quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Da grande alma poética, e do Diabo e renascença

sobre a imagem acima, diz o autor da página da Net de onde a tirei: "...  é o batismo do Anticristo. Em clara das principais reformas, o Anticristo tem em sua cabeça uma tiara papal. É cercada por um grupo de demônios vestidos como padres e freiras. A pia batismal encontra-se em chamas e o padre realizou a cerimônia foi burro orelhas, patas e garras e asas segurando uma nerdiludium ou backgammon tabela (não é brincadeira), que simboliza a Igreja Anglicana."
http://www.acemprol.com/lucifer-renascens-renascenca-ou-representacoes-do-diabo-t4781.html



São três poemas que os julgo dignos de receberem uma visita, poemas de qualidade embora meus, e poemas ricos em achados, informações, literatura,  conhecimento.

O primeiro poema é bem recente, é aquele poema sobre Safo de Lesbos voando sobre os mares. Eis aqui o poema, o comentário vai depois; as explicações sobre  a rica vida da Poeta estão em outra pagina do blog:


PÁSSARO - QUE TANTO HÁ MAR!


                 "plus belle que Vénus se dressant sur le monde!"


Além do vasto mar de vagas incessantes
por onde as caravelas escoaram dobrões,
existe um outro mar de vogais, consoantes,
por onde os caros versos escoam emoções.
Há um mar todo estúpido, salgado, lunático,
e um mar todo espírito, sagrado e lúcido;
um mar de dinossauros, terrível, antipático,
e um mar de dignos salmos, melífluo e lúdico.
Há um mar de naufrágios, monstros e procelas,
e um mar de naus frágeis, mantras e donzelas.
Um mar que nos afoga, devora, massacra,
e um mar que nos afaga, dá voz e mais sagra.
- E por sobre os dois mares, pássaro colossal,
está Safo de Lesbos em seu vôo fatal.


                  Antônio Adriano de Medeiros
                  Natal 12 09 2012


A questão é que qualquer pessoa de cultura humanista reconhece a profunda grandeza do soneto acima.  O que me move  a escrever sobre ele de novo, porém é outra coisa; daí a referência à Grande Alma Poética, a uma suposta sensibilidade excerbada que quem sabe certas criaturas - narcísicas? - possam ter. Notei que o poema queria me dizer algo assim que terminei. Estava em Natal naquele dia, e escrevi num receituário branco de um hospital, e faltara o acento de "Está" - Então o poema acabava assim

- E por sobre os dois mares, pássaro colossal,
esta Safo de Lesbos em seu voo fatal.

Ora, "esta Safo de Lesbos" pode mui significara a Grande Alma Poética  por excelência, e na~o preciso justicar, e daí a alma humana. Teria a minha ultrassensível alma antes de quaisquer exames bioquímicos, percebido que havia dois mares lutando dentro de mim, um mar de vida e um mar de morte? Os dois mares vermelhos, o meu mesmo, e o mar do câncer.


                                                             *             *              *

Agora, para apresentar o raro (ele não gosta muito de aparecer, não) Um Encontro Muito Estranho, preciso antes abrir um pouco a cabecinha sua leitora, de quem eu gosto muito - por favor, não saia já correndo com medo do Diabo.

O Diabo, Satâ, Lúcifer, Samael para os mais cultos, Pedro-Botelho, ou simplesmente Cão ( a amiga sabia que Diabo e Dianho vem de Diana, nome latino da deusa grega Afrodite?) é uma figura importantíssma na Literatura Universal. Eu que lia Baudelaire menino e tive irmãos cultos e livre-pensadores, mesmo filho de um mariano e de um Zeladora do Coraçao de Jesus - com orgulho, por sinal - sempre gostei de rock verdadeiro e de sátiras e do Renascimeto, logo notei que o Mito de Satã tinha muito a me ensinar, que através dele eu poderia libertar-me de uma forma de pensamento arcaico, limitante e mesmo meio paranóico, que é a pensamento fundamentalista cristão.

