agustim teve um sonho.
Uma certa noite Agustim
sonhou que uma santa lhe surgia, e que tal santa era Maria, e era a Mãe
do Salvador. E o que a Mãe do Divino Amor, tão bela, nobre e serena,
vinha à cidade pequena para prestar-lhe um favor. E que a santa lhe
ordenou, sempre falando em poesia, que a Casa Santa Maria afinal
desecantou. Que Agustim e descendência mudassem de residência para
expandir seus negócios, e que tivesse paciência que a Divina Providência
estava ao lado, qual sócio. E pra findar a poesia e a beleza ser tanta,
a Casa Santa Maria ia exibir, noite e dia, a imagem de Maria, a imagem
de uma santa...
Levou naturalmente alguns anos para que o sonho da loja da santa se
concretizasse. Primeiro se fez a casa do Açude Velho. e só uns três a
quatro anos depois é que a loja com as duas portas de ferro finalmente
estava pronta. O pintor da santa veio de Recife, e juntou gente para
ver, como se fosse não uma representação, mas uma epifania. Havia
naturalmente os pessimistas praguejadores, e dizem que, diante do que se
julgava ser um gasto exagerado e louco para o comércio de uma cidade
pequena:
- "Ele tá lascado..."
Mas não, a inauguração foi um sucesso,
teve gente pra danado comprando, e se viu pela vez primeira uma loja
naquele pequeno sertão que queria imitar as grandes lojas das
metrópoles, que não fechava inclusive para o almoço, que distribuía
gentilezas aos fregueses, com mensagens escritas coladas em estátuas, e
principalmente no tratamento ao freguês:
- Pois não, meu irmão, ás suas ordens!
Na década de 70 houve
ainda a grande expansão, com mais uma porta de ferro sendo aberta, e
sendo que Agustim passou também a vender móveis, confecções, calçados, e
artigos funerários. A idade, a ida dos filhos mais novos para a
capital, o desinteresse dos demais pelo comércio, quase fazem Agustim
quebrar nos anos finais dos 80, mais ele se segurou, e hoje ainda resta
lá o prédio e uma loja, mas com artigos diferentes, a cargo do caçula,
Anderson. Um terço do prédio coube ao filho mais velho, por decisão de
Agustim, e os dois terços restantes são dos demais herdeiros, sendo que
quatro se recusam aabsolutamente a negociar suas memórias e seu
patrimônio, embora se disponham até fazer eventuais reformas para a
venda das pequenas partes dos interessados, desde que o valor da reforma
seja abatido em área do terrrenos a negociar. Eu sou um dos imutáveis.
Agustim inventou ainda, na década de 70, uma feira de sábado anual
em que a Casa Santa Maria, já com a expansão para venda de móveis, dava
um desconto de vinte por cento em todas as mercadorias. AInda houve
algumas dessas promoções, e a loja ficava tomada de gente desde a manhã
até á noite, sendo uma grande feta na cidade. No caixa da loja, se
sentindo importante e rico, mas sempre prestativo, só alguém da mais
estrita confiança de Agusitm, alguém como Nanim.
A loja era toda vermelha, ou encarnada, mas a Imagem da Santa foi
pintada em tons róseos e azuis, talvez uma homenagem à amada imortal,
Anatilde, que era um rosa, e que doou de bom grado o seu gadinho e suas
queridas cabras azuis.
Que Deus os tenha a ambos, em seu rebanho multicor.