sábado, 17 de novembro de 2012

o namoro de Bibi com Salomão


 Meninos, eu vi!

Devo a sobrevivência deste cordel a amiga Soraya Amaral de Araújo, que o guardou consigo nos 15 anos que viveu entre Milão e Londres, e agora nos deu notíciam e nos  enviou, dádiva que não tem preço. É sem dúvida um dos meus três primeiros cordéis, acho que é o segundo, que escrevi sabendo que escrevia um cordel; o primeiro, a História de Um Triste Bode, se perdeu para sempre. O leitor atento pode observar que foi neste cordel do namoro que decidi empregar a "pegada da deixa", ou simplesmente "a deixa", essa coisa de iniciar uma estrofe rimando o primeiro verso com o último da anterior, regra inventada por Silvano Pirauá, de Teixeira - PB, parece que ainda no final do Século XIX.Vou aprendendo e alicercando a  pegada de deixa pulatinamente.
A política só evolui com amizade e amor, e quando a minha Caicó precisou administrar democraticamente, lá pelos anos 90, o convívio político entre esquerda pragmtática e o velho sábio e bonachão capitaismo sertanejo de centro,eu estva lá, quis deixar registrado - um elogio, uma gesta de dama e cavalheiro - confesso que não totalmente desprovido de ciúmes por ter sido preterido por Bibi. A família do Governador Vivaldo Costa, sempre me tratou com respeito e educação, Zè Leão se referia a mim como dos deuses, Dadá era amigo, Bibi patrão, e mesmo o prefeito eleito atual Roberto Germano - or outro grupo político, vez que os Costa ficaram em terceiro, foi quem foi me buscar num hotelzinho logo quando chegeui a Caicó e já havia side dispensado pelo então prefeito,levado lá pelo até hoje amigo Pacífico Fernandes, sendo o prefeito Manuel Torres, homem bom e honesto, mas na política, rival do Grande Costa. Como as mãos tremiam na hora de servir meu café.

O fato é que precisava de um enredo, um princesa sertaneja pura, cristã, e recatada, e um vaqueiro das lutas ideológicas de seu tempo, Quis um vaqueiro de ideologia  da esquerda pragmática e um Herdeira de Fazendas e Gados, antiguidades, segredos, virtudes e diplomas
Precisei escrever o poema para não me alienar nas mentiras políticas, nas intrigas diária sore assuntos desagradáveis e desairosos que cabos eleitorais procuram explocrar e nos envolver. Aé porque vi que pelo bem sa Saude Publica, que já estava se esquerdizando, era desejável o aordo.
Escrevi, mostrei músicos, pintores, alguns jornalistas, e logo Bibi, atual prefeito até Dezembro que era e é meu amigo, me deu o seguinte conselho "Dr. Adriano, você não deve ir procurar Vivaldo falando de poesia, não, que ele não gosta. Vivaldo quer trabalho medico,seu conhecimeno psiquitátrico - poesia, não!"
Compreendi o que era ali, guardei livros e pomas e o banido o tinha dado por perdido reaparece como curiosidade e um certo realismo fantástico nas lendas do rimance Seridó, Seridó da Santíssima Tindade Feminina - Clara, Maria e Santana - Seridó que educa, exige, mas perdoa um pecado de artista porque sabe a amar arte, que o Seridó conhece.
Não é que danado foi guardado, suponho, por amor?

Tanto Rivaldo Costa foi prefeito de Caicó duas vezes, como Salomão Pinheiro o foi de sua Janduís, pelo menos duas vezes; um advogado e empresário da saude, o outro, medico-pisquiatra; Tudo valea a pena quando a almam não é peqeuna.

No poema, Bibi é uma senhora, e Salomão um vaqueiro, ambos jovens, poderosos, e cheios de vida

Obrigado, Caicó!

Abraços,
Antônio Adriano de Medeiros

O NAMORO DE BIBI COM SALOMÃO

Eu pude presenciar
Nas brenhas do meu sertão,
Uma história de amor
Movida a grana e paixão,
Entre a donzela Bibi
E o vaqueiro Salomão.

Bibi era moça velha
Que tinha muito dinheiro,
E o vaqueiro Salomão,
Fama de aventureiro,
E namoraram escondidos,
Pra enganar os beradeiro.

Foi num mês de fevereiro,
Em noite de Carnaval,
Que Bibi pôde avistar
A “Encarnação do Mal”,
Como o chamavam as mocinhas
Que moravam no Curral.

O povoado Curral,
Perto de Santa Luzia,
Vivia festa animada
Em noite de fantasia,
Com o vaqueiro trajado
De “Gabriel Pra Maria”.

Que terrível profecia
Prenunciava a noitada!
À virtude, o que vicia
Preparara uma emboscada,
Porque Bibi se vestira
De “Maria Imaculada”

A donzela tão sonhada
Pelos rapazes direitos,
Dentre os quais se encontravam
Muitos futuros prefeitos,
Permitiu que um vaqueiro
Fosse mamar nos seus peitos...

Os versos só são perfeitos
Se transcreverem a verdade,
E, ao distinto leitor
Digo com sinceridade:
Salomão se embriagou
No leite da virgindade.

Quando o Bloco da Saudade
Adentrou pelo salão,
Bibi sentiu que alguém
Apertara sua mão.
E adivinhem que era!
Ora, claro, Salomão!

Cabra metido a mandão,
Sabia lidar com o gado,
E sem que ninguém percebesse
Que havia-se insinuado!
Mas, eu bem que percebi,
E que ela havia gostado...

Depois Bibi foi pro lado
Mais escuro do salão,
E, como flor que balança
Ao estrondo do trovão,
Estremeceu com o beijo
Que ganhou de Salomão.

Respeito qualquer paixão,
E nunca fui fofoqueiro,
E dali tirei os olhos,
Ao ver o beijo primeiro,
Sacramento de união
Da donzela e do vaqueiro.

Me mandei pro meu terreiro
E fui cuidar do meu gado,
Mas da mente não saíra
O que havia avistado:
A donzela se agarrando
Com aquele cabra safado...

Como eu havia chorado,
Minha mãe, que me quer bem,
Me disse: “Menino Bobo,
Ela não vale um vintém!
Quem se agarra com safado,
Muito safada é também!”

Rezando e dizendo Amém
Me mandou para a cidade,
Pra fazer compras na feira
Onde eu vi a mocidade,
Que a tudo ignorava
Na sua ingenuidade.
Meu coração, sem maldade,

Mesmo morto de ciúme,
Não deixou de a verdade
Na feira viesse a lume,
Mas so pensava nos dois,
Enquanto comprava estrume.

Espero que ele se aprume
E que seja um bom marido,
E que o povo esteja errado
Ao chama-lo de “bandido”,
Salvando assim donzela
De pra sempre ter-se perdido.


Outro dia eu tinha ido
Lá na Casa do Senhor,
E encontrei com Bibi,
Que rezava com fervor.
Quando ela acabou a reza,
Perguntei “E o amor

A moça ruborizou
E sorriu jocosamente,
Dizendo: “É a Jesus
Que eu amo tão-somente!”
E seguimos conversando,
Eu mais atrás, ela à frente.

Mas nem bem passamos rente
À entrada principal,
Vi que Salomão entrava=
Na casa paroquial,
E Bibi já me falava
Em visitar Padre Amaral!

“O coitado está tão mal...
Velho, fraco, e tão doente!
E de mim se despediu
Bem da igreja na frente:
“A conselho do doutor,
Não é bom ir muita gente!”

Eu não sou maledicente,
Mas eis minha opinião:
- Em amor de gente rica
Não é bom meter a mão,
Se Igreja e Medicina
Entram em conspiração!

- Sou matuto do sertão,
Porém mesmo assim eu sei,
Que ninguém não pode ser
Mais real do que o próprio rei,
E onde tem padre e doutor
Também lá está a Lei!



            Antônio Adriano de Medeiros
            Caicó 1997

domingo, 11 de novembro de 2012

um soneto para Barack Obama






Convém louvar coisas boas, e a meu ver a reeleição do Presidente Barack Obama é algo a ser louvado. O mundo anda muito doente, tanto que havia uma mal mascarada torcida contra, dos que desejam outra coisa que não a paz cotidiana, a paz atual, imperfeita decerto, mas tão humana, e a mão, a presença de Obama ali onde ele merece estar, é algo a nosso ver de fundamental importância no caldeirão fervente do planeta dos homens que andam a exigir direitos com fúria ímpetos incendiários. Ganha um tanka também, o Presidente Obama, No tanks - Many Thanks!, além do Soneto a Barack Obama, que por sinal tem um estrambote, um verso a mais, que foi necessário.

Escrevi mais três tankas, além do de Obama, o último dos quatro. O primeiro, Aurora, sobre o momento mágico quando, segundo Homero, "Aurora de dedos de rosa surge matutina". Interessante que Elomar F Melo nos fala, nas visões de Dassanta do Auto da Catingueira, da "Meia-Noite da Hora Inselente" (sic, sendo que inselente aí, por excelente, menciona as Excelências, cantigas para defuntos no sertão, além de signficar "importante", "egrégio"). A Meia-Noite da Hora Inselente seria um momento da Noite Escura em que tudo pararia... Então Aurora, seria a hora em que renasce o movimento que traz a Esperança, pelo desabrochar da flor, repercutindo inclusive nas Profundas Inernais. Do tanka Esplendor, um tanka com elementos cabalísticos,  digo que tem coisas que é melhor nós mesmos, caso o queiramos, -  buscarmos uma melhor compreensão -  essa foi uma das coisas que aprendi em breves leituras de Cabala verdadeira, que o que apreendo ali serve apenas para mim, e que não devo nem posso impor aos outros, nem fazê-los entender a meu modo. E finalmente vem o Tankancer, que achei um achado (Caranguejo, Câncer), e em seguida o tanka para Barack Obama com brevíssimas menções às  repercussões de sua reeleição no Reino do meu Zoológico Fantástico.