Foi quando, na Alliance Française, descobri que o Diabo é considerado uma figura central do Renascimento, e na Itália e na Alemanha era recebido com honrarias, e naturalmente sua figura se prestava a sátiras de reis, santos, padres, luteranos, e do próprio Papa,

Olhe só que achei sobre a evolução do Mito do Diabo, ou do que chamamos de Diabo, da Alta Idade Média para os dias atuais:

"O mito do Diabo cristão passou por esse processo (de se tornar um bem de consumo da indústria cultural). Durante o devir histórico ele experimentou sua sistematização e unificação por meio dos teólogos dos séculos XII-XIII adquirindo, assim, suas características que o marcaram em toda a época moderna, vivenciou o auge na sociedade européia nos séculos XIV-XVI através dos artistas renascentistas, foi enfrentado pela luz da razão e, conseqüentemente, enfraquecido pelos filósofos e cientistas da época do Iluminismo nos séculos XVII-XVIII, resgatado pelos poetas e escritores românticos dos séculos XVIII-XIX e, finalmente, apropriado, distorcido e fragmentado pela Indústria Cultural no século XX.

A partir das produções artísticas do período citado, o mito do Diabo mostrou características de descontinuidade em sua representação, reflexo da visão que a evolução da sociedade européia e ocidental fazia dele. Se em dados momentos o Diabo é figura terrível e temida nos afrescos das igrejas e nas telas dos pintores renascentistas, em outros momentos ele é submetido a ironias e aproximado à mentalidade dos burgueses na era romântica, tornando-se reflexo de uma sociedade contrária às ideologias da Idade Média e do Antigo Regime e, por último, no século XX o Diabo é encontrado nas telas dos cinemas, nos jogos de videogame, na publicidade, nas letras das músicas de Heavy Metal, na Internet e nas histórias em quadrinhos, evidenciando o desapego ideológico de sua figura e sua banalização enquanto mercadoria para as sociedades de consumo.

Portanto, as artes evidenciam a evolução que o mito do Diabo sofreu com o devir histórico e suas conseqüentes metamorfoses sofridas no campo das ideologias sagradas e profanas. Tendo, provavelmente, a Indústria Cultural desferido o golpe final que tornou o mito do Diabo um mito destinado a ser objeto de consumo, um mito a serviço do entretenimento nas sociedades pós-modernas." (extraído de http://www.urutagua.uem.br/005/20soc_almeida.htm )

Mas não foi fácil ter poemas sobre o Diabo aceitos em listas de poesia brasileiras; uma tal katarse me deixou falando sozinho por mais de um mês, o dono só contando vantagem de maldizendo de meus verso numa lista paralela com outros "poetas", até que uma amiga de Portugal me avisou, e eu saí sme dar satifações. Nunca ouvi falar num só dos membros daquela coisa.

Já a lista Escritas, ou do Encontro com Escritas, cujo patrono é um historiador e poeta bastante talentoso e culto, José Nascimento Félix, angolano-português radicado em Portugal há anos, aí é que tá, aí se podia escrever sore os deuses todos e as deusas todas, o Diabo, os canguins, elfos, duendes, anões, Santa Tereza d'àvila, o diabo a quatro... E as pessoas em vez de criticar, fazer o sinal da cruz e esconjurar, elogiavam, davam informações úteis complemetares, e até diziam que aquilo não era um simples poema de cordel...

Eu podia ser um poeta normal em outro mundo, aquilo que escrevia tinha interesse para pessoas num mundo que falava minha Língua, e aquilo não era assim tão raro, fui descobrindo. No Sudeste e Sul do Brasil...

De forma alguma sou um satanista. O que é isso? Os poucos que vi eram psicóticos assassinos, outras duas psicóticas adolescentes que queriam proteção ou falar de suas fantasias delirantes tão perversas que dão nojo, de bacanais com pai e mãe, sacrificíos de bebês, missas negras... XÔ!

Prefiro esses doidinhos que todo dia de manhã enchem as listas com mensagens otimistas religiosas, eu não leio, mas há quem leia, nem sempre me fazem mal, só quando cismam...

Bom, o Fausto de Goethe e o Dr Fausto de Thomas  Mann muito me ensinaram sobre digamos as características mais masrcantes de tal senhor, que me apresentado fora por um poeta francês entre litanias gregoriananas e flores do mal.

Foi assim que aprendi que o Diabo tem um pé de bode e puxa uma perna quando anda, sendo pois manco; que uma lufada de frio gélido sempre o prenuncia e acompanha, assim como um séquito de animais - que o fazem de longe, sem dar bandeira - Corvo, cão, gato preto, bode, qualquer bicho pode, até poqeu o Diabo pode precisar metaformoseare-se em bicho para uma fuga estratégica. Das artes, a Música é a preferida de Sua Alteza Infernal, e padres e religiosos são muitas vezes seus protetores e coiteiros, os nobres, que  o pessoal do candomblé e afins são escancarados.

