sábado, 21 de maio de 2011

meu primeiro poema


Bom, escrevi naturalmente as baboseiras de infãncia e adolescência, os poemas de amor platônico... Tinha um primo que, pretensioso, queria escrever melhor do que eu (!), e às vezes disputávamos num poema chistoso, também. E ainda, numa paixão arrassadora que tive dos 17 pros 18 anos, escrevi um soneto que comparava o amor a um cãncer cerebral. Mas meu primeiro poema de verdade, poema existencial em que, ao escrevê-lo, eu conscientemente tentava construir um poeta em mim, foi esse a seguir, a um só tempoe simples e complexo.

Naquela tarde eu, que estava no quarto ano de Medicina e cursava também a Alliance Française lá em João Pessoa, que ainda era ali na Lagoa, decidi descer (morava num apartamento duplex, o velho Passárgada) para estudar francês, e não as coisas da semiologia médica, da farmacologia, da fisiopatologia, nem da anatomia patológica. Acredito que naquela tarde realemnet comecei a aprender a Língua Francesa, porque senti grande liberdade, muitas idéias surgiram, eu aprendia muito fácil. Tão fácil que notei que podia criar algo, e surgiram a um só tempo um pequeno poema e a idéia de um romance, um livro em prosa! Do livro tratarei mais tarde.

Tivera há pouco minha primeira decepção com a Medicina. Leia-se, com os médicos, que a Medicina em si não decepciona ninguém. Um professorzinho quis me enquadrar numa fôrma, quis me ensinar algo à força e contra a minha vontade, e eu até pensara em desistir do curso e ir ser comerciante com meu pai no sertão, e isso tudo saiu tanto no poema como na ideia do romance. Chamei ao poema de Inércia, espécie de preguiça natural que a matéria tende até sofrere a ação de um movimento, "A inércia refere-se à resistência que um corpo oferece à alteração do seu estado de repouso ou de movimento" (wikipédia). Na Inércia há um Pacto: ali eu decidira me entregar à Poesia, e aceitaria de bom grado o que resultasse da entrega: Poesia mesmo; Loucura; ou a Morte. Mas, fosse qual fosse o resultado, procuraria manter as aparências, não me tornaria um "poeta vibrador", assim como jamais seria um "médico vibrador". Continuaria sendo o sertenejo que sempre fui.


aam



INÉRCIA

Por que me reprimir?
Por que me controlar?

Deixo-me ir.

Quero ver para onde é que vou,
quero ver onde é que vou parar.

Em poesia,
sanatório
ou flor?

Sem alegria.



Antônio Adriano de Medeiros

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