Mas aí me veio o desejo de relembrar a tão justamente festejada Eleição de Lula, o Prinspe Sapo, e tive que preparar mais um brinde. O poema é o penúltimo cordel do Zoológico Fantástico, no livro apresentado da seguinte forma:

"E assim sendo, para enfim dar por encerrado o Zoológico Fantástico, não poderia faltar um brinde ao Prinspe Sapo: afinal, há quem diga que a eleição daquele a quem Brizola um dia alcunhou de Sapo Barbudo foi certamente um divisor de águas: não custa crer que o zoológico acabou ali, e que a Terra Papagalli deu um grande passo para ser, enfim, uma nação de homens livres. Quando escrevemos tal poema, que em verdade se chama O Brinde do Prinspe Sapo, confesso que estava impregnado do macaco-deus! Seu nome é Thot, deus egípcio que ensinou os homens a falar, um babuíno, macaco branco. Esse cordel ficou tão "amostrado", afetado quero dizer, que nem parece um simples cordel... Bicho mais besta! Também pudera, além de ser o poema que encerra (va) definitivamente o Zoológico Fantástico, ele fala de um sapo que virou príncipe, tomou uma cachaça e lhe quiseram cassar o status real por causa da bebedeira... Devo dizer que o muiraquitã é um amuleto indígena relacionado ao matrimônio, à fidelidade, e ao ato sexual, sendo citado no Macunaíma de Mário de Andrade. O macaco-deus é dissecado por Thomas Mann na tetralogia José e Seus Irmãos, belíssima versão da história de José, o egípcio, filho de Jacó. Mann não consegue esconder sua preferência por aquele deus dentre todos os deuses egípcios, e eu acabei sendo contagiado por isso."
Pra quem conseguir chegar ao fim - dá trabalho! - decerto apreenderá eventuais mensagens e trocadilhos até intressantes. Peço à boa, quase santa, amiga leitora, que tenha piedade dos pobres sapos, o autor e o protagonista principesco, e tente ler. É divertida a Epopéia do Batráquio Barbudo! A história do macaco-deus, é a do babuíno Thot, que na mitologia egípcia teria ensinado os homens a falar, e naturalmente a usar de boas maneiras, o calendário, e demais noções de paz e civilidade, deve-se ter sempre em mente, pois é de fundamental importância no poema do Prinspe Sapo. A repercussão de eleição do Prispe Sapo teve porém um componente digamos deselegante, a famigerada embriaguez do Sapo, que quase culmina até na expulsão de um jornalista americano do país, que escreveu que Dom Prinspe Sapo era chegado a uma cachacinha...

 Creio que pouco a pouco, macacos sapos e patas aprenderão cada vez a serem menos radicais, como aquele grande homem lá cuja reeleição merece ser louvada, frisamos de novo.

absaam


 


UM SONETO PARA BARACK OBAMA


Que bom que existam caras qual Obama!
O poder das grandes presas em dentes de paz,
um Presidente com alma e que ama
todas as cores que orientam os ocidentais;
e que combate os monstros humanos
sempre se impondo pela eloquência
civilizada, precisa, clara, e a sapiência
de lembrar do trigo de Egitos e  muçulmanos.
- Foi bonita a festa, brother - fiquei contente
vendo os sorrisos que  eram presentes
para tanta gente - para você, pra mim.
- Que o Bem o mantenha sempre assim
Senhor, Mister President, Barack Obama:
Guerra só em último caso a quem obra e ama.

- E longa vida à grande Águia americana!


                   Antônio Adriano de Medeiros
                   João Pessoa 11.11.2012




                           QUATRO TANKAS ALEATÓRIOS


aurora


A rosa da manhã
desabrocha sobre o mar
e dá cria à luz

O pandemônio do Inferno
por um instante se faz terno


                Antônio Adriano de Medeiros
                 11.11.2012        


Esplendor


A Rosa de Sarom
abre as pétalas - o esplendor
são chamas de fogo

Letras reverberam a luz
da epiderme de Deus.



                    Antônio Adriano de Medeiros
                    João Pessoa, 11 de novembro de 2012
                   





Tankancer


Calango violeiro
em luta diaba com o Nonsense
peita um Caranguejo.

De longe as constelações
contemplam minúsculos insetos.


                Antônio Adriano de Medeiros
                idem


               
No tanks  - Many thanks!
.
Grande homem do norte
triunfou. Gorilas raivosos
voltam á Quarentena.

Ululam sapos e patas
no meu Zoológico Fantástico,


                 Antônio Adriano de Medeiros
                 João Pessoa, 11.11. 2012

                       





O BRINDE DO PRINSPE SAPO


                    "eu vou beber, beber até cair, oi!..."
   

 Um velho Sapo vivia
sem ninguém lhe dar valor,
até que um certo dia
uma princes'o beijou...
A Onça pariu na furna:
saiu de dentro da urna
um Prinspo - governador!

Tal história se passou
tem muitos anos atrás,
quando grandes dinossauros
já não existiam mais;
os homens eram grotescos:
com grunhidos simiescos
se mesclavam a animais.

Não se conhecia a paz,
eram selvagens as lutas.
Egito, nem Babilônia,
eram tribais as disputas:
Nus que nem Adão e Eva,
alguns moravam na selva,
outros viviam nas grutas.

- Ó bom leitor que me escutas,
irás comigo descer
ao inferno selvagem
que alguns preferem esquecer,
mas que eu, um índio tonto,
com minha pena aponto
Estrela, Cor e PT?

Eu já disse a vosmecê
da Estrela - o tempo astral.
A Cor vem da narrativa,
do domínio espacial.
E, decifrando o Engrama,
um perfeito telegrama
tem sempre Ponto Final.

Entr'o Planalto Central
e o grande Mar d'Água Doce
- o rio das Amazonas -
a tal história passou-se.
A Musa, certa manhã,
beijou o muiraquitã,
e sapo desencantou-se.

- O que passou acabou-se?
O que foi não volta mais?
Os macacos repetindo
movimentos rituais
se perderam na floresta,
ou será que inda restam
alguns traços ancestrais?

Mas, malgrado canibais,
eles sabiam se unir,
qual na hora de caçar
porco grande - o javali.
A briga só começava
depois que a porca tombava:
na hora de dividir.

Eu conversei com Saci
e consultei Caipora.
Anhanguera confirmou
na prova dos noves-fora,
e a velha Mãe da Lua
me deu Cunhã - filha sua -
dizendo: - "Conte a históra!"

Sagrada, bendita hora:
eu virei prinspo também,
porque Cunhã me cantou
a Cantiga de Vem-Vem;
cachimbeira e vela branca,
a correnteza destranca
e a narrativa vem.

- Meu caro leitor: pois bem,
voltemos aos canibais
imersos no rio vermelho,
legado dos ancestrais:
sangue há por toda parte,
porque adoravam a Marte
- o que abomina a paz!

Grunhidos de animais
dominavam toda a terra,
a besta da violência
quando se solta não erra:
ali faltava a Palavra
- o instrumento da lavra
do afeto que se encerra.

Mas surgiu, sobre uma serra,
um estranho Babuíno
- 'missário de Bela Lua,
candeeiro do destino -
que, com sons articulados
e com gestos delicados
pôs fim ao desatino.

Foi um macaco menino
quem primeiro o avistou;
fez sinal pra sua mãe,
esta ao pai o mostrou.
Grasnou uma Cacatua,
e logo bem sob a lua
a multidão se formou.

O Babuíno contou
das harmonias astrais;
aos outros ensinou
o riso e gestos de paz;
os chamou de irmãos seus,
inda lhes falou de deus,
de justiça, e muito mais.

Desde então os animais
começaram a falar,
substituindo a força
pelo bem argumentar.
O Professor Papagaio
pulava de galho em galho
a gramática a ensinar.

Vivia o Sapo a cantar
lá na beira da lagoa.
Quem o via improvisar
sabia-o gente boa:
apaixonado por Jia,
sempre fazia poesia
quando caía garoa.

A poesia é coisa boa
que acalma o coração,
e logo todos notaram
terem dela precisão.
Mas eis que Mestre Besouro
inventou o desaforo
- a palavra com ferrão.

Em pequena discussão
travada com Tanajura,
eis que Cavalo do Cão
- um bicho cabeça-dura -
deixou-lhe a marca no lombo
- um gigantesco catombo,
a marca da picadura.

Isto fez triste figura
pois Tanajura er'amiga
de um povo poderoso
- a nobre grei da Formiga. -
E vingou-se o tal catombo,
irritado o Marimbondo
e começando outra briga.

Logo voltou a intriga
ao grande reino animal;
deram uma surra no Bode,
agrediram o Pica-pau;
era tanto desaforo
que até o Mestre Louro
andava armado de pau.

Veado passava mal
vendo tanta violência.
Onça arreganhava os dentes
com muita impaciência.
Até a pacífica Paca
atracou-se com Ticaca,
liberando a pestilência.

Quem agiu com sapiência
foi um Grilo bem franzino
que perguntou à Maroca
pelo Grande Babuíno;
já este, infelizmente,
tava noutro continente
cuidando de seu destino.