O Diabo é o cangaceiro dos deuses.

O poema Um Encontro Muito Estranho descreve um encontro totalmente por acaso que o poeta teria tido com o Diabo - só pode ter sido, leitora amiga, a própria pessoa de Samael ora caído, que muitas características das grandes obras citadas - aos interessados, simpatizantes da grande literatura maior que a própria Bìblia (em termos de qualidade literária, digo), recomendaria Doutor Fausto, pela modernidade, ironia e elegância - estão aqui em meu poema presentes, e a Criatura que eu vi, quero dizer, que o poeta viu e com raros talentio descreveu, não é que tinha poderes esepciais, rara ironia, e argumentava de acordo com a filosofia infernal?

O poema é dedicado a José Félix, e não haveria outro poeta mais adequado. Esspírito livre, corajosos, talentoso, educado, e um gestor de lista de poesia que realemente não exerce nenhum tipo de censura nem é de rasgar seda pra ninguém.

Certa vez houve uma rusga na Escritas e poetas muito bons saíram, sendo Manuel Rodrigues a mairo baixa, mas foi decisão dele sair. Aquilo - a saída do único que estava á altura de Félix em talento, erudição e veneno - parece que exaltou ânimos estranhos, e um mau humor dos  diabos junto com uma intolerância fascistóide deu de se manifestar na lista por uns dias, outros mais caíram, e então9 chegiu a minha vez. Quando dei por mim estava sendo mal compreendido, mal intrpretado até pelo diplomático patrono.

Mas como tudo vale a pena quando a alma nao é pequena, um simples e inspirado poema que escrevi com Nanin, Sobre o Infeliz, recebeu os aplausos de Felix, e eu abraços. Sobre o Infeliz enerra os de hoje.

Interessante que há pouco recebi um aviso escrito a mão do hematologista aqui de João Pessoa que vinha me atendendo de que não mais poderá fazê-lo devido a uma discussão que minha irma teve com a secretaria dele  - "Não posso atender quem trata mal meus funcionários" , disse o Infeliz. Uma médica játinha me aconselhado a procurar logo tratamento em Natal  (a quimioterapia do Mès ficou assegurada).

Maiores detalhes na próxima postagem.

Só para encerrar o papo sobre Satã, o melhor de todos os livros sobre ele é O Paraíso Perdido de John Milton. John Milton fez parte do Governo Inglês republicano quando o Rei da Inglaterra teve a cabeça arrancada a machadadas, pra se ter uma idéia de quem é o autor. Ali vê-se claramente que o o Mito de Satã foi criado apenas para evitar que generais, guerreiros, e bons funcionários da Corte Imperial (dos primórdios da civilização) soubessem respeitar a linhagem real do trono, não matando o principe herdeiro para lhe roubar o trono. Nada se compara ao Paraíso Perdido. Milton e os ingleses erraram, mas reconheceram o erro, e a God Save The Queen.

O Mito de Satã é um mito moral, de cobiça e traição, educação, respeito, e pavor e medo - estes últimos, a única forma de lidar com certos tipos primitivos.

absaam



UM ENCONTRO MUITO ESTRANHO


       Para José N. Félix


Pretendia anexar
ao presente relatório
um atestado de saúde
que peguei no sanatório;
mas optei por guardá-lo
registrado em um cartório.

Não gosto de falatório
e abomino a mentira,
o boato e a fofoca
só me provocam à ira,
pois sempre digo a verdade,
mesmo aquela me fira.

Sei que o cara quando pira
sofre a alucinação,
porém essa experiência
para a qual peço atenção
foi tão real como é
a miséria da nação.

Próximo a uma estação
de trens, em noite chuvosa,
abriguei-me num boteco
de uma varanda espaçosa,
quando um velhote chegou
mancando em busca de prosa.

Uma brisa misteriosa
com ele o bar adentrou,
piscou um olho pra mim,
uma pinga encomendou,
e, sem ser meu convidado,
à minha mesa sentou.

Um sambinha assoviou:
- "Eu, na verdade
indiretamente sou culpado
da tua infelicidade..." -
e nesse exato momento
faltou luz pela cidade.

