sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Homenagem ao Poeta Aníbal Beça





QUASE PSICOGRAFADO

Um anjo aqui passou dos parecidos
com o grande arquiteto do universo:
deixou diversos templos construídos
na preciosa pedra do seu verso.

Artífices maiores da poesia
ergueram-se à passagem do tal anjo.
Tão satisfeitos eram àquele dia
que mais de um eu vi tocando banjo.

Beberam e fumaram na canoa,
e deu leseira - a coisa era da boa! -
em Pessoa e Drummond, até no Eça.

Não pude disfarçar a emoção
ao ver ali dileta assombração:
a caveira de Augusto ria a Beça.


Querido Adriano:
Movido pelo seu "Quase psicografado", imediatamente compus a resposta, aqui
mesmo no outlook. Doido pra pegar vc. on line.Mas vejo que a pressa foi,
quase, em vão.
Vc. que é pareceiro do Bel, me fez, com sua bruxaria, escrever Baal.
Realmento o Demo está certo: há muitos deuses falsos andando por aí...

Grande abraço

Era um cão muito esquisito
em vez de latir berrava
as pernas como gambitos
não mordia mas soprava.

Era um cão desentranhado
do fundo fogo vulcânico
vinha sempre acompanhado
por um vampiro satânico.

Fugindo da Parahyba
foi em Natal se alojar
fez amizade co'Aniba
àquele do Zé do Angá.

Eram vistos pelas praias
fumando estranho cigarro
diz-que pra afastar arraias
e muriçocos bizarros.

Um dia certos meganhas
atraídos pelo cheiro
pela fumaça castanha
se achegaram bem fronteiros.

Deram co'a cara no chão:
os dois apenas falavam
de um tar Rimbaud temporão
e seus versos declamavam

Anibal Beça.

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CANNABIS

Para Charles Baudelaire

Não é o perfume de tal flor
que mais aos sentidos inebria:
o seu fumo - confesso - tem mais valor,
e o demorado trago é que nos extasia.

Ébria comunhão de gestos proibidos.
Ritual incendiário de bárbaros pós-modernos.
Incenso que parece tornar corrompidos
espíritos juvenis pelo Senhor de Infernos!

Uma inequívoca verdade cristaliza-se no ar,
óbvia, límpida, fugidia.... logo se desintegrar.
- E depois, e depois, o que nos resta?

O que é legado a quem prova do que não presta?
- O grande Mestre dos falsos paraísos e das flores doentias
já falava da névoa que embaça os nossos tristes dias.


Antônio Adriano de Medeiros

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O PROFETA DO CÃO

Anibaal Beça



para Antonio Adriano Medeiros



Aqui na selva as águas reconhecem

Os querubins e arcanos pelo fumo.

Àquele, dá leseira aos que não tecem

Na fina palha do milho o seu rumo.



São anjos de primeira que aparecem

neófitos cavalos sem um prumo.

São às vezes pacientes e repetem

receitas neurológicas pro consumo



passadas por um médico, doutor,

conterrâneo de Augusto, meu poeta,

maldito pelos versos de estupor.



Psiquiatra conhecido como esteta,

no cânhamo se sabe sonhador:

Do Cão endiabrado é seu profeta

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2 comentários:

  1. Testando, pq. Amélia disse não ter conseguido postar comentário. Bjs,nana

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  2. Ora até que enfim que o encontro!

    Adoro sua poesia,

    maria

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