Apelou-se ao povo equino
qu'é resistente e ligeiro
pra ir buscar Babuíno
nas terras do estrangeiro.
E assim partiu um cavalo
em busca de alcançá-lo
para lhes ser Conselheiro.

Era tão grande o vespeiro
de bichos em pé-de-guerra
que os mais frágeis, sabendo
que a vida se encerra,
temeram - e com razão -
por sua própria extinção,
o fim da vida na terra.

Foi Sabiá - que não erra -
que lhes trouxe a salvação;
do tão sábio Babuíno
chegou a respostação:
que aquela grande grei
precisava de um rei
para gerir a Nação.

- "Na África tem o Leão,
Tigre em terras indianas;
na Europa Urso Polar
e os macacos sacanas..."
E ousou recomendar
que elegessem Jaguar
nas selvas americanas.

As onças Suçuaranas
com Gato Maracajá
- que eram os primos pobres
da família do Jaguar -
porém fizeram protesto,
e logo seu Manifesto
começou a circular.

Se puseram a reclamar
contra discriminação:
que toda a raça felina
reinasse sobre a nação.
O Jaguar ficou zangado,
deu um Golpe de Estado,
pôs os primos na prisão.

Nisso chegou o Falcão
da América do Norte
dizendo que lá o Puma,
malgrado fosse o mais forte,
não era nada sinistro:
o fez Primeiro-Ministro,
e parece que deu sorte.

O Jaguar seguiu tal norte,
pôs os bichos pra votar.
Ele seria o Rei,
porém, para governar,
a bicharada optasse
por um bicho que cantasse
para bem parlamentar.

Se puseram a procurar
cantador de gabarito
que bem conhecesse a terra
e que não ficasse aflito
nem na água nem no ar;
que soubesse improvisar
e o fizesse bonito.

Instituiu-se um rito
na hora da eleição:
candidatos passariam
por pública provação.
E foi a prova da água
que aos pássaros deu a mágoa,
irritando o Gavião.

Pois sendo a grande nação
da floresta tropical
quase toda inundada
- verdadeiro pantanal -
que o eleito cantasse,
andasse, quase voasse,
e nadasse sem igual.

O Mergulhão se deu mal
sobre o terreno plano;
também Martim-pescador
ali entrou pelo cano.
O Gavião se zangou,
também muito s'irritou,
por não cantar, o Tucano.

Já o Sapo, soberano,
foi atleta na acrópole:
andou bem articulado,
deu pinote de artrópode.
Na hora de mergulhar,
nadou, soube amedrontar
qual molusco cefalópode.

Depois, toda megalópole
viu a Filha do Jaguar
subir aos candidatos
e ao Sapo beijar;
o batráquio emudeceu,
em seguida estremeceu,
depois botou pra chorar.

Vieram de além-mar
pra posse do Presidente
representantes reais,
e, de cada continente,
algum mimo especial
ao Sapo maioral
foi trazido de presente.

O Sapo tava contente
mas cheio de timidez
e só soltou sua voz
para cantar uma vez.
Mas quando tocaram pinho,
o Sapo provou do vinho
dado por Galo francês.

Uma mudança se fez
nos olhos e no semblante,
e já no terceiro brinde
Sapo estava bem falante
e, quebrando o protocolo,
sentou Princesa no colo
- a beijava a todo instante.

O Jaguar, muito elegante,
à filha deu sua mão
e a chamou pra dançar
uma valsa no salão.
O Sapo vira outra taça,
toma um gole de cachaça
e diz ao Rei Leão:

- "Seu Rei, nunca vi, não,
lá pela minha lagoa,
uma gata tão gostosa
tal qual a tua patroa...
Sou um grande cururu,
mas tenho inveja de tu
por causa desta Leoa!"

Vendo a cauda da Pavoa
tão bela, passou a mão.
Foi aí que, irritado,
assim lhe disse Falcão:
- "Ó distinto Presidente:
não seja tão indecente;
olhe a sua posição!"

- "Tá expulso do salão!"-
gritou o Sapo, irritado.
Lá chega a Pomba da Paz:
- "O Sapo é muito engraçado...
Mas deixe de brincadeira
com gente assim, estrangeira...
ninguém tá acostumado".

Um diplomata Veado
ao nobre Sapo abraçou;
tentou tirá-lo dali,
Sapo se desvencilhou
e partiu, embriagado,
tombando, muito excitado,
pra princesinha do Grou.

A segurança chegou,
grande Pastor Alemão,
tentando elegantemente
levá-lo a outro salão;
mas o Sapo, estando cego,
gritou pra Macaco Prego:
- "Manda prender este cão!"

Esborrachou-se no chão
e saiu passando mal;
vomitou na limusine
quando ia ao hospital.
Sofreu a diplomacia
pra nada, no outro dia,
sair em nenhum jornal.

Assim cheguei ao final,
aqui eu encerro o papo.
E a vida segue em paz,
sem gritaria ou sopapo.
Só saio com um lamento:
não viver naquele tempo,
pra brindar com Prinspe Sapo!


                Antônio Adriano de Medeiros
                ZOOLÓGICO FANTÁSTICO

sábado, 10 de novembro de 2012

Tankas, thanks, Estrelas, e samba



Em verdade em verdade eu vos digo: que o desfile de poemas hoje prenuncia um bom Carnaval, visto ter desde menção ao samba ancestral, mesmo ao rock beatle "with a little help from my friends". com uma ajudazinha de meus amigos, poemas de origem japonesa, e ainda noções aleatórias de astronomia e Caos.

- Ô mulata assanhada!, essa alma que samba!

O primeiro poema é uma meio dissertação sobre o samba Amélia, de Mário Lago, sendo que a tese é que Amélia representa a mãe do sujeito que ali canta e sonha com uma mulher perfeita que já teve, e, diante da atual que, diz ele, o sujeito que passa, que canta, faz versos, que ama, protesta, José, diz ele que a atual é perigosa, tem desejos, vaidade, luxúria, e ele quer voltar pra Dona Amélia, quer voltar pra mamãe... Era Amélia uma mulher de verdade?  explora essa idéia na fonte perpétua que aquele nobre Lago do Oceano da Poesia nos legou.

Depois entram os Tankas, quando conto com a ajuda de bons amigos. É que os escrevi ontem, e os mandei pras listas de poesia, e o JB Alencastro, da SOBRAMES, lista da Sociedade brasileira de médicos escritores, me poupou do custoso trabalho de ir aprender sobre os Tankas, nos presenteando assim:

"Tanka
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

 Estilo de poesia japonesa. Literalmente tanka significa "poema curto" (tan - curto, breve; e ka - poema ou música) e é formada por 31 sílabas (versos de 5 - 7 - 5 - 7 - 7 sílabas respectivamente). Sua origem está no waka, termo genérico para designar a poesia aristocrática (também de 31 sílabas).
        Esta forma poética foi muito utilizada entre os séculos VI e VIII, no Japão. Há mais de 4 mil poemas no estilo. Como já citado acima, é composto de 5-7-5-7-7 sílabas ou poema de 31 sílabas. Chama a atenção porque ele se divide em duas estrofes: a primeira formada por 5-7-5 sílabas, chamada de kami no ku ("primeiro verso") e a segunda, com 7-7 sílabas, chamada de shimo no ku ("último verso"). Depois de um tempo o tanka passou a ser composto por 2 pessoas. Uma ficaria encarregada pela primeira estrofe(denominada: hokku) e outra pela segunda estrofe (denominada wakiku). Segundo textos essa forma de poema tornou-se uma coqueluche nos anos de 1 186-1339, no Japão.A forma poética ficou tão disseminada que passou a ligar-se a outras estrofes da mesma medida, somando centena de versos. E a nova forma passou a chamar-se "renga" e, em seguida, "renga haikai, ou "renku". Depois de mais algum tempo e passando pelo seguimento dos monges, representantes da burguesia e artistas populares, a temática de simplificação do cotidiano foi enfatizada e o minimalismo passou a ser uma tendência seguida em várias formas da cultura japonesa (daí a expressão "poema curto"). Este movimento fez com que o hokku (primeira estrofe do renga haikai, ou simplesmente haikai) se tornasse autônoma. Surgindo então os Haikais (Haikai).

Fonte: Livro Haicais | Organizado por Rodolfo Witzig Guttilla"

Obrigado pelo complemento, João Batista!

Eu vim a conhecer Tankas através dos Rengas do saudoso Anibal Beça e José Félix, na lista Escritas, Encontro de Escritas; eram pororocas poéticas gigantescas que uniam três continentes e transbordavam beleza, riqueza e arte, e por osmose - Tanto Mar! - parece que acabei aprendendo a escrever Tankas. 

Os Rengas de Félix e Beça foram premiados em Portugal, a onda da pororoca voltou trazendo mais que a Cruz de Malta, e se realçou bem o traço daquelas ondas.

Foram quatro Tankas, começando tímido no título, mas sempre verdadeiro, e á medida que ia escrevendo, ganhava mais segurança, parecia um cordel, já, eu me japonesando, aí disse vou cortar com a ponta de uma estrela, tchhhhh, cortei com As Três Marias.

Mas ainda estamos nos Tankas, o primeiro duvidava de si mesmo, Tanka?

São quatro tankas sendo que três, mais universais, tiveram um correspondente da autoria de José Félix, que usei a palavra "rengado", de renga, um punhado de tankas afins, por falta de uma palavra melhor, mas Renga tem muitos tankas seguidos.  Nâo sei se os oito podem ser Renga.