Rindo com sonoridade
diz: - "Assim está melhor:
a natureza da noite,
como quis o Criador,
deve ser escura e fria
- para o crime e o amor."

Achei aquele senhor
muito espirituoso
e um brinde à sua saúde
propus, mas ele, jocoso,
preferiu brindar à Morte,
com seu hálito sulfuroso.

E prosseguiu, misterioso:
- "Conheço seus pensamentos.
Há muito o espionamos
pelos Quatro Elementos.
Conheço todos seus planos
e sei dos seus sentimentos.

Sei que em alguns momentos
você perde a esperança,
mas vim propor-lhe negócios
de estrita confiança...
Antes, vou pedir um prato
qu’é pra gente encher a pança:

- Ô sêo garçom, sem lambança,
diga lá ao cozinheiro
que prepare uma cabeça
de bode pai-de-chiqueiro,
mas me traga, como entrada,
sangue do bode, primeiro."

"- Meu distinto cavalheiro"
- espantado, retruquei -
"e quais são esses negócios
que me vens propor, meu rei?
Se for coisa desonesta,
saiba que recusarei.

Drogas nunca trafiquei,
Nem nunca matei ninguém.
Jamais amigo, roubei
o que pertence a alguém,
e sempre, por toda vida,
procurei fazer o bem."

- “Ó meu querido neném,
bom rapaz, coração puro...
Tu não vales um vintém
na podridão dos monturos:
apodrecerás, meu bem,
um dia, por trás dos muros.

Eu ofereço, sem juros,
felicidade terrena:
glória, poder e riqueza,
e o prazer sempre em cena,
em troca de tua alma:
veja se não vale a pena!"

Lobo, chacal e hiena
uivaram na noite escura.
Trouxeram sangue de bode
misturado a rapadura.
No prato caíra morta
rechonchuda tanajura.

Quis brincar com a Criatura
que me fazia careta:
- “Valei-me, Nossa Senhora!,
que eu encontrei o Capeta!...
- Ora, vê se não amola,
pobre velhote perneta!

Me dizes ser Coisa Preta
sem dar a comprovação?
De seus poderes terríveis
quero uma demonstração:
que reine nesse boteco
agora a depravação!"

Nesse instante, no salão,
adentrou devasso bando,
a sorrir, a se abraçar,
e falar de contrabando.
Uma mulher ficou nua
sobre uma mesa, dançando.

Outras a foram imitando,
e alguns homens também.
Eram dez, ou vinte, ou trinta
- talvez fossem mais de cem -
e alguns nos convidavam
para ir dançar também.

- "Inda duvidas, meu bem,
que sou o Anjo Exilado?
Pois então passemos logo
a fazer nosso tratado:
já virei a ampulheta,
o jogo está começado.

Eu gritei: "Xô, desgraçado!
Isso é só um sonho ruim.
Na hora em que acordar,
estarás longe de mim.
Mas já que estás presente,
quero ir até o fim."

Vi um anjo serafim
tocando sua trombeta.
Chegou pra perto de mim
então o Bode Perneta,
e já foi dizendo assim:
“Aperte a mão do Capeta!"

Cumprimentei Coisa Preta,
que então se transformou
em um distinto, elegante
- aristocrático senhor -
a debochar com ironia
da virtude e do amor:

- "Ora, me faça o favor!...
Pra que serve honestidade?
Me aponte um só dos ricos
que nunca agiu com maldade:
se quer viver na miséria
seja honesto de verdade!

E a infidelidade
é que salva o matrimônio:
pra ser feliz no amor
um pacto com o Demônio
é necessário fazer,
nada a ver com Sant'Antônio..."

No boteco, um pandemônio:
grasnava rasga-mortalha.
Uma briga entre os devassos
fez surgir uma navalha,
atiçando ainda mais
os impulsos da canalha.

- “Nossa Senhora me valha!,
Bom Ciço ou Frei Damião:
nunca mais na minha vida
quero brincar com o Cão!
Ai, como está demorando
essa alucinação..."

- "Onde boto a minha mão,
prospera, cresce a riqueza.
Sou patrono do sucesso,
e triste da realeza
que duvidar dos poderes
que tem o Deus da Baixeza!

Já degolei com firmeza
cabeças imperiais.
Mandei crucificar muitos
que se diziam imortais.
Fiz a turba da Judéia
optar por Barrabás.

