quinta-feira, 26 de maio de 2011

um poema à Bela Jovem


Pois bem, a Fonte da Poesia mora em todos nós, mas às vezes precisamos usar a chave pra desencantar.

Agora que Aqueles Dois se foram, meu pai e minha mãe, dois velhos sertanejos, a gente fica pensando um pouco no sentido de todas as coisas, e na herança que eles deixaram.

Uma coisa que estranhava em meus pais era a religiosidade que eu julgava exagerada na adolescência e juventude, e gostava de espiar um e a outra rezando antes de dormir; o homem rezava de joelhos ao lado da cama por cerca de uma hora; a mulher, sentada na cama, por mais ou menos o mesmo período de tempo.

Eu nunca consegui entender direito o que els sentiam; talvez. Por isso espiava, desconfiado.

O Sagrado para mim passa pela Poesia, deve ser a fonte da verdadeira Poesia. E assim, acredito que Aqueles Dois, nem que fosse inconscientemente, talvez tenham me transmitido - e a quem mais pode ver - a verdade sobre a minha, a nossa origem - Os Dois eram primos distantes - nesses vai e vem da Vida e da História dos homens, quando nossos ancestrais foram levados de Portugal para o sertão do Nordeste, alguns séculos atrás.

AAM


UM POEMA À BELA JOVEM

Aquele que te conhece verdadeiramente,
Ó Bela Jovem
tão rica na antiquíssima sabedoria
que nos legaram mestres ancestrais,
não pode deixar de te amar
com o profundo respeito
que se deve ter por aquilo que é
verdadeiramente sagrado.

Assim sendo, com humildade agradeço
até pelo silêncio
que me ensinaste a guardar
quando estiver mergulhado na Noite Escura da Alma,
porque hoje sei - Tu me ensinaste, Bela Jovem -
que a fagulha da Perfeição que também há em mim
às vezes necessita lutar contra si mesma
na Guerra Santa que devemos travar
lapidando a pedra bruta
para que enfim possa surgir a jóia rara
do esplendor da Palavra.

É tão longa a nossa caminhada,
Bela Jovem,
e às vezes nos separamos contra a nossa vontade,
mas basta um simples olhar
em teus secretos encantos
para que de novo a Chama se acenda
e comece a lapidar a pedra,
e do secreto e poderoso sonho de concluir a construção
não podemos mais fugir,
e desejar acabá-la.

Sim, hoje bem sei
que a Bela Jovem é a ... - Terá
ainda o leitor algum dúvida
em sua alma de criatura fria
de que a Bela Jovem
é a Fonte da mais pura Poesia?

Ò dadivosa Fonte de Poesia inesgotável,
bem sei que, apesar dos mal entendidos,
dos contratempos, das intrigas
e até mesmo das verdadeiras guerras
que se travam quando outros livros de poesia surgem,
tanto os de verdadeiro valor como os de falso testamento,
em teu íntimo, Bela e Sábia Jovem,
tu sorris de contentamento
- Triste da bela jovem que não sabe sorrir! -
porque assim é a Matriz que sempre fulge
no esplendor da Rosa de Fogo.

Antônio Adriano de Medeiros

Nenhum comentário:

Postar um comentário