Mas também "renga" lembra "regar" e os meus tankas não existiriam se eu não tivesse conhecido bons poetas que ocnheci, e como Félix foi um dos regadores renguistas de meus tankas... sem nunca esquecer do coração bom à Beça!

O Tanka para Elomar é inspirado em Arrumação, da Quadrada das àguas Perdidas.cuja letra e link se encotram após as Três Marias. Seda Branca era o galo da casa, e a onça chegou em noite de lua nova, e Seda Branca avisou do perigo, mas assim se revelou um bom prato para a sussuarana. O tanka seguinte, Tanka da Salvação, é um armadilha ou suprema ironia; um náufragdo do mar finalmente vê um braço de rio e um barco vindo em sua direção; só que é o Barco de Caronte, barqueiro que carrega as almas dos mortos aos Infernos, e que é recomendável sempre dar uma moeda a Caronte, por isso que já se teve o costume de colocar uma moeda na boca dois mortos. Já o desafio num tanka retrata a chegada, a recepção, e a repercussão da chegada de dois cantadores para um desafio nem um sítio sertanejo, nos tabuleiros, nos penedos, nos serrotes; o fogo no serrote viria dos desaforos trocados pelos violeiros dedilahando as cordas de aço das violas.


Notar que Os Tankas de José Félix  sempre têm, sim, cada um tem, alguma correspondência com o tanka que enviei; e que não há pontuação alguma; os versos também são ditos com a métrica precisa; certamente o quadro, a pintura, dispensa os sinais gráficos entre as palavras, esse negócio d eponto e v´rgula. Só no último surgiu um ponto final. O primeiro tanka de Félix desenvolve de maneira magistral, pirâmides e formigas com a realeza egípcia, do Vale dos Reis ao Museu do Cairo. Em seu segundo tanka, sobre a Salvação vir por Caronte, ele atira moedas para a Fortuna, tradição e esperança, mas recomenda cautela com a avareza de Caronte. E em seu terceiro tanka, trouxe junho, fogueira e castanha assada, e vinho para a festança naquela casa in riba do serrote, e brindamos ainda com alguma cachaça, cerveja, Vinho Padre Cícero, e mais umas sardinhas, milho, queijo de coalho e pamonha.

Sei, que, resumindo tudo, pelo que li, e aprendi hoje, Renga mesmo é quando uma pessoa escreve os três primeiros, e outra os dois últimos. Mas que os tankas correpondentes me deixaram  feliz, me deixaram. Um belo exercício, não é praqualquer um. Confesso que não consigo assim com a naturalidade, presteza, beleza, imaginação e precisão, maestrias de José Félix.

E chegamos às estrelas.  Precisei cortar com a ponta de uma estrela minha febre nipônica, aí pensei em safadeza com três marias, e devo confessar talvez um desconhecimento meu, pois toda vez que me mostram As Três Marias, eu vejo ali a cabeça e as duas garras do Escorpião, inclusive o belo rabo se prolongando lá pra trás. Mas parece que são da Constelação de Órion, e mais afastadas umas das outras que aquelas de Scorpio. De qualquer forma, o que vale é a Poesia que se tira, e fica como sempre vi, desejoso, O Rabo das Três Marias.



Gratíssimo.



absaam






ERA AMÉLIA MULHER DE VERDADE?


               Sobre o samba imortal de Mário Lago


Talvez Amélia não fosse uma mulher,
em verdade porque a mãe
malgrado arquetípica entre as mulheres
ao Édipo que a deseja e teme,
não é apenas uma mulher. Ele treme
diante da que gesta, a que ama, protesta.
Ele freme diante do incesto,
mas Amélia jejua a seu lado
e acha tão bonito não ter que comer...

E o chama "meu filho" quando fica
contrariado,
mas que nada pode fazer
não só pela idade,
ou pela ausência de vaidade,
mas por imposições da maternidade.

Quando se torna um pobre rapaz
ele conhece a mulher de verdade
em sua nobre rapacidade
felina
da predadora que finge ser
um animal de estimação.

E é quando gata dá seu pulo
e vira pantera,
ás vezes hiena, chita, chacal
que lhe vêm da inconsciência
a recorrente impaciência
de deixar Cornélia - a madame -
e de voltar para Amélia, a mamãe...

- Mulher casada, mulher de pau!



                     Antônio Adriano de Medeiros
                     um  paraíba em 09 11 2012
  


                                      SETE TANKAS A QUATRO MÃOS


Quatro Tankas de Antônio Adriano de Medeiros, sendo Três "rengados" e regados por José Felix.


(tanka?)


O galo velho cisca,
raivoso, cego, esclerosado.
Tem galo novo na freguesia.

As formigas juntam folhas e pedras.
Vão construir uma pirãmide.


         Antônio Adriano de Medeiros
          09 11 2012         



A rainha Shesheti
na pirâmide em  Mênfis
dorme ao lado das formigas

O filho o grande rei Teti
amarela no museu

               José Félix




Tanka para Elomar


Seda Branca, o mimo
da casa, rei do galinheiro,
cantou, vigilante.

Na noite escura Susarana
aprisunha. Sangue de dar dó


             Antônio Adriano de Medeiros


tanka da salvação


Enfim o náufrago há dias
no mar, adentra um braço de rio.
Um pescador logo vem.

Caronte veio buscá-lo. Jamais
uma simples moeda valeu tanto.


                       Antônio Adriano de Medeiros
             



Na fonte de Trevi
deito várias moedas
que abrilhantam com Apolo

Nem todo o ouro do mundo
enche a barca de Caronte


                     José Félix



desafio tankado


Chegam os cantadores.
Abre-se a roda feliz.
Começa um desafio.

Do serrote voam faíscas;
das violas, desaforos de fogo


             Antonio adriano de Medeiros
       

    

Raios e coriscos
saem das bocas de vinho -
castanhas assadas

o povo salta a fogueira
da árvore decepada.

  
                  José Félix



                                                                            *                    *                      *
Aqui deixo um comentário enriquecedor de José Félix na Encontro de Escritas, postado hoje, sobre os tankas. De minha parte quero só dizer de um certo orgulho, mas na dose normal, e de muita gratidão pelo acolhimento tantos anos, paciência, erudição, enfim, pela Poesia que se encontra em suas Escritas.

" Adriano, valeu!

Ler é aprender!

Não esquecer que a autora norte americana Jane Reichold foi a grande impulsionadora do Renga que se baseia  numa série de haikus e dísticos de sete sílabas, os famosos tanka, Que vale a pena ler e estudar. É um método muito interessante que obriga os autores a seguirem o método e a uma certa disciplina emocional.

Abraço

José Félix "



                                                                    

                                                      *                                  *                                      *          




O Rabo das Três  Marias



As Três Marias seriam
aquela de Betânia, Madalena,
e a assim chamada Virgem...

Mas talvez as Três Marias
indiquem apenas a Posição
de uma só no Céu.

Sentada na cabeça do Leviatã.

Porque as Três Marias estão
assentadas na Cabeça
do Escorpião,
e quando as miro não posso nunca
deixar de contemplar o venenoso rabo
que elas sabem e tanto desejam
exibir - abundância acintosa de imortal peçonha.

Elixir é toda bunda sinuosa ao mortal que em pé sonha.


                      Antônio Adriano de Medeiros
                      09 11 2012, paraíba!






Letra da Música Arrumação, de Elomar Figueira de Melo, no álbum Na Quadrada das Águas Perdidas. Quem canta aqui é Francisco Aafa, entusiamado:
http://www.youtube.com/watch?v=f8l2s1nnH_o


ARRUMAÇÃO

             elomar

Josefina sai cá fora e vem vê
Olha os forro ramiado vai chuvê
Vai trimina riduzi toda criação
Das bandas de lá do ri gavião
Chiquera pra cá já ronca o truvão

Futuca a tuia, pega o catadô
Vamo planta feijão no pó
Futuca a tuia, pega o catadô
Vamo planta feijão no pó

Mãe purdença inda num cuieu o ai
O ai roxo dessa lavora tardã
Diligença pega panicum balai
Vai cum tua irmã, vai num pulo só
Vai cuiê o ai, o ai da tua avó

Lua nova sussarana vai passá
Sêda branca, na passada ela levô
Ponta d´unha, lua fina risca o céu
A onça prisunha, a cara de réu
O pai do chiquêro a gata comeu
Foi um trovejo c´ua zagaia só
Foi tanto sangue que dá dó

Os cigano já subiro bêra ri
É só danos, todo ano nunca vi
Paciênca, já num guento as pirsiguição
Já só caco véi nesse meu sertão
Tudo que juntei foi só pra ladrão


              Elomar F  Melo.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

esqueletos e dores - diários de um mieloma - 6



O Sr. mi eloma aam tem um texto novo, o segundo das postagens de hoje. Pegou pesado contra mim, dando-me sugstões para desistir da batalha, do tratamemto, da vida. Ele estã muito irritado com a notável melhora dos sintomas e sinais que venho apresentando, e s danou-se a sublinhar sua natureza crônica e recidivante, deuzindo dái em seu julgamento tomado pela coisas do Reindo da Doença, Desesperança e Morte, que para mim, seria melhor "resolver logo isso", evitando iludir a mim a aos que me amam, e o desperdício de tempo, trabalho, e dinheiro. Parece que mi eloma não consegue entender o valor da vida em sua relação com familaires, amigos, e as coisas culturais, açém da servidão ao outro.

