sábado, 13 de outubro de 2012

O Mito do Minotauro é decifrado



Usufruindo de tempo e liberdade total para criar, pude enfim dedicar-me ao velho projeto de decifrar o Mito do Minotauro. Os versos, propositalmente longos e meio proseadores, para imitar os gregos ancestrais, acabaram-me rendendo alguns achados. Mas que estorinhas maravilhosas inventavam oa gregos, os verdadeiros inventores do Homem...

Um poema com três capítulos.


absaam




                                         O MITO DO MINOTAURO





I


MINOS E PASÍFAE - CHIFRES, TRAIÇÕES E FEITIÇARIA



Antiquíssimo rei de Creta, tarado por ninfas e mancebos
- sendo por isso considerado ainda o inventor da pederastia -
Minos, de tão ardiloso julgou poder ser perjuro aos deuses,
e quando rogou a Posídon que fizesse sair um touro do mar
prometeu ao Treme-terra que em seu louvor sacrificaria o belo animal.
O favor de Posídon rendeu a Minos o trono de Creta,
mas eis que o rei, todo cheio de afetos pelo magnífico bovino
- sem chegar, porém ao abominável bestialismo homossexual -
decidiu incluí-lo em seu rebanho. Posídon, irritado com a traição,
fez com que o rei se tornasse o corno emblemático, o corno
fundamental, o sócio fundador do clube dos chifrudos na História.

A rainha Pasífae certamente era bela, do contrário não encantaria
um pervertido polimorfo como Minos, mas ciumenta e feiticeira
- Irmã de Circe, tia de Medéia - a rainha bruxa, sabedora das amantes
do marido, urdiu maléfico feitiço que fazia sair do corpo do rei traidor
serpentes venenosas e escorpiões peçonhentos, os quais devoravam
prontamente aquela a quem Minos iria desfrutar em seu leito real.

E quando o rei se apaixonou pela bela e casada Prócris, sua protegida,
a mesma, sabedora que cobras indesejáveis do corpo de Minos
em vez de lhe darem prazer lhe causariam a intervenção da Parca Má,
conseguiu de Circe, irmã da própria bruxa ardilosa, enciumada e mortal,
uma erva que desfez o maléfico encantamento, podendo assim o rei Minos
usufruir dos prazeres que poderia lhe ofertar a bela e sábia Prócris,
nas mais diversas maneiras, nas mais diferentes posições. Como prêmio
pela libertação do feitiço, a bela traidora pediu e recebeu um cão
que jamais soltava a presa, e uma flecha que nunca errava o seu alvo
- Metáforas, decerto, das gloriosas trepadas que perpetraram, sendo ela
o cão que não largava a presa, e Minos a flecha que jamais falharia.

Eis que então é chegada a hora da Vingança de Posídon - e quem
mais vingativos que os numes imortais, tão ciosos da cobrança
de sacrifícios, oferendas e promessas? Que terrível estratagema urdiu
um dos três mantenedores do mundo! Fez surgir no coração de Pasífae,
rainha de Creta, até então a respeitada esposa do rei Minos, uma paixão
incontrolável em ser penetrada sexualmente pelo touro que surgiu do mar
para dar o trono da ilha ao marido, paixão tão avassaladora que virou
de uma vez a cabeça da rainha bruxa, se tornando uma tara, uma obsessão.

Mas o touro, o amado, o desejado, o sonhado, o idolatrado, o tão querido
que poderia até mesmo rasgá-la onde quisesse com seus descomunais
chifres que ela assim uivaria como uma loba ou uma cadela enlouquecida
de prazer bestial - se bem que a rainha louca desejasse ser rasgada
por outra coisa pontiaguda do bovino tão sonhado - o touro, o desejado touro,
de forma alguma retribuía àquela paixão louca. Ai, como a rainha bruxa
engatinhou nua, rebolando as dadivosas e brancas, sedutoras ancas,
à frente do magnífico touro, que em vez de garanhão se fez de jegue, de burro,
aos apelos desesperados da cadela no cio, da rainha de Creta, ora de quatro.

Foi aí que entrou Dédalo, um sábio inventor ateniense que se refugiara
em Creta por assassinado, sendo protegido de Minos. Sabedor que fora
da paixão de Pasífae pelo touro que surgiu do mar, construiu para a rainha
uma vaca de madeira, e dessa forma a vaca apaixonada pôde ser saciada
em sua paixão, em sua tara, em sua obsessão. Não só berrou a vaca louca,
ela uivou e ganiu, babou e pulou, choramingou, miou, e bem alto latiu.


II


MINOTAURO, O MONSTRO - TESEU E ARIADNE


Decerto num intervalo de tempo intermediário entre as gestações humana
e bovina, veio à luz o monstruoso fruto daquele amor louco e bestial,
um ser humano com cabeça e chifres de touro - os chifres do corno Minos,
pespegados pelo vingativo Posídon. Envergonhado e aterrorizado, o rei
foi quem dessa vez procurou o sábio Dédalo, que além de bom marceneiro
era ainda excelente arquiteto e escultor, em busca de uma prisão ao monstro.
Foi então que Dédalo construiu um imenso e escuro labirinto para o bicho,
em verdade um misto de palácio e de prisão, visto ser o monstro Minotauro
ainda um príncipe cretense, sendo que o filho de Pasífae - um príncipe, sim -
tinha naturalmente seu nome bem humano. E o seu belo nome era Astérion.