Com sangue e com funerais
fiz muitas revoluções,
a cristãos e outros tolos
ministrei boas lições,
sempre dei aos bons poetas
as grandes inspirações.

Sou eu quem tenta os ladrões
e seduz todas as putas.
Provoco as controvérsias
que sempre acabam em lutas.
Implanto gula e luxúria
e o amor pelas disputas.

Só as almas mais astutas
é que na vida prosperam.
Aqueles que contra mim
praguejam e se desesperam,
não sabem que são mais meus
que os que em casa me esperam.

Felizes os que vieram
à Missa Negra do Cão!
Sabem-se almas perdidas,
não passaram a vida em vão:
a verdade está na guerra,
irmão matando outro irmão."

Nesse instante, no saguão,
numa bandeja de ouro,
uma cabeça de bode
- ao lado um ovo goro -
serviram à nossa mesa,
onde pousara um besouro.

- "A mosca do mau agouro
sempre é minha convidada."
- diz Ele, e: - "Não costumo
dividir minha noitada,
mas vou te dar um pedaço
da cabeça ensanguentada."

Eu provei da empreitada
e confesso que achei boa,
e disse assim para Ele:
- "Se és o Diabo em pessoa,
o que pode interessar-te
em um sujeitinho à toa?"

- "Contra ele mesmo caçoa,
alma minha, fraca e vil...
- Tu és, amigo, retrato
do povo do teu Brasil:
muito fácil de enganar,
basta ter um bom ardil.

Manda à puta que a pariu
a tua credulidade!
Insistes na esperança?
Ora, já não tens idade...
Quebra esse teu quietismo,
vai bagunçar a cidade!

Vais deixar minha maldade
só com a classe dominante?
Brasileiro pobre e triste
é o que serás doravante,
com seus políticos ladrões
e a tua Igreja pedante!

Pensas que a cada instante
não pagam tributo a mim
os poderosos de sempre,
a canalha, a classe ruim
que pegou a tua terra
e que a deixou assim?

Se queres comer capim
- rá, rá! - santa paciência!...
Agora tenho um encontro
com a nobre jurisprudência:
fica aí com teu pudor
e a tua pura inocência!"

Turvou-se-me a consciência
e logo caí no chão.
Acordei todo ensopado,
lambia-me um negro cão.
Ninguém mais via por perto
- tudo estava tão deserto
como a terra do sertão.


               Anônio Adriano de Medeiros




SOBRE O INFELIZ


Todo menino pequeno como eu
(principalmente se for menina)
fica triste e chora quando vê um infeliz
e, porque a vida dos pequenos é muito boa,
quer logo fazer alguma coisa pelo infeliz,
nem que seja dar uns trocados diversos
pra ele, ou mesmo um pedaço de pão.

Mas é preciso ter cuidado, porque tem infeliz
que precisa ser daquele jeito mesmo
porque andou fazendo coisas muito feias
com uns amigos e outras pessoas que confiaram
nele, e aí as pessoas boas foram se afastando
dele, e ele ficou assim infeliz
porque na casa dele só ficou gente muito ruim.

Esse tipo de infeliz é muito raivoso, mas finge
ser feliz e todo bacana
lá com os trambiqueiros e bajuladores
que vivem na casa dele, eles ficam
o tempo todo trocando elogios
porque parece que assim diminuem
um pouco a amargura deles,
que parece ser muito grande.

Você, menino ou menina pequena como eu,
deve ter muito cuidado com o tipo de infeliz
que você vê, porque eles podem ser maus
e até mordem você com aquele bigodão de arame
farpado que eles têm cercando sua boca.

Um dia eu soube de um menino
que ficou muito tempo confiando num infeliz
e deu muitas coisas a ele, mas um dia
o infeliz ficou com raiva e tomou
as coisas dele todinhas, e nunca mais
deixou o menino nem mesmo olhar
aquelas coisinhas que ele gostava tanto.

Existe também a mulher infeliz, e judia
muito de menino também,
principalmente falando mal do menino
que nem conhece, só porque ouviu dizer
coisas por gente também infeliz e invejosa.

Agora uma coisa eu lhe digo:
se você vir um infeliz, mesmo sabendo que ele é,
nunca o chame de Zé Infeliz,
porque ele pode ficar com muita raiva
e até machucar você, muitão.



                   Nanin
                   um outro, o mesmo Antônio Adriano de Medeiros