Nos diários de um mieloma múltiplo - 6, ele se refere às Erínias, violentas deusas que os Romanos chamavam de Fúrias, e o bom senso manda chamá-las de Eumênides, "Benevolentes", para com isso não despertarmos sua ira, sempre poderosa e maligna; são encarregadas do Vingança do crime, do Castigo, inclusive a Loucura seria o pagamento cobrado pelas Benevolentes dos assassinos, ladrões, e criminosos graves. Seus nomes são Alecto, Tisífone e Megera,e nasceram das gotas de sangue de Urano (Céu) que impregnaram a Terra quando o deus Crono, (identificado com o Tempo, filho daquele) o castrou sorrateiramante; Afrodite, Vênus, deusa do amor, nasceu do esperma de Urano que caiu no mar.

São deusas primordiais, como as Parcas ou Moiras, mais antigas que Zeus e os deuses do Olimpo, os quais nenhum poder têm sobre elas,

O Sr. mi eloma aam também cita versos de vários poetas em sua folhinha de hoje do diário não diuturno, cuja frequência depende apenas de seus caprichos doentios, sendo que versos de Cazuza, de uma música de Moacyr Franco, de dois poemas de Baudelaire, de Chico Buarque e de Geraldo Vandré, distorcendo-lhes o sentido sempre querendo me convencer a tomar a atitude radical da Desistência Cabal; também cita um veros meu de Quatro Sonetos sobre o Suicídio.

O poema que antecede os diários  tive a graça de escrever ontem e, sendo curtinho, mandei-o primeiro para minhas listas de poesia, tendo o mesmo ali uma acolhida surpreendente, e até poetas que muito admiro tanto pelo talento como pela personalidade me contribuíram para a cessação de minhas dores mais graves, José Félix e Eliana Mora criaram poemas sobre umou outro verso de A Dor, A Vil Dor (está oculta aí as palavras "Adorável Dor"; é outra forma de se referir às Erínias chamando-as de Benevolentes), pois bem, me deixando grávido de um pouco de orgulho e muita gratidão. No poema a palavra Dôrinhas vai no lugar de dorzinhas, personificando as dores vulgares das pessoas histriônicas, pitiáticas, histeriformes, para quem qualquer sensaçãozinha dolorosa ~e motivo de estardalhaço; nada tenho contra as Dôrinhas, até porque uma de minhas primeiras professoras tinha tal nome, e uma palmatória. Sempre devemos respeitar nossos mestres, mas sem afastar-se da poesia jamais.

Por fim, vai um poema de Charles Baudelaire intitulado Dança Macabra, inpirado numa estátua de Ernest Cristophe; o poema refere-se naturalmenta á dança dos esqueletos, só que é diferente: não se dá num cemitério à meia-noite, como de costume, mas sim nos salões requintados dos bailes de Paris. Um esqueleto de mulher, de mulher belíssima, bem vestida e maquiada, uma parisiense elegante, vai a um baile, orgulhosa como uma vivente de sua beleza inebriante, e naturalmente é corteja e dança pra valer. Belos, belíssimos, inigualáveis, são os versos que o poeta sugere que ela diga aos demais participantes do baile; aí o poema abre as asas e nos faz voar.

Um bônus extra curtinho mas perfeito em sua precisão, Dor, é do poeta simbolista porto-alegrense Álvaro Moreyra; ele nasceu em 1988, e morreu no Rio de Janeiro em 1964; foi da Academia Brasileira de Letras.

Sempre grato pelas nobres leituras,

absaam




A DOR, A VIL DOR

A dor
a dourada dor
adoro-a
se duradoura.

Todas as Dorinhas são vulgares.

Prefiro as dores marcantes,
que não conhecíamos dantes,
dores agudas, inauditas, de mau agouro
- filhas da puta: a gente grita, ó tanto choro...

Toda dor que se preza
não deixa dúvida.
Precisa de reza,
exige um antídoto.

Além da química, ou fisioterapia,
a escrota quer música e poesia...

Dura alguns dias, dura semanas
essa dor que não se esquece,
pois, do que muito se padece,
a gente ama.

Os outros que se matem:
prefiro que me tratem!

Se morrer, que graça vai ter?
Quando de novo irei padecer?

Há uma dor que merece um andor.


                   Antônio Adriano de Medeiros
                    João Pessoa, 07 11 2010




Diários de um mieloma múltiplo - 6


Nem me calo, nem deixo de ser um calo no corpo do porco que não quer calar!

Agora deu de dizer que gosta da Dor... Covarde, falso, mentiroso... Então por que foi atrás daqueles... Daqueles que prescrevem para que a Dor prescreva, verme proscrito por Eva?

Encharcado de drogas, tantas, tontas, sonsas, nada santas, ele, penso, pensa que me está vencendo, que eu estou derrotado... Mas ainda estão rolando os dados... Rá, rá, rá! Também sei citar os poetas, Adricão!

Só porque deixou de parecer um aleijado com aquela ridícula bengala de velho pobre... O enigma da Esfinge... - Èdipo, sempre um filho da puta, quem decifrará teu enigma serei eu, e não o inverso. Drácula, já esqueceu de que precisou correr de novo hoje pela manhã para beber do sangue alheio?
Lobisomen que certas noites se espoja insone no leito procurando uma posição confortável quando o cutuco com minhas adagas  no abdômen, no tórax, nas magras patas traseiras, no pescoço... A Morte te observa em tuas contorções, bizarra fealdade, e ás vezes, por prazer, extrai até poesia de tua imunda gosma, flor da insanidade!

- Esse negócio de tirar prazer da dor é coisa de viado, mulher de malandro, ou de certos tarados... Se bem que alguns pederastas, mais saudáveis, o negam...

Eu vou domá-lo, nefast0o jegue sertanejo, já estou a montá-lo, vou esporá-lo, fazê-lo zurrar, se espojar, babar,. até paralisá-lo, parasita do sangue inocente, e depois, serenamente, e de forma nada decente, um dia eu vou matá-lo...

- Sou venenoso e mortal, tu és corpo peão! Eu sou constelação de verdade, eu sou Câncer!

"Cadê você, cadê você, você passou..." O vento que é pai da melodia fará sempre epitáfios assim para meu peixe podre. Porque meu anzol, meu arpão, estará sempre lá em essência, mesmo que teus.... salvadores, rá, rá, consigam fazê-lo sobreviver ao transplante.

Covarde, seja pragmático: se mate! Ia ser tão bonito! Oh, como é poético se matar no verão tropical... "Mais belo, porém, o enforcamento..." Tenha vergonha, mentiroso! Tenha coragem! Seja digno de seus versos, seja maldito de verdade, para que perder tempo e dinheiro se tudo poderia ser resolvido logo, e de forma verdadeiramente poética!

Vaidoso mortal da bizarra figura, teu esqueleto é todo meu. Sou teu par verdadeiro na Dança Macabra, Nanim! Porque você não gosta de mim? Eu já cheguei, querido, vamos dançar logo um bom forró... Só não posso prometer que não pisarei no seu pezinho, no calo que é me é tão caro...

- "O Dor, Ó Dor! O Tempo faz da vida uma carniça, e o terrível inimigo que nos rói as rosas, no sangue que perdemos se enraíza e viça..." Charles Bode Lelé, aquele poeta das flores do mal que morreu vegetal sem poder falar nem escrever - Mãe Moira Má é tão criativa! Como as Benevolentes são justas! - gostava de você, ele era seu Amigo, escreveu tais versos para você alertando-o de que era inútil lutar contra mim... Se mate, Nanim!

Vai ser pior, muito pior, o final cruento trágico, teatral e álgico... Mas se você prefere assim...

- "Ouça um bom conselho que lhe dou de graça: inútil dormir que a dor não passa!..."  Chico Buraco (que vive a entrar e sair no) também gosta de você, amor...

Se mate, Nanim! As Benevolentes são minhas amigas, diletas amigas, e podem chegar, a um simples pedido meu, a alucinação imperativa... Elas vão apreciar muito o seu mal-passado...

- Se mate, Nanim! Se mate, Nanim! Se mate, Nanim!... Se mate Nanim!

Eu confio em você, sei que é poeta de verdade, não é como aqueles outros.... Você sabe: se mate, Nanim!

Mais do que poeta, seja um herói! Afinal, "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer",  dizia o Girau do Vão André...

Toda flor bela se espanca pelo vento, espinhos, e bico de beija-flor...

- Tua alma de sonhar anda perdida!

Quem sabe jaz a agora, não espera a dor crescer... Quem é amigo, quem te ama de verdade, quem veio unir-se a ti na madureza, usando os pronomes que quiser - porque um Câncer Poético é sobretudo moderno - fui eu, não foi nenhuma daquelas putinhas que idealizavas, não...Mieloma ama, Mieloma ama aam!

- Se mate, Nanim!

Seu Câncer Poético!



                               mieloma aam
                               João Pessoa. 07.11.2012





DANÇA MACABRA - DE CHARLES BAUDELAIRE


                    A Erneste Cristophe, estatuário


Como um vivente, arrogante de sua nobre estatura
Com o seu grande buquê, seu lenço e suas luvas,
Ela tem a indolência e a desenvoltura
De uma coquete frágil de postura extravagante.

Já se viu alguma vez num baile uma aparência mais delgada?
O seu vestido exagerado, no seu real esplendor,
Se vira abundantemente sobre um pé seco que oprime
Um sapato adornado, belo como uma flor.

O enrugado que joga à beira das clavículas,
Qual arroio lascivo esfregando-se no rochedo
Defende pudicamente das troças ridículas
Os fúnebres encantos que ela sabe ocultar.