Estranho misto de homem e touro, devorador de homens... O pérfido Minos
- sempre protegido pelo pai, ninguém menos que o mais poderoso dos numes,
o porta-raios, sim, ele mesmo, o próprio Zeus - para justificar ainda mais
o seu poder sobre outros reinos, passou a exigir vítimas anuais que viriam
de Atenas, sete jovens, desarmados, e que deveriam enfrentar o monstro
em seu palácio escuro e labiríntico, e de norma nenhum jovem retornava à luz.

Foi ai que um herói de verdade, semelhante a Héracles em coragem e força,
cujo nome era Teseu, se ofereceu voluntariamente para enfrentar o monstro
cretense tauricéfalo, ora imbatível. E quando Teseu chegou a Creta, foi visto
pelos olhos da encantadora, bondosa e sábia princesa Ariadne, e os olhos
da princesa acharam Teseu um tesão, e em suas estranhas palpitou o desejo
que a mãe outrora sentira por um touro que chegou do mar, e tal qual a mãe,
rainha, bruxa, cadela e vaca, Ariadne também quis ser montada por Teseu
quando ele chegou do mar, e foi assim que ela espontaneamente deu a ele
um novelo de linha cuja ponta foi amarrada à entrada do Labirinto do Monstro,
e cujo novelo ia sendo desenrolado à medida que o herói ateniense se ia
enfurnando nas intricadas vielas do palácio escuro, muitas sem saída alguma;
para iluminar o caminho de seu escolhido, cavalo e touro, Ariadne também deu
a Teseu uma lanterna. Dessa forma o Minotauro foi morto a socos por Teseu.

Ariadne logrou dar também a Teseu o que ela mais queria dar, seu corpo,
as delícias da boca, do colo, as nádegas macias, os seios sedosos, e Teseu
gostou tanto das dádivas que se casou com a princesa cretense, e se foram
em um navio. Mas logo a abandonou, ainda grávida. Não que a abominasse,
é que Ariadne era desejada por alguém maior, ninguém menos que Baco
- sim, Diônisos - o qual também desfrutou do belo corpo, e ainda o emprenhou.

Eis que Minos, rei, mentiroso, corno, tarado, pederasta, pervertido polimorfo,
teve conhecimento de que fora Dédalo quem transformara a rainha em vaca,
e em seguida mandou aprisioná-lo, junto com o filho Icário no breu do Labirinto.
Mas o sábio inventor logrou construir asas para si e para o filho, as quais prendeu
com cera aos corpos de ambos, e assim o sábio inventor conseguiu safar-se,
chegando são e salvo a Cumas. Triste sorte porém teve seu filho, o pobre Icário,
o qual ousou chegar perto demais do sol, a cera acabou por se derreter ao calor,
e eis que Icário se espatifou no chão qual um inseto em que se pisa em cima.




III - (FINAL)


MINOTAURO, O HOMEM


Por trás de todo mito monstruoso se esconde uma verdade bem humana.
E em verdade, em verdade, pois, vos digo: que durante o longo período
em que Minos não pôde procriar, vez que fora acometido de grave doença
venérea da qual foi salvo por Prócris, a cadela fiel por isso mui merecedora
da flecha infalível, teria a rainha bruxa padecido abstinência sexual total?

Humanos,  tão humanos são o desejo e os chifres... Eis que havia em Creta,
exatamente na época em que Minos estava privado de usar a sua flecha,
um belo, jovem e atlético rapaz de nome Tauro. O sangue nobre de Pasífae,
rainha, bem que tentou permanecer fiel ao rei enfermo, mas havia ainda
o sangue mau, o sangue de bruxa, que queria ser cadela e vaca. E Tauro
foi o escolhido, touro e garanhão, e bem humanos foram os ganidos, uivos,
os latidos, a baba que escorreu, dadivosa, os miados, as costas arranhadas...

E eis que um príncipe veio à luz em Creta, e o povo ficou feliz, pois que era
um belo e forte e atlético príncipe, filho pois de Minos, mas a cara de Tauro...
Logo apelidaram-no de Minotauro, mas seu nome, belo nome era Astérion.

Minos, envergonhado com a semelhança entre o príncipe e o jovem Tauro,
mandou-o para as montanhas, onde foi criado por pastores. O jovem cresceu
forte como o pai, não o pai de araque, o rei venéreo, o corno, o velho pederasta,
mas sim qual o legítimo Tauro, touro e garanhão. E eis que um dia o jovem
brigou com os pastores e os derrotou, e se refugiou numa caverna escura,
o verdadeiro Labirinto. O rei corno, enfurecido, urdiu então maléfico plano
para matá-lo, exigindo assim de Atenas um tributo anual de sete fortes jovens,
os quais conseguiriam a liberdade caso lograssem matar o Minotauro,
o qual deveria ser enfrentado a murros e socos, sem quaisquer armas.

Mas quando Ariadne viu Teseu tanto desejou ser cadela e vaca que deu a ele,
de forma absconsa, uma espada, e foi assim que o Minotauro foi morto.

Minos, beneficiário do ancestralíssimo nepotismo dos poderosos, ainda
logrou, após sua morte, ser um dos juízes dos Infernos, o reino subterrãneo
do de seu tio Hades. Quanto a Pasífae, a vaca... Ora, a vaca foi pro brejo!



                                        Antônio Adriano de Medeiros
                                        João Pessoa, 12 e 13 d eoutubro de 2012