Seus olhos profundos são feitos de vazio e trevas,
E o seu crânio, com flores artisticamente penteado,
Oscila apaticamente sobre as suas frágeis vértebras,
Oh, encanto de um nada loucamente enfeitado.

Alguns te tomarão por uma caricatura,
Sem compreender, amantes ébrios da carne,
A elegância sem nome da tua humana armadura.
Tu respondes, grande esqueleto, com todo o meu prazer!

Vens agora turvar, com a tua imponente careta,
A festa da Vida? Ou algum velho desejo,
Incentivando ainda a tua vivente carcaça,
Impulsando-te, ingenuamente, ao Sabá do Prazer?

Com o cantar dos violinos e as chamas das candeias,
Esperas expulsar o teu pesadelo burlão,
E vens implorar à corrente das orgias,
Que refresque o inferno aceso no teu coração?

Inesgotável poço de necessidade e enganos!
Da antiga dor eterno alambique!
Através do retorcido gradeado das tuas costelas
Eu vejo, ainda errante, o insaciável áspide.

Na verdade, temo que a tua coqueteria
Não alcance um preço digno de seus esforços,
Quem, entre esses corações mortais, alcança o embuste?
Os sortilégios do horror só embebedam os fortes!

O abismo dos teus olhos, cheio de horríveis pensamentos,
Exala a vertigem, e os bailarinos prudentes
Não contemplarão sem amargas náuseas
O sorriso eterno dos teus trinta e dois dentes.

Mas, quem nunca apertou em seus braços um esqueleto,
E quem nunca se nutriu de coisas sepulcrais?
Que importa o perfume, o vestido ou o penteado?
Aquele que se enoja demonstra que se crê belo.

Bailadeira sem nariz, irresistível trotadora,
Diz-lhes, pois, a estes belos bailarinos que se fingem ofuscados:
“Arrogantes galãs, apesar da arte do pó-de-arroz e do rouge,
Exalais todos a morte! Oh, esqueletos perfumados!

Antinoos murchos, janotas de rosto suave,
Cadáveres envernizados, lovelaces grisalhos,
O alvoroço universal desta dança macabra
Os arrasta até lugares então desconhecidos!

Do cais frio do Sena ao do Ganges inquieto,
Salta e desmaia agora o rebanho mortal
Ignorando a trombeta do anjo que, do teto,
Soa, sinistra e aberta, um trabuco fatal.

Em todo o clima, baixo todo o sol, a Morte te admira
Nas tuas contorções, risível Humanidade,
E com frequência, como tu, perfumando-se de mirra,
Mistura o seu sarcasmo á tua insanidade."

Charles Baudelaire
Flores do Mal
tradução não citada em http://niilismo.net/forum/viewtopic.php?t=820&sid=58cbcee01fb066c1485c4eed0cbc2a43


                                                               *            *             *


DOR

           Àlvaro Moreyra

     
Fiz noutro tempo (dela se priva
E com saudades o meu prazer)
E com dor fina, decorativa,
Especialmente para eu sofrer...

Tão desvairada, tão delirante,
Que parecia não ter mais fim...
Durou cinco anos. Durou bastante.
Uma alegria não dura assim...


             Álvaro Moreyra
             (1888 - 1964)



domingo, 4 de novembro de 2012

ás belas o que é das belas




                                                                                  

Taí um soneto - com estrambote, um verso a mais, um soneto de quinze versos; nesse caso, o estrambote caiu com perfeição, pois há algo que extravasa no soneto a seguir, é a inflação da Beleza, beleza do poema em si, beleza dos seres citados, beleza da idéia final, da moral do soneto - pois bem, taí um soneto que, se fosse o único poema que tivesse escrito, só ele (e mais alguns, reconheço, só mais alguns) me daria por satisfeito. Ele estava lá atrás, lá nos primeiros poemas do blogue, mas julguei que já era hora de tal soneto se mostrar de novo - tava muito escondidinho ali, e um poema desses tem que se mostrar.

- Ei, cadê a modéstia que devia estar aqui? - Nesse caso, seria falsa, por isso foi-se embora

Há quem classifique os humanos de várias formas, animais racionais, socais, simbólicos... O poema fala de "animais sentimentais".O mais interessante dos sentimentos é que são os afetos que podem ser modificados pela inteligência, tornando-nos pessoas melhores. Toda educação verdadeira é sentmental, ou nula, só informação; também pode ser adestramento. Os sentimentos, quando se tornam paixões, podem ser considerados patológicos, de tão intensos, pois distorcem a realidade; de certa forma, o poema defende que todo sentimento distorce minimimamente a percepção objetiva da realidade, o que talvez também seja verdade.

Deu um trabalhozinho escrever tal soneto, e o início ás vezes pode ser difícil de ser plenamente apreendido pelo senso comum. Mas eu tô bonzinho hoje, vou facilitar as coisas  O poema defende em seus primeiros oito versos que exisre um Reino dos Sentimentos. cujo soberano - o Rei - é um velho mágico chamado de Amor, e que os demais membros de tal corte, sendo citadas Dona Fé, a Senhorita Amizade,  o Senhor Ódio e Madame Amargura - havendo muito outros no Grande Reino - não nos permitem perceber, por bondade, caridade ou outra razão, que nosso existir é, digo, melhor dizendo, talvez seja - poderia ser -  sem razão e trágico, e, com a ajuda da Lady Esperança (a quem um Poeta chamou certa vez de "une folle charmante", uma louca encantadora), infla os ventos que empurram a caeravela de nossa vontade, ou seja, nos dão ânimo e força para viver;

Fui advertido agora pelas Musas de que não devia prosseguir mais  em dissertações ou tentativas de explicações a mais sobre o soneto Animais Sentimentais, entregando ao leitor o leme da caravela de sua imaginação para melhor navegar o poema.

Há ainda um segundo poema, daquele poeta da Louca Encantadora, Charles Baudelaire, Mulheres Malditas, cujo tradutor não foi informado onde o encontrei; sei que não foi Ivan Junqueira, pois conheço a tradução dele, mas gostei muito também dessa outra. Baudelaire tem dois poemas com o título Femmes Damnées, um deles, com o subtítulo Delfina e Hipólita, também belíssimo e extremamente erótico, é sobre duas lésbicas, uma experiente cantando uma neófita.Este poema Mulheres Malditas, a perdição é mais completa, a maldição aí também se dá por outras razões, alcoolismo, e até sadomasoquismo;  As duas últimas estrofes do poema de Baudelaire trazem alguns dos versos mais belos que já li sobre as mulheres, e acredito que ali ele fala do gênero em si, das mulheres em geral. No início do poema, porém, elas deitadas na areia qual rebanho de bichos, me lembra claramente a Ilha de Lesbos. Mas hoje em dia em qualquer festinha a gente vê muita coisa semelhante do poema do Mestre, as malditinhas se acabando por amor, qualquer forma de amor, que elea têm esse fraco: não vivem sem isso... O original compareceu, acompanhado.

absaam



ANIMAIS SENTIMENTAIS

Viver é se iludir! A grei dos Sentimentos
– Reino do grande Amor, o velho mágico –
transforma tudo que em nosso pensamento
nos mostre ser o existir inútil e trágico.

A força que há na Fé, o mel da Amizade,
o veneno do Ódio, o fel da Amargura,
empurram a caravela de nossa Vontade
com o ar da Esperança – mais saudável loucura!

E quais são dentre nós, caros irmãos insanos,
os que mais se iludem, os loucos mais humanos?
– As mulheres, leitor, de soluçante peito!...

Seus corpos são a forma e o barro da Beleza,
em cuja alma medra um sonho de nobreza
tão grande que a ilusão deixa de ser defeito.

E o Poeta as ama com profundo respeito!


      
                    Antônio Adriano de Medeiros






MULHERES MALDITAS


                 Charles Baudelaire


Como um gado pensante e na areia deitadas,
Voltam os olhos seus ao mais longe do mar,
E seus próximos pés e suas mãos coladas
Têm langor de sorrir e tremor de chorar.

Umas, o coração cheio de confidência,
Num bosque em que a cantar os ribeiros se movem,
Vão soletrando o Amor da ingênua adolescência,
O ramo a descascar de algum arbusto jovem;

Outras, são como irmãs, andam lentas e flavas
Das rochas através, plenas de aparições,
Onde viu Santo Antônio arderem como lavas
Os rubros seios nus de suas tentações;

Outras há, que ao fulgor da líquida resina,
No silêncio abissal de velho antro pagão,
Chamam para aliviar a febre que alucina
Baco, o deus que adormece o remorso e a ilusão!

E outras, cuja garganta ama os escapulários,
Sabem em sua roupa um chicote esconder,
E misturam na noite, em bosques solitários,
As lágrimas da dor e a espuma do prazer.

Ó monstros do martírio, ó sombras virginais!
Almas a desprezar a pobre realidade,
Com sexo e devoção, o infinito buscais,
Estrangulada a voz de lamento e saudade,

Que na cripta infernal tanto buscou minha alma,
Pobres irmãs a um tempo eu vos amo e respeito
Por vossa sede em vão e por vossa dor calma,
E estas urnas de amor que vos inundam o peito.

               Charles Baudelaire.
               flores do mal              
               tradução não informada
               http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/charles-baudelaire/mulheres-malditas.php

Femmes damnées


Comme un bétail pensif sur le sable couchées,
Elles tournent leurs yeux vers l'horizon des mers,
Et leurs pieds se cherchant et leurs mains rapprochées
Ont de douces langueurs et des frissons amers.


Les unes, coeurs épris des longues confidences,
Dans le fond des bosquets où jasent les ruisseaux,
Vont épelant l'amour des craintives enfances
Et creusent le bois vert des jeunes arbrisseaux;


D'autres, comme des soeurs, marchent lentes et graves
À travers les rochers pleins d'apparitions,
Où saint Antoine a vu surgir comme des laves
Les seins nus et pourprés de ses tentations;


II en est, aux lueurs des résines croulantes,
Qui dans le creux muet des vieux antres païens
T'appellent au secours de leurs fièvres hurlantes,
Ô Bacchus, endormeur des remords anciens!


Et d'autres, dont la gorge aime les scapulaires,
Qui, recélant un fouet sous leurs longs vêtements,
Mêlent, dans le bois sombre et les nuits solitaires,
L'écume du plaisir aux larmes des tourments.


Ô vierges, ô démons, ô monstres, ô martyres,
De la réalité grands esprits contempteurs,
Chercheuses d'infini, dévotes et satyres,
Tantôt pleines de cris, tantôt pleines de pleurs,


Vous que dans votre enfer mon âme a poursuivies,
Pauvres soeurs, je vous aime autant que je vous plains,
Pour vos mornes douleurs, vos soifs inassouvies,
Et les urnes d'amour dont vos grands coeurs sont pleins


Charles Baudelaire, Fleurs du Mal


Damned Women

                Baudelaire

Lying on the sand like ruminating cattle,
They turn their eyes toward the horizon of the sea,
And their clasped hands and their feet which seek the other's
Know both sweet languor and shudders of pain.


Some, whose hearts grew amorous from long confessions,
In the depth of the woods, among the babbling brooks,
Spell out the love of their timid adolescence
By carving the green wood of young saplings;


Others, like sisters, walk gravely and with slow steps
Among the high rocks peopled with apparitions,
Where Saint Anthony saw the naked, purple breasts
Of his temptations rise up like lava;


There are some who by the light of crumbling resin
In the silent void of the old pagan caverns
Call out for help from their screaming fevers to you
O Bacchus, who lull to sleep the ancient remorse!


And others, whose breasts love the feel of scapulars,
Who, concealing a whip under their long habits,
Mingle, in the dark woods and solitary nights,
The froth of pleasure with tears of torment.


O virgins, O demons, O monsters, O martyrs,
Great spirits, contemptuous of reality,
Seekers of the infinite, pious and satyric,
Sometimes full of cries, sometimes full of tears,


You whom my spirit has followed into your hell,
Poor sisters, I love you as much as I pity you,
For your gloomy sorrows, your unsatisfied thirsts,
And the urns of love with which your great hearts are filled!


— William Aggeler, The Flowers of Evil (Fresno, CA: Academy Library Guild, 1954)



sábado, 3 de novembro de 2012

aquela sopada - poemas com ossos




                                                                               
                                                                               



Em virtude de um notável alívio das terríveis dores que me acometiam o  sofrido corpo (mormente ossos e o baço) em que a luz opaca de meu espírito fez morada - vez em quando emitindo porém luzes de um brilho singular - alívio bastante salutar e restaurador - pelo que com humildade agradeço ao Misericordioso - ó, meus distintos comensais deste banquete de palavras sugestivas de imagens patéticas que se chama Poesia, apresso-me e logo lavo as mãos, ponho meu avental, busco os ingredientes, e sirvo o lauto banquete a seguir, que quisera fosse uma grande sopada, dada a presença de muitos ossos tutanosos, restauradores,

Desde já agradeço á colaboração,  descaradamente involuntária, do jovem poeta de Ribeirão Preto Daniel Francoy, que decerto voa em plagas amenas, de quem tomei a liberdade de servir um Poema como sobremesa, naturalmente o derradeiro poema, sabedor que sou que uma sobremesa saborosa sempre cai bem e é suportada mesmo após um banquete pesado - que não é o caaso, há uma passagem de lirismo singular na sopada, como no final do poema Na contemplação da Dança macabra, e ainda a rara beleza do Soneto a um poeta desconhecido.

Eu rogo, de joelhos se necessário for, á leitora amiga que já se apressa em fugir, deixando os pobres esqueletos de palavras que são os poemas escritos, sem receberem a liuz de seu olhar... Não faça isso, o À la Carte é só um cardápio, e, fugindo, você jamais conhcerá a minha amada, Macabrita.

Plasma é um micropoema, mas mui bem escrito; ele poderia traduzir o provérbio "água mole em pedra dura tanto bate até que fura".

Espero que tenha ficado ao gosto dos paladares mais exigentes.


absaam



À LA CARTE


Quando fores jantar, ó verme tenebroso,
o corpo que à minha alma serviu de abrigo,
saiba, ao nele cravar teus dentes em gozo,
que saboreias o corpo de um velho amigo.
E é em razão de nosso amor tão antigo
que hoje dou-te dicas para o dia glorioso
em que me devorarás os olhos e o umbigo,
a chafurdar sobre um cadáver pastoso:
Meu fígado não é carne de primeira,
e os pulmões são matéria-envenenada;
o cérebro é gordura amarga, e da caveira
a medula dos ossos sabe a sopa requentada.
- Já o coração, malgrado possa parecer-te azedo,
é de poeta, verme: podes comê-lo sem medo!


                      Antônio Adriano de Medeiros




VERSOS A UM POETA DESCONHECIDO


Aquele jovem que morreu na guerra
era poeta. Seu corpo alimentou diversos
urubus e cães, e a alma na certa erra
ainda, a clamar justiça para os perversos

inimigos que lhe ceifaram a vida
à bala, o coração espetado na baioneta
qual picanha sangrante servida
no banquete macabro do Capeta.

A terra seca não se sensibilizou
com as lágrimas da mãe, e ainda ousou
deixar alguns de seus ossos submersos.

Mas o crânio é descoberto, e quando o vento
sopra em noite de lua, tem-se o pressentimento
de se ouvir alguns fantasmas de versos.


            Antônio Adriano de Medeiros





PLASMA

Ossos sois,
ossos sós,
e ouço sóis
dilacerantes.


             Antônio Adriano de Medeiros





Na contemplação da Dança Macabra


Seria mais triste pensar
que essa montanha de tantos ossos,
alegóricos destroços
de antigos carnavais,
para sempre ficaria ali desordenada,
esquecida do magnetismo dos músculos.

Me apraz ver esqueletos ali
dançando entre flor e pedra,
saber que entre eles ainda medra
algum residuo do velho amor.


              Antônio Adriano de Medeiros



MACABRITA


Ó singular caveira da amada,
guardei-te há alguns anos já
em minha estante,
a obra mais bruta,
a jóia mais rara do meu lar.

Sei que estás me esperando.

Quando chego em casa
percebo teu sorriso reavivar-se
por um vão momento,
enquanto minha silhueta
adentra à sala
com um bafejo de ar
e de fumaça.

Me lembra o cão que adoro tanto.

Contigo aprendi,
com teu orgulho ainda de mortal
- justo, porque tu és sempre tão bela! -
que algo maior talvez paire
além dos corpos molhados e gasosos,
elásticos mas que encerram
um quê de concreta perenidade
na armação dos ossos.

Ou iria o amor apodrecer nos músculos?

- E ela, Macabrita meu amor,
parece rir-se agora de mim
que então me desespero,
pois sei o que seu riso quer dizer
que os tristes, frágeis ossos
que me sustêm, são pedra e nada mais.

Da mesma pedra onde brota o musgo.


           Antônio Adriano de Medeiros




                                        UM POEMA DE DANIEL FRANCOY



POEMA

Mais de uma vez tenho-me insurgido
contra os olhos que ávidos indagam
então não almejas esses carros, essa mulher
coberta de jóias, e mais roupas de grife
e uma casa no campo e outra na praia?
Olhar a fortuna alheia sem cobiçá-la
é algo que não se pode conceber.
Ensina-se o oposto nas escolas, nas igrejas.

Ana de olhos verdes e sorrisos maliciosos,
alunos que aspiram reinos ocos,
docentes estéreis e senis,
falsos artistas que por um segundo de fama
são pedidores de esmolas,
famílias que se apertam em mesas fartas
e discutem política e defendem
esterilidade para os pobres,
guilhotinas para os marginais,
e aulas de balé e inglês para os bem nascidos.
Olho todo essa gente e me indago
onde estão cantigas de mal-dizer e de escárnio,
onde está Dante, que há de condená-los
ao inferno onde alvejam os ossos
que foram de papas, reis, nobres adúlteras
e outros que foram prósperos em sua época.

Daniel Francoy

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Das perseguidas e mais Memórias do Sertão




 um pé de amendoim, raridade da Barra dos Louros

Está tudo bem. Seguem dois escritos, um poema de hoje, e mais lembranças de velhos amigos e dos bons tempos de menino e adoolescente no sertão.
absaam 
MULTIDISCIPLINADA


Desde os tempos dos velhos deuses
caldeus, egípcios e gregos
que se conhece seu desejo sexual atávico
pelas mulheres dos mortais - Cisne, Touro, Bode,
tantas vezes com sua aparência verdadeira,
copularam, emprenharam, violaram, amaram
Lêda, Côronis, Pasífae, Ariadne, Sêmele
e tantas outras, amadas, queimadas, desgraçadas.

Depois ficaram só Satã e Deus.
Viram Eva, um a seduziu.
Depois, o Outro a Maria.
E ficaram ciosos de suas posses.

Mas a Danada é tão cheia de vida
e de amor para dar,
que mesmo tendo o rabo preso com o Diabo,
e a flor da vida sendo leito e morada de Deus,
ainda faz maravilhas com aquela boca.


                             Antônio Adriano de Medeiors
                JP  02.11.2012






                                              MEMÓRIAS DO SERTÃO DO SERIDÓ



DE CHICO MARRECA E MANÉ FURUCUTEU


Acredito - Por que não? - que aquele sotaque tivesse sua origem não num castigo, que fiéis cristãos eram e ainda são os que restam da linhagem, mas numa advertência do Criador, baseado numa suposta transgressão a uma advertência do Gênesis, a saber, o episódio do Bezerro de Ouro. Sim, porque juntar Bezerra com Santos poderia suscitar, nos ouvidos onipresentes e oniscientes do cioso Deus Pai, uma lembrança do episódio ancestral perpetrado na ausência de Moisés. Ora, a matriarca era da família Bezerra, e o patriarca, alcunhado Chico Marreca por causa do formato da cabeça que lembrava a ave aquática, era da nobre estirpe Dos Santos.

Pois o que mais chamava a atenção nos filhos que surgiram dessa união era um sotaque anasaladoe gutural como eu nunca ouvi em lugar nenhum, sequer em filmes de Fellini ou dublagens de documentário ou desenho animado americanos, sotaque esse que eu menino sintetizei numa palavra, Gafum. Não há como tentar descrever aquilo, só quem ouviu, mas, não sei bem o porquê, a palavra Gafum virou sinônimo dele entre amigos e familiares. A última sílaba era sempre bastante grave, e a melodia da voz era algo entre triste e extremamente cômico.

Meu bom pai, por razões comerciais, tinha ligações com homens do campo, e a família Bezerra teve um gerente da loja nos anos 60 que se deu bem na vida depois de vir da zona rural, e terminou indo morar em Brasília. Os pais e irmãos do dito gerente ficaram morando numa das casas de meu pai por mais de dez anos ainda, e foi também nessa casa, que ficava na minha rua, que conheci Mané  Furucuteu.

Os meninos da rua sertaneja, digo da rua principal, da Praça como chamam, são bem mais terríveis que os da cidade grande. O chamado Bullying, esse assédio moral, esse amedrontamento que os americanos perceberam nas escolas, é muito mais selvagem ali. Assim sendo, o filho caçula dos Bezerra dos Santos, que mais tarde passou  a ser chamado de Marrequinha, quando manifestou-se como um ser vivente nas ruas da Santa Luzia dos anos 70 há pouco passados ganhou, também por conta do sotaque, acredito, o vergonhoso apelido de Mané Furucuteu.

Eu tinha meus dez anos de idade, talvez até nove, e na minha ingenuidade, nem notei que era um apelido de mau gosto, e o tratava normal e amigavelmente de Mané Furucuteu. Pra mim era um nome como qualquer outro. Só aos poucos fui notando que sempre que pronunciava aquele nome, Mané Furucuteu colocava o punho da mão direita sobre o umbigo com o indicador voltado para mim, e perguntava:

- Fura o cu de quem?

Era como se, magicamente, com aquela postura defensiva,  a minha expressão reverberasse em seu ser e saísse através de seu dedo indicador para mim apontado e... Bom, não precisa explicar.

O fato é que alguns anos depois, precisamente no ano de 1976, após um entendimento entre meu pai e Chico Marreca, Mané Furucuteu, que então já se tornara o adolescente Marrequinha, foi morar em minha distinta casa, para ajudar a meu pai na loja e na Banca de Bicho. Más línguas afirmaram posteriormente que tal empreitatada fora na verdade um ardil de meu irmão bem mais velho, o primeiro filho homem, com o intuito de afastar a mim e a meu outro irmão caçula dos negócios, mas isso não vem ao caso agora, embora não possa deixar de ser citado para que se saiba que coisas semelhantes não ocorreram só em ilustres famílias de Roma e de Londres.

A chegada de Marrequinha teve de proveitoso muita coisa, e é só dessas que pretendo falar. Primeiro, fiquei com tempo livre integral pra brincar, estudar e ler, só sendo obrigado a trabalhar nos sábados, quando era resposável pelo caixa da loja no dia da feira. Segundo, despertei pra coisas como caçar com espigarda, ouvir jogo de futebol pela Rádio Globo, e colecionar a Revista Placar - Marrequinha era e é ainda torcedor fanático do Vasco, e eu até o acompanhei por um tempo, mas logo mudei pro Fluminense. Mas o melhor foi que pude conhecer a Fazenda Barra dos Louros, de Chico Marreca, e outras de vizinhos como a grande Fazenda de Seu Severino Anísio - que Deus o tenha! -, podendo ter ali vivido manhãs inequecíveis acordando com o barulho do gado de manhã bem cedinho na hora de tirar o leite, o sol nascendo e aquele cheiro de estrume no ar, tomando banho de rio, e, o que para mim foi algo fantástico, conhecendo o pé-de-amendoim e podendo comer amendoim verdinho colhido na hora; não se compara o sabor de amendoim verde nem mesmo com ele cru já maduro, imagine então com o torrado.

Devido à boa acolhida que o Caçula da estirpe Bezerra dos Santos teve em minha modesta casa, também nós éramos recebidos com festa na Barra dos Louros - nome que, me disse o patriarca, se devia ao fato de por lá aparecerem amiúde marocas e louros. Hoje me arrependo de não ter ido mais vezes ali. Ao chegarmos, todos se reuniam na sala, e o sotaque carregado lembrava uma tempestade de roncos e trovões gentis. E tome causos e mais causos. Geralmente se debochava de primos que não sabiam falar direito, e sempre me contavam a história do primo que confundia "Garanto"  com "Caranto"

- Eu caranto que... - e todos caíam na risada.

Tinha um que exagerava e jurava que o tal primo teria dito

- Eu cagaranto que... - e tome gargalhadas.

Uma das irmãs, a mais velha, gentilíssima, sempre me saudava com beijinhos, pra mostar que era uma pessoa civilizada, professora que era.

O almoço era ótimo, feijão verde, arroz de leite, farofa, galinha, carne de sol, jerimum... Na época de chuva tinha a curimatã ovada. A trilha sonora ficava a cargo da Rádio Rural de Caicó ou, mais raramete, da Espinharas de Patos.

Lembro do episódio do jipe. Chico Marreca comprara um jipe recentemente e fomos pra uma missa que teve lá, num alto das redondezas. Aconteceu porém que o bom Seu Chico, ainda sem muito hábito com a nova aquisição, esqueceu o seu veículo automotor em ponto morto lá em cima do alto... A coisa aconteceu quando entrávamos na capela: de repente vi Seu Chico e a filharada correndo em desespero atrás da preciosa aquisição, aos gritos de - "Pare, seu fii duma égua!"  e mais outros impropérios que certamente se dirige contra jumento doido ou rês em disparada, mas o danado do jipe já ia longe e não tava nem aí pro desespero de quem lhe dava gasolina, óleo e água, que as máquinas são muito insensíveis, e seguiu em disparada. Acredito que foi o fato de termos ido à uma missa que fez a mão do Criador guiar o jipe pra uma lateral da estrada onde havia um barranco, e lá caiu o teimoso e mau comportado jegue mecânico. Todavia, precisou de que outro jipe viesse tirá-lo do buraco, o que demorou várias horas.

Mas bom mesmo era quando outro irmão meu ia, o segundo filho, o Doutor. Era bioquímico e tinha um laboratório na cidade, e portanto era um Doutor. Não sei se sabe o leitor da metrópole, o povo bom  e simples da zona rural, pelo menos no sertão, não sei se por temor ou afeição, adora presentear doutores com raridades, ou vender bem barato a preço de banana objetos antigos, coisas que vinham na família há muito tempo. E quando o Doutor ia a recepção não ficava só com os donos e os filhs da casa de Chico Marreca, vinha também os primos da vizinhança, inclusive Dona Amélia, Bezerra braba, mãe daquele ex-gerente da loja de meu pai que foi pra Brasília, e que era mui grata também principalmente a meus irmãos mais velhos, contemporâneos de seu filho como eu fui de Marrequiinha.

E o Doutor sempre voltava pra casa com uma imagem de santo de madeira, um par de arreio de vaqueiro, um chapéu de couro, ou coisa semelhante. Mas naquele dia ele pediu alto, sem saber que iria mexer com algo que fora objeto de forte discussão de herança quando da morte do pai de Dona Amélia, Bezerra braba, cunhada de Chico Marreca. Demonstrou interesse pela mesa da sala de jantar da Barra dos Louros, mesona pra dez pessoas, de madeira nobre, gavetas, o escambau.

- Que mesa bonita, Seu Chico: quem lhe deu?

- Quem me deu essa mesa foi meu sogro...

Leitor, eu ouvi. Vou colocar umas barras na frase como a separar versos de um poema ou canção, porque a frase que Dona Amélia bradou em resposta, ameaçadora, foi terrívelmente poética ou musical, e pôs fim à visita na mesma hora:

- Essa mesa na foi dada,/ essa mesa foi roubada!/ Mas tem gente/ que tá planejando/ se armar de machado e vir quebrar ela todinha!

Água mole em pedra dura tanto bate até que fura: sei que a mesa hoje tá aqui em Tambaú, na casa da viúva daquele meu irmão, o Doutor. Inteirinha.



                                             Antônio Adriano de Medeiros
                                             João Pessoa, 06